Índia: pessoas que se curaram da Covid-19 desenvolvem mucormicose, a "doença do fungo preto"
A Índia sofre há semanas com uma segunda onda devastadora da Covid-19. Como se não bastasse, entre as pessoas que se recuperaram, um novo flagelo vem sendo detectado, chamado de "a doença do fungo preto".
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Sébastien Farcis, correspondente da RFI em Nova Délhi
Tudo começa com dores de cabeça e vermelhidão nos olhos. Rapidamente, uma mancha preta se espalha pela córnea. Esses são sintomas de um fungo responsável por uma doença chamada de mucormicose.
Em poucos dias, o flagelo pode tomar o rosto inteiro. Em alguns casos, os médicos são obrigados a retirar os olhos ou até mesmo uma parte da mandíbula das pessoas atingidas pelo "fungo preto".
A doença pode ser fatal, especialmente se ela chegar ao cérebro. Centenas de casos de mucormicose vem sendo registrados por dia na Índia. O motivo: tratamentos inadequados contra a Covid-19.
"A principal razão é a utilização abusiva de esteroides e de antibióticos por via intravenosa", explica o médico-cirugião Arvind Singh Soin, do hospital Medanta, em Gurgaon. "Quando você mata as bactérias desta forma, você favorece a propagação do fungo", reitera.
No entanto, esse não é o único motivo, ressalta o especialista, em entrevista à RFI. "Uma outra razão é a falta de higiene durante a intubação, com a utilização de máscaras ou tubos sujos, por exemplo", diz. Segundo Soin, o fungo se propaga especialmente em pessoas que sofrem de diabetes, mas não se tratam.
Em termos de quantidade, os casos de "fungo preto" ainda são raros: algumas centenas foram registrados entre o total de 10 milhões de casos de Covid-19 registrados em apenas um mês no país. No entanto, a multiplicação da doença preocupa os médicos, sobretudo porque o remédio antifúngico utilizado para combater a mucormicose já está em falta em algumas das maiores cidades da Índia.
Novo recorde de mortes
Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia registrou nesta quarta-feira (19) um novo recorde de mortes por Covid-19: 4.529 óbitos em 24 horas. No mesmo período, foram contabilizados 267.334 novos casos. Com isso, o balanço total da epidemia no país é de mais de 25 milhões de infecções e 283.248 mortos.
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