Após acusar Israel de ataque a fábrica, Irã anuncia que vai enriquecer urânio a 60%
O Irã avisou nesta terça-feira (13) que começará a enriquecer urânio a 60%. O anúncio é feito dias após uma explosão danificar uma fábrica de refinamento de urânio em Natanz, no centro do país. Teerã acusa Israel de ser responsável pelo ataque.
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O vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, comunicou em uma carta a Rafael Grossi, diretor executivo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que o Irã está enriquecendo o isótopo 235 de urânio a um nível muito acima do limite de estabelecido no acordo de 2015. A informação é da agência oficial de notícias Irna.
Em sua carta, Araghchi também declara que "1.000 centrífugas adicionais com uma capacidade 50% maior serão somadas às máquinas presentes em Natanz, além de substituírem aquelas que foram danificadas" na explosão de domingo (11) nesse complexo nuclear do centro do país, explicou a Irna.
Um refinamento de 60% colocaria o país em posição de ir rapidamente para 90% ou mais, nível necessário para o uso desse mineral para fins militares. A República Islâmica sempre negou querer produzir a arma nuclear, argumentando que sua moral e sua religião a proíbem. Israel sempre disse o contrário.
A AIEA confirmou que o Irã a comunicou que pretende enriquecer o urânio a 60%, uma decisão que a Casa Branca classificou como uma "provocação", apesar de ter garantido que deseja continuar com as negociações. "Com certeza estamos preocupados com esses anúncios provocadores", declarou a secretária de imprensa do presidente Joe Biden, Jen Psaki. "Acreditamos que o caminho diplomático é o único a ser tomado neste caso e que sustentar uma discussão, apesar de indireta, é a melhor forma de encontrar uma solução", acrescentou.
A França "condenou" claramente a decisão do Irã e afirmou que requer "uma resposta coordenada" dos países envolvidos nas negociações sobre o programa nuclear iraniano.
Retomada de negociações em Viena
Teerã acusou Israel de ter sabotado a central de enriquecimento de urânio de Natanz, no momento em que acontecem negociações em Viena para tentar salvar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado na capital austríaca em 2015, esvaziado desde que Donald Trump abandonou o texto e lançou sanções contra Teerã, em 2018. "Pensaram que o que fizeram em Natanz seria em desvantagem do Irã... Eu garanto que em um futuro próximo Natanz vai passar a centrífugas mais aperfeiçoadas. Os israelenses fizeram uma aposta ruim", declarou ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Javad Zarif.
As discussões em Viena reúnem o Irã e as grandes potências que permanecem no acordo (Alemanha, China, França, Reino Unido, Irã e Rússia), com a mediação da UE. O governo dos Estados Unidos participa, mas sem contato direto com os iranianos. Joe Biden, que sucedeu Trump em janeiro, expressou a intenção de retornar ao acordo de Viena.
Como represália ao restabelecimento das sanções por parte dos Estados Unidos ao se retirarem do acordo, desde 2019 o Irã se afastou da maioria dos compromissos cruciais que assumiu em Viena para limitar suas atividades nucleares.
"Mão direita não sabe o que faz a esquerda"
Os anúncios chegaram horas depois de o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, se reunir com o chefe da diplomacia russo Serguei Lavrov, em Teerã. O representante de Moscou voltou a pedir ao governo dos Estados Unidos que retire as sanções adotadas contra o Irã desde sua saída do acordo. “Esperamos que seja possível preservar o Plano de Ação Integral Conjunto e que Washington retorne finalmente", disse Lavrov, ao lado Zarif.
O chanceler russo também aproveitou a ocasião para criticar as recentes sanções da União Europeia (UE) ao Irã que, no seu entender, prejudicam as negociações. Na segunda-feira (12), a UE adicionou oito funcionários do governo iraniano à lista de pessoas punidas com sanções por sua participação na repressão aos protestos de 2019.
"Na UE não há nenhuma coordenação, a mão direita não sabe o que faz a esquerda. É lamentável", disse Lavrov. "Se esta decisão foi tomada de maneira voluntária em plena negociação em Viena para salvar [o acordo sobre o programa nuclear iraniano], então é ainda mais lamentável. É um erro que seria pior que um crime", completou.
(Com informações da AFP)
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