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ONU condena repressão a manifestações contra golpe em Mianmar

A ONU condenou nesta terça-feira (9) o uso "desproporcional" da força contra manifestantes que se opõem ao golpe de 1º de fevereiro em Mianmar. Segundo a Nações Unidas, "muitos manifestantes ficaram feridos, alguns gravemente" depois que a polícia disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo para conter os protestos.

Polícia de Mianmar reprime, com jatos de água, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha, protestos contra o golpe de Estado.
Polícia de Mianmar reprime, com jatos de água, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha, protestos contra o golpe de Estado. REUTERS - STRINGER
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"O uso desproporcional da força contra os manifestantes é inaceitável", disse Ola Almgren, coordenador residente das Nações Unidas em Mianmar, em um comunicado. "Muitos manifestantes ficaram feridos, alguns gravemente, segundo relatos recebidos de várias cidades do país", acrescentou.

Até agora, é impossível obter uma estimativa do número de feridos nos hospitais. Mas a tensão aumentou nesta terça-feira, após o Exército ter claramente ameaçado os manifestantes com represálias no dia anterior.

Capital construída na selva

Em Naypyidaw, a capital construída pela junta no coração da selva, “a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes”, segundo um morador. “Meu filho levou um tiro ao tentar usar um megafone para pedir às pessoas que se manifestassem pacificamente”, disse Tun Wai, um ourives de 56 anos. "Estou muito preocupado".

Mais cedo, as forças de ordem atiraram repetidamente fortes jatos de água contra um pequeno grupo de manifestantes que se recusaram a se afastar de um bloqueio policial.

Em Mandalay (centro), a segunda maior cidade do país, a polícia lançou gás lacrimogêneo "contra os militantes que agitavam bandeiras da Liga Nacional pela Democracia", partido de Aung San Suu Kyi.

Proibição de reunião de mais de 5 pessoas

As autoridades proibiram reuniões de mais de cinco pessoas em Yangon, Napypidaw e outras cidades desde segunda-feira (8) à noite. Foi declarado toque de recolher e os manifestantes se dispersaram no início da noite.

“Devem ser tomadas medidas contra os atos que perturbam, impedem e destroem a estabilidade do Estado”, advertiu a televisão estatal ao reagir ao movimento de rebelião que agita o país. Enfrentando as ameaças dos militares, os manifestantes voltaram às ruas nesta terça-feira, pelo quarto dia consecutivo. Mas as multidões eram menores do que nos dias anteriores.

Em Yangon, os manifestantes se reuniram perto da sede do LND com faixas onde se lia: "Abaixo a ditadura!", "Queremos a nossa líder!", em referênca a Suu Kyi, mantida incomunicável desde sua detenção em 1º de fevereiro. A ex-líder estaria "com boa saúde", em prisão domiciliar em Naypyidaw, segundo seu partido.

Em outra parte da cidade, dezenas de professores marcharam, saudando-se com três dedos, como símbolo de resistência."Estamos consternados, mas estamos mais preocupados com o futuro de nossos filhos", disse a professora Khin Thida Nyein.

Novos ventos de protesto

Nos últimos dias, centenas de milhares de manifestantes marcharam por todo o país, exigindo a libertação dos detidos, o fim da ditadura e a abolição da Constituição de 2008, que é muito favorável ao exército.

Os protestos são sem precedentes desde a revolta popular de 2007, a "Revolução de Açafrão" liderada pelos monges e violentamente reprimida pelos militares. O risco de repressão é real no país, que já viveu quase 50 anos sob o jugo dos generais desde sua independência, em 1948.

Após o golpe de Estado de 1º de fevereiro, mais de 150 pessoas - deputados, autoridades locais, ativistas - foram presos e ainda estão detidos, segundo a Associação de Assistência a Presos Políticos, com sede em Yangon.

O comandante em chefe do Exército, Min Aung Hlaing, falou pela primeira vez na noite de segunda-feira (8) no canal de TV Myawaddy, do Exército. Ele prometeu "realizar eleições livres e justas" ao final do estado de emergência de um ano e instituir um regime militar "diferente" dos anteriores.

Breve parêntese democrático

O golpe de 1º de fevereiro pôs fim a um breve parêntese democrático de uma década.

O Exército contesta a regularidade das eleições legislativas de novembro de 2020, vencidas de forma esmagadora pelo LND. Mas os observadores internacionais não constataram fraudes durante a votação.

Na realidade, os generais temiam que sua influência diminuísse após a vitória de Aung San Suu Kyi, que poderia querer mudar a Constituição.

Muito recentemente criticada pela comunidade internacional por sua passividade durante os abusos contra os muçulmanos Rohingya, a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz que ficou em prisão domiciliar por 15 anos por sua oposição à junta, continua adorada em seu país.

Comunidade internacional condena golpe

O golpe foi condenado pelos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e muitos outros países.

A Nova Zelândia anunciou a suspensão de seus contatos militares e políticos de alto nível com Mianmar, tornando-se o primeiro país a decidir pelo isolamento da junta. "Depois de anos de trabalho árduo na construção da democracia em Mianmar, acho que todo neozelandês deve se sentir arrasado ao ver isso", disse a primeira-ministra Jacinda Ardern.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU realizará uma sessão especial sobre a situação em Mianmar na sexta-feira (12). O Conselho de Segurança das Nações Unidas já pediu a libertação dos detidos.

(Com informações da AFP)

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