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Chanceler da Espanha cobra transparência de farmacêuticas no embate por milhões de vacinas

Em novo capítulo da queda de braço entre União Europeia (UE) e a AstraZeneca, a ministra das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González, cobrou transparência da indústria farmacêutica. Ela deixou claro que o desenvolvimento das vacinas em tempo recorde mundo afora jamais teria acontecido sem o aporte significativo de recursos públicos. Agora, segundo ela, é a vez de as empresas cumprirem a sua parte nos contratos, sem mencionar diretamente o nome da companhia britânica — de quem os europeus compraram 400 milhões de doses de vacinas no ano passado, e ainda não receberam.

Kianoosh Jahanpour, porta-voz da Food and Drug Administration, anunciou a possibilidade de importar a vacina AstraZeneca de países como Índia e Rússia.
Kianoosh Jahanpour, porta-voz da Food and Drug Administration, anunciou a possibilidade de importar a vacina AstraZeneca de países como Índia e Rússia. © AFP
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Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

Mas González disse nome e sobrenome das empresas que considera transparente. A declaração foi feita durante painel no Fórum Econômico Mundial de Davos, que este ano foi virtual.

"Não seríamos capazes de desenvolver uma vacina em menos de um ano se não fosse pela cooperação internacional. Aliás, pública e privada!" — destacou a ministra, lembrando que os governos injetaram “uma quantidade incrível de dinheiro no setor” durante a pandemia.

A agência médica europeia aprovou nesta sexta-feira o uso da vacina Oxford Astra-Zeneka na população. Na semana passada, a empresa admitiu o atraso na entrega de 60% dos volumes combinados por problemas em fábricas dentro da UE. O bloco acusa a empresa tolo deixado para trás, uma vez que o Reino Unido já teria recebido milhões de doses.

A ministra criticou o chamado "nacionalismo da vacina", como está sendo chamada a corrida por imunizantes, sobretudo entre os países desenvolvidos, que já compraram mais de 8 bilhões de doses.

"O nacionalismo das vacinas não é bom. Mas não vai nos ajudar tampouco que as companhias farmacêuticas, quero dizer algumas delas, não respeitem os contratos que assinaram. É preciso os próximos meses é continuar com o espírito de parcerias pública e privada, com governos injetando recursos e com empresas privadas, as farmacêuticas, garantindo que as vacinas cheguem a quem já pagou por elas, cumprindo com suas obrigações", disse a ministra.

Arancha González reconheceu que alguns atrasos são inevitáveis, mas destacou que precisam ser explicados com transparência, como teriam feito a Pfizer e a Moderna, e cobrou o mesmo comportamento de todas as companhias do setor.

Laya ressaltou que o comércio internacional terá um papel importante no processo de recuperação da economia global, como aconteceu após crise financeira de 2008. Ela defendeu a abertura de mercados e regras claras e justas para todos, que estejam “calibradas com a realidade do comércio internacional de hoje”. E destacou a importância de se atualizarem as regras sobretudo no contexto do comércio digital internacional, que "explodiu" durante o pandemia.

Ernesto Araújo quer "premiar as democracias" em Davos

Já o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, que também participou do painel, voltou a defender reformas na Organização Mundial de Comércio (OMC), cobrou o fim dos subsídios que distorcem a competitividade dos países e afirmou que o sistema de comércio internacional deve priorizar as democracias.

"Algumas vezes, vê-se no mundo que, se você joga dentro da regras, ou se abre a economia, como o Brasil fez, você é punido. Mas se mantém subsídios e não respeita as regras, é premiado. Temos que evitar isso. Preciso de um sistema internacional que premie as democracias", disse, completando: "Não que venha a punir ninguém. Mas que premie países que se abrem e que querem liberdades fundamentais, de expressão, econômica", declarou.

Ele foi cauteloso com as menções à China, mas não disfarçou as críticas contra o país que é o maior parceiro comercial do Brasil. "Se olhamos para os anos 1990 e 2000, quando a China virou um grande parceiro e foi trazida para sistema de comércio multilateral, a ideia era de que se tornaria parecida com o Ocidente. Isso não aconteceu, claro. O Ocidente ficou mais parecido com a China. Ninguém quer mudar a China. Mas também não devemos mudar nossos modelos de sociedade e economia de certas formas como aconteceu”, afirmou.

Perguntado pelo presidente do FEM, Borge Brende, sobre as relações do Brasil com a nova administração do governo americano, Araújo afirmou que gostaria que estivesse calcada no "conceito de liberdade”.

"Qualquer mudança nos EUA é imensamente importante para nós e para o mundo todo". Precisamos que os Estados Unidos permaneçam uma superpotência da liberdade, que siga mantendo seu papel no mundo”, disse.

"Tecno-totalitarismo", chanceler brasileiro se lança na filosofia política

Ele ainda destacou que a democracia está diante de grandes desafios, sobretudo do que chamou de “tecno-totalitarismo". “Especialmente a conexão entre crime organizado e algumas correntes políticas na região (na América Latina). No mundo, também vemos desafios à democracia. Vemos a ascensão de uma espécie de tecno-totalitarismo. Não é uma questão de China contra Estados Unidos, ou Estados Unidos contra a China. É uma questão de diferentes modelos de sociedades que emergiram com novas tecnologias”, disse.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, que estaria em um painel sobre comércio exterior em seguida, cancelou de última hora a sua participação. O evento constava da agenda do ministro e a da programação do fórum

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