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Linha Direta

Sem Olimpíadas, Japão quer incentivar turismo, apesar de retomada da Covid-19

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Desde o fim de junho, o arquipélago registra mais de 100 novos diagnósticos positivos do coronavírus por dia. Apesar do recorde de infecções, o governo japonês lançou o programa “Go To Travel” para impulsionar viagens domésticas, criando o temor de uma nova onda de contaminação nas províncias.

A capital japonesa agora atravessa mais uma onda de infecções do novo coronavírus.
A capital japonesa agora atravessa mais uma onda de infecções do novo coronavírus. AP - Eugene Hoshiko
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Juliana Sayuri, correspondente da RFI no Japão

Antes da epidemia, a capital japonesa esperava receber 40 milhões de turistas a partir desta sexta-feira (24), data de início dos Jogos Olímpicos de Tóquio no calendário original. Entretanto, a realidade da pandemia global de Covid-19 frustrou todas as expectativas: o evento foi adiado para 2021, as fronteiras foram fechadas para 129 países e Tóquio atravessa mais uma onda de infecções do novo coronavírus.

A retomada epidêmica era esperada por especialistas até a descoberta de uma vacina ou de um medicamento eficaz. No entanto, teme-se que as novas ondas sejam maiores e mais abrangentes, alastrando o vírus para áreas onde o surto estava sob controle. 

Para aquecer o mercado, o governo federal investiu 1,35 trilhão de ienes (o equivalente a R$ 65 milhões) para incentivar o turismo doméstico no programa “Go To Travel”, que subsidia descontos de cerca de 35% nas despesas dos viajantes em julho e agosto, além de prever vales e cupons para atrações turísticas em setembro – ao todo, os descontos podem chegar a 50%. A iniciativa federal despertou discussões entre governadores, que pediram para adiá-la ou restringi-la a certas regiões. Criticada na internet, a ação está sendo apelidada de “Go To Trouble”.

Tóquio fora

Tóquio ficou de fora da campanha devido à alta da Covid-19: foram 366 novos casos no dia 23 de julho, um recorde desde o início do surto no Japão. Foram confirmadas 981 contaminações nas províncias japonesas nas últimas 24 horas. Ao todo, o país contabiliza 28 mil casos e 1.005 mortes.

O arquipélago ficou em estado de emergência nacional entre abril e maio e declarou o surto sob controle em junho. Agora as autoridades voltaram a dar o sinal de alerta. A governadora de Tóquio, Yuriko Koike, pediu à população que evitasse saídas desnecessárias de casa e elevou o alerta da pandemia para o nível 4, o mais alto. “A campanha já começou [nas outras províncias], mas peço aos residentes de Tóquio que evitem sair o máximo possível”, declarou.

Há contradições, portanto, nas diretrizes e discursos: de um lado, a campanha nacional “vá viajar”; de outro, a mensagem internacional “fique em casa”. O governador de Aichi, Hideaki Omura, por exemplo, pediu à população que evitasse as viagens para Tóquio. Aichi registrou 53 novos casos no dia 21 de julho. “A segunda onda chegou”, definiu.

Neste verão, às vésperas dos festivais de agosto, um feriado prolongado em que é esperado um alto fluxo de viajantes das capitais ao interior, também se discute o risco de disseminação do vírus em áreas rurais, que não têm estrutura equivalente às das metrópoles, como Tóquio e Osaka.

Tóquio-2021

O próximo verão já traz outras preocupações. Ainda há dúvidas e incertezas sobre a realização das Olimpíadas, oficialmente remarcadas para 23 de julho a 8 de agosto de 2021. Os Jogos Paralímpicos, por sua vez, ficaram para 24 de agosto a 5 de setembro de 2021.  

“Imagine o mundo daqui um ano”, disse a nadadora japonesa Rikako Ikee, em uma cerimônia simbólica, breve e discreta, no Estádio Olímpico, em uma mensagem para marcar a contagem regressiva de um ano para o início dos Jogos.

Gráfico de 24-07-20
Gráfico de 24-07-20 © Covid19 Japan

A proposta é realizar “um festival de esperança, resiliência e solidariedade”, definiu o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach. Mas a expectativa dos japoneses é diferente. Segundo uma enquete do diário japonês Asahi Shimbun de fins de junho, 59% dos entrevistados disseram desejar que os jogos fossem adiados de novo ou de fato cancelados.

Outra pesquisa, publicada neste mês pela agência japonesa Kyodo, mostra que apenas 23,9% dos entrevistados endossam a realização dos Jogos; 36,4% defendem outro adiamento e 33,7% declararam que seria melhor cancelá-los de vez, pois a pandemia não seria controlada a tempo.

A realidade ainda é incerta: os organizadores do jogos olímpicos sinalizaram que um novo adiamento não é uma opção no momento, isto é, se o evento não acontecer em julho de 2021, talvez não aconteça mais.

“É difícil esperar que a pandemia seja contida. Se conseguirmos realizar os Jogos apesar da Covid-19, Tóquio será um modelo para as próximas edições. Espero fortemente que isso deixe uma marca. Isso se tornará um legado para a história da humanidade”, disse o diretor-executivo do comitê de Tóquio, Toshiro Muto

 

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