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Influenciadoras do Tik Tok são perseguidas pelas autoridades no Egito

Desde que o presidente Abdel Fattah al-Sissi assumiu o poder no Egito, em 2014, centenas de jornalistas, militantes políticos, advogados e intelectuais foram presos e vários sites foram bloqueados. O governo alega que se trata de medidas de segurança, enquanto seus opositores e ONGs de defesa dos direitos humanos denunciam atos de censura e repressão. Os novos alvos do sistema são as jovens que usam o aplicativo Tik Tok. Influenciadoras, muitas delas adolescentes, são acusadas de imoralidade.  

As influenciadoras Mawada Al-Adham e Haneen Hossam (d) foram detidas acusadas de imoralidade
As influenciadoras Mawada Al-Adham e Haneen Hossam (d) foram detidas acusadas de imoralidade © Captura Instagram
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O mundo dos influenciadores vinha sendo poupado até agora pelas autoridades do Egito, país muçulmano conservador onde menos da metade da população tem acesso à internet. Mas desde abril, a situação começou a mudar.

O estopim foi um post de Haneen Hossam, uma influenciadora como cerca de um milhão de seguidores no Tik Tok, aplicativo apreciado principalmente por adolescentes. Na mensagem, ela anuncia que as meninas do país poderiam ganhar muito dinheiro trabalhando nas redes sociais. “Vocês vão conhecer pessoas e farão amigos” virtuais, disse a jovem, que aparece com a cabeça coberta com um véu. “A coisa mais importante para mim é a reputação”, diz Haneen, explicando que em função do número de cliques, as jovens poderiam ganhar até milhares de dólares.

O que Haneen fez não é muito diferente do que os influenciares fazem pelo mundo afora. Mas em um regime egípcio cada vez mais repressivo, a jovem foi acusada de promover atividades de prostituição e foi presa em 21 de abril. Ela foi libertada esta semana após pagamento de fiança, mas foi detida novamente, sob a acusação de que “novas provas” de imoralidade haviam sido encontradas.

Em maio foi a vez de Mawada Al-Adham, 22 anos, outra estrela do Tik Tok e seguida por mais de dois milhões de pessoas no Instagram. Ela foi detida, como Haneen, acusada de “atacar os valores da família e da sociedade”.

A postura das autoridades, aliás, encontra defensores nas próprias redes sociais, onde internautas felicitam as punições das jovens. Comentários como “a justiça deve agir com mão de ferro com os que destroem deliberadamente nossa sociedade” são comuns após as prisões das influenciadoras.

Vítima de estupro coletivo acabou presa

Mas em alguns casos, a presença nas redes sociais pode custar bem mais do que uma temporada na prisão. Logo após a detenção de Mawada Al-Adham e Haneen Hossam, Menna Abdel-Aziz, de 17 anos, postou um vídeo no Tik Tok no qual aparece com o rosto coberto de hematomas. Ela afirma ter sido vítima de um estupro coletivo.

A polícia reconheceu que houve violência sexual. No entanto a jovem foi presa, acusada de “promoção da má conduta”. Segundo o procurador que cuidou do caso, a adolescente “cometeu crimes e merece ser punida”.

Apenas após a mobilização da ONG Egyptian Initiative for Personal Rights, que pediu que Menna fosse tratada como uma vítima, a jovem conseguiu ser transferida para um centro que acolhe vítimas de violência.

As prisões expõem a defasagem entre uma sociedade conservadora e o desenvolvimento das novas tecnologias, comenta Tarek al-Awadi, advogado egípcio especializado em direitos humanos. “Há uma revolução tecnológica em andamento e os legisladores têm que levar isso em conta”, pede, lembrando que esses episódios ferem as “liberdades individuais”.

Tradições estão acima da lei

No entanto, como ressalta Inshad Ezzeldin, sociólogo na universidade Helwan, no Cairo, no Egito, “as tradições estão acima da lei”. Segundo ele, uma reforma da legislação é necessária.

As ONGs afirmam que as prisões das influenciadoras são apenas mais uma ferramenta da política de repressão do governo. Principalmente após a aprovação, em 2018, da lei sobre imprensa e mídia, que autoriza a vigilância das redes sociais.

Mas para a feminista Ghadeer Ahmed, a detenção das influenciadores tem uma segunda leitura: quase sempre essas jovens são oriundas de classes desfavorecidas e “utilizam a internet para criar oportunidades que não seriam possíveis em seu meio social”. Para a ativista, elas são criticadas por se comportarem de uma forma “contrária ao que se espera” de mulheres vindas de classes mais pobres.

 

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