Como Brasil, França cai em ranking mundial de liberdade de imprensa
A França caiu duas posições no ranking mundial de liberdade de imprensa divulgado nesta terça-feira (21) pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), devido ao crescimento da “desconfiança e da violência contra jornalistas” no país. O Brasil também perdeu duas posições na classificação de entidade que denuncia, no país, “um clima de ódio e desconfiança alimentado pelo presidente Bolsonaro”. A RSF está preocupada com o impacto da epidemia do coronavírus na liberdade de imprensa nos próximos anos.
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Na França, o ano de 2019 foi marcado “por um aumento preocupante de ataques e pressões contra jornalistas”, ressalta o relatório anual da RSF. Os profissionais de imprensa foram alvo de ameaça da polícia ou de manifestantes, principalmente durante o movimento dos "coletes amarelos" e os protestos contra a reforma da Previdência, e não puderem exercer corretamente a cobertura dos eventos.
Outra forma de pressão na França foi o número crescente de casos de intimidação judicial que visava identificar as fontes jornalísticas de escândalos revelados pela imprensa. “A independência editorial dos meios de comunicação não é suficientemente garantida por razões de conflito de interesses”, diz o texto.
O país integra o grupo onde a liberdade de imprensa é relativamente respeitada, mas passou da 32ª posição no ano passado para a 34ª este ano.
Liberdade de imprensa no Brasil se deteriora há dois anos
“A eleição de Jair Bolsonaro em outubro de 2018, após uma campanha marcada por discursos de ódio, desinformação, violência contra jornalistas e desprezo pelos direitos humanos, marcou a abertura de um período especialmente sombrio para a democracia e a liberdade de imprensa”, escreve a Repórteres Sem Fronteiras. O país já era particularmente violento para a imprensa, “com dezenas de casos de jornalistas assassinados nos últimos anos”, mas a situação se deteriorou. O país caiu do 105° para o 107° lugar do ranking.
“O presidente Bolsonaro, seus parentes e vários membros do governo insultam e difamam alguns dos mais importantes profissionais e meios de comunicação do país, promovendo um clima de ódio e desconfiança do jornalismo no Brasil”, aponta o relatório. A RSF ressalta ainda a concentração da mídia no Brasil, que pertence a um pequeno grupo de grandes famílias, com frequência, próximas da classe política.
Coronavírus x liberdade de imprensa
O ranking Mundial da Liberdade de Imprensa avaliou a situação em 180 países no último ano.A classificação 2020 não leva ainda em conta o impacto da epidemia de coronavírus sobre a prática jornalística, mas os próximos dez anos serão decisivos para a liberdade de imprensa no mundo, acredita a ONG francesa.
“Os países na lanterninha do ranking aproveitam a epidemia para aplicar a ‘estratégia do choque’, teorizada por Naomie Klein, isto é, eles aproveitam a fraca mobilização do público para impor medidas que não seriam possíveis de serem adotadas normalmente”, deplora Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. Este é o caso da China, que nesta edição 2020 ocupa o 177° lugar da classificação e do Irã, o 173° colocado (três a menos do que em 2019). Esses dois países adotaram durante a pandemia “dispositivos de censura em massa”, denuncia Deloire.
A Hungria, que perdeu duas posições este ano e ocupa o 89° lugar, também está neste grupo. O primeiro-ministro Viktor Orban votou uma lei “coronavírus” que prevê penas de até cinco anos de prisão para quem difundir falsas informações, lembra o secretário-geral da RSF. “Como será a liberdade, o pluralismo e a credibilidade da informação até 2030? A resposta a esta questão está sendo elaborada agora”, alerta Deloire.
No geral, a porcentagem de países onde a liberdade de imprensa é considerada « boa » continua a mesma do ano passado, 8%, com Noruega, Finlândia e Dinamarca, na liderança. Já a proporção de países em “situação crítica” aumentou 2% em relação a 2019, e representa agora 13% do total. Coreia do Norte, Turcomenistão e Eritreia são os piores do ranking.
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