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Temendo pandemia, talibãs decidem cooperar na luta contra coronavírus

Os talibãs, que controlam parte do Afeganistão desde a década de 1990, parecem ter encontrado um inimigo à altura: o Covid-19. Temendo a possível propagação da pandemia nos territórios que domina no país, o movimento radical islâmico anunciou que vai facilitar a ação dos trabalhadores humanitários.

Luta contra coronavírus já começou em Cabul, mas ainda não chegou nas regiões do Afeganistão controladas pelos talibãs.
Luta contra coronavírus já começou em Cabul, mas ainda não chegou nas regiões do Afeganistão controladas pelos talibãs. REUTERS/Omar Sobhani
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Essa não é a primeira vez que os talibãs se exprimem diante de uma crise sanitária. No entanto, quase sempre o grupo se manteve inflexível, impedindo a atuação dos trabalhadores humanitários. Em abril de 2019, eles chegaram a ameaçar a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Cruz Vermelha, desaconselhando a entrada em seus territórios durante uma campanha de vacinação contra paralisia infantil. Até setembro passado as autoridades sanitárias não podiam atuar nas zonas controladas pelos extremistas.

Mas agora, diante da pandemia de Covid-19, os talibãs parecem ter mudado de postura. “O emirado islâmico (ndlr: como é chamado o movimento por seus membros), por meio de sua comissão de saúde, garante para todas as organizações sanitárias internacionais e a OMS que vai cooperar na luta contra o coronavírus”, declarou Suhail Shaheen, porta-voz do grupo, via Twitter na segunda-feira (16).  

O anúncio representa uma verdadeira mudança de postura do grupo, acusado no passado de ter matado trabalhadores humanitários em seus ataques. Os talibãs, no entanto, sempre recusaram qualquer responsabilidade na morte de equipes médicas.

O Afeganistão registrou até agora 22 casos confirmados de coronavírus. Mas as autoridades temem que o balanço seja muito maior, principalmente em razão do grande número de moradores que visitam frequentemente o Irã, um dos países mais atingidos pela pandemia. Todos temem que os sistema de saúde afegão não consiga atender os doentes.

Mulheres reprimidas e crenças religiosas

Líderes talibãs na província de Helmand, no sul do país, dizem que o movimento está disposto a fornecer os cuidados necessários aos contaminados. No entanto, os comandantes do grupo na região reconhecem que não possuem instalações adequadas ou pessoal qualificado para enfrentar o surto.

Em um país onde o governo controle apenas metade do território, as zonas tomadas pelos talibãs são conhecidas por recusarem qualquer tipo de ação do sistema de saúde oficial de Cabul.

A situação no Afeganistão também preocupa em razão do conservadorismo e do peso das crenças religiosas que persistem em boa parte do país. As mulheres nem sempre são autorizadas e consultarem médicos e dependem apenas dos remédios comprados pelos maridos.

É o que conta Rahila, uma moradora do província de Takhar, controlada pelos extremistas. Ela relata que em seu vilarejo o único centro de saúde tem apenas homens entre os médicos, o que exclui automaticamente a população feminina dos cuidados básicos.

“Quem vai fazer os testes nas mulheres?”, se questiona. Segundo ela, muita gente nessas regiões acredita que “se a magia existe e ajuda os talibãs, então os talibãs poderão impedir o coronavírus de entrar nos nossos vilarejos”.

(Com informações da AFP)

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