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Linha Direta

Turquia chantageia Europa ameaçando desencadear nova crise migratória

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Após a escalada de tensão na cidade síria de Idlib e a fuga de milhares de pessoas da região em direção à Turquia, o governo turco abriu suas fronteiras para permitir que os refugiados cheguem ao solo europeu. A União Europeia condena o uso de pressão migratória com fins políticos. Esta quinta-feira (5) também deve ser marcada pelo aumento da tensão com a reunião dos presidentes turco, Recep Tayyip Erdogan, e russo Vladimir Putin.

Migrantes carregam um homem ferido perto da fronteira entre Pazarkule e Kastanies, na região limítrofe entre a Turquia e a Grécia.04/03/2020
Migrantes carregam um homem ferido perto da fronteira entre Pazarkule e Kastanies, na região limítrofe entre a Turquia e a Grécia.04/03/2020 REUTERS/Huseyin Aldemir
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Correspondente da RFI em Bruxelas

A União Europeia declarou que a situação criada pela abertura das fronteiras da Turquia com o bloco é inaceitável. Segundo a Organização Internacional para as Migrações, agência da ONU, ao menos 13 mil pessoas estão ao largo dos 212 km da fronteira.

Essa pressão migratória foi criada com a recente escalada de violência na cidade síria de Idlib. Milhares de pessoas fugiram da região rumo à Turquia, que nega receber mais refugiados. A União Europeia teme uma nova crise migratória, como a de 2015, que criou cisões e fortaleceu a extrema-direita no bloco.

Na quarta-feira (4), os ministros do Interior da UE rejeitaram “energicamente” o uso da pressão migratória por parte da Turquia com fins políticos. Eles salientaram que os migrantes que tentarem entrar na Grécia não cruzarão ilegalmente o solo comunitário.

Esta semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitou a fronteira grego-turca e prometeu desembolsar € 700 milhões para que o governo de Atenas consiga administrar esta nova onda de refugiados.

A chanceler alemã Angela Merkel disse que “é inaceitável” que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e seu governo usem os refugiados para fazer pressão em Bruxelas e não expressem o descontentamento diretamente aos responsáveis do bloco.

Em 2016, a Turquia, que acolhe cerca de 4 milhões de refugiados sírios, se comprometeu a frear o fluxo migratório em troca de € 6 bilhões de Bruxelas. No entanto, os turcos ameaçam romper esse acordo para tentar obter apoio na guerra na Síria.

O que a Turquia quer da União Europeia?

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, quer conseguir mais apoio do Ocidente e alertou que a nova crise migratória só será resolvida se a União Europeia apoiar as iniciativas turcas na Síria. Para isso, a guerra acontece não apenas nas terras bombardeadas, mas também no xadrez geopolítico do conflito sírio.

No início da semana, Erdogan aumentou a pressão na Europa advertindo para a chegada de “milhões” de refugiados no continente. O líder turco ainda recusou € 1 bilhão extra da União Europeia. “Não queremos mais esse dinheiro”, rebateu. 

A raiva de Erdogan está dirigida menos para as fronteiras com a Grécia, onde milhares de migrantes recém-chegados da Turquia se aglomeram, do que para a escalada de tensão na cidade síria de Idlib, considerada o último bastião dos rebeldes.

Os curdos representam cerca de 20% da população da Turquia e são considerados terroristas pelo governo de Ancara. Um dos piores pesadelos para a Turquia seria a independência deles. Estima-se que 30 milhões de curdos vivam em uma região montanhosa que se espalha pela Turquia, Síria, Irã, Iraque e Armênia. Eles são o maior povo sem um Estado no mundo.

Reunião entre Erdogan e Putin

O encontro dos dois chefes de Estado será mais uma tentativa de estabelecer um cessar-fogo na cidade síria de Idlib, que faz fronteira com a Turquia. A possibilidade de uma reunião tensa, com risco de embate direto entre Erdogan e o presidente russo, Vladimir Putin, não está descartada.

No último fim de semana, Ancara bombardeou posições de tropas sírias em Idlib em retaliação ao ataque aéreo que matou 33 soldados turcos na região. A Rússia apoia a ofensiva da ditadura de Bashar al-Assad desde o início da guerra civil síria em 2011, mas negou qualquer participação no incidente.

Em Moscou, Erdogan quer que Putin aceite seu plano de criação de uma nova zona de controle para reassentar pelo menos dois milhões de refugiados. Apesar de serem aliados próximos no cenário internacional, Turquia e Rússia possuem posições antagônicas quando o assunto é a Síria.

Mas há quem diga que por detrás das cortinas os governos de Ancara e Moscou combinam até invasões em áreas sírias.

Escalada de violência na Síria

A recente escalada de violência na guerra da Síria começou depois que os Estados Unidos retiraram suas tropas da região, no final do ano passado, e os curdos se transformaram em alvos de ataques da Turquia.

Depois de anos atuando como aliados estratégicos dos americanos na luta contra o Estado Islâmico, os curdos foram abandonados pelos americanos - o que foi considerado traição por grande parte da comunidade internacional.

Apesar do embate entre Turquia e Síria, existe um interesse mútuo na contenção do separatismo curdo e no controle das forças curdas que agem na região.

De nada adiantaram as sanções impostas por Washington contra a Turquia, muito menos as ameaças de Bruxelas. O fato é que o poder de barganha de Ancara aumentou bastante desde a retirada das tropas americanas do norte da Síria.

Erdogan pretende criar uma “zona segura para evitar um corredor terrorista ao longo da fronteira”. A intenção do presidente turco é transferir pelo menos dois milhões de refugiados para esta zona.

Especialistas acreditam que para os curdos esta manobra seria uma reengenharia étnica da região, pois a maioria dos refugiados sírios é árabe. Desta maneira, com a configuração étnica modificada, os curdos deixariam de ser maioria dentro de seu próprio território.

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