Após breve pausa, Hong Kong volta às ruas e dá continuidade à mobilização pró-democracia
Dezenas de milhares de manifestantes voltaram a ocupar as ruas de Hong Kong neste domingo (1°). O movimento pró-democracia fez uma breve pausa após as eleições distritais da semana passada, mas dá continuidade à mobilização que já dura seis meses no território semiautônomo.
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Os protestos visam lembrar às autoridades de Hong Kong e da China as exigências dos militantes, como a adoção de eleições diretas e a renúncia da chefe de governo, Carrie Lam. O movimento volta às ruas mais forte, após a esmagadora vitória do campo pró-democracia na votação do último domingo (24).
A população aderiu em massa aos três protestos autorizados pelo governo neste domingo. Os militantes afirmam que continuarão mobilizados, enquanto não obtiverem resposta sobre suas reivindicações. "Como o governo não quer nos ouvir, os protestos não vão parar", afirma Chen, uma estudante de 20 anos.
Até o momento, o único retorno que o movimento obteve foi a organização futura de uma comissão independente que vai trabalhar sobre a origem da revolta. Nas faixas exibidas pelos manifestantes neste domingo, o apelo em prol da continuição do engajamento da população era claro: "Nunca esqueçam porque estamos aqui".
Entre os manifestantes, famílias inteiras - muitas delas com crianças pequenas e empurrando carrinhos de bebê -, aposentados e uma imensidão de jovens. No meio da massa, Leung, uma adolescente de 13 anos. "Acredito que a população de Hong Kong vai continuar ocupando as ruas, caso contrário o governo pode pensar que renunciamos às nossas reivindicações", afirma.
Violência nos protestos
Uma das manifestações foi bloqueada pela polícia neste domingo. As forças de segurança impediram que a marcha avançasse, sob a justificativa de que os militantes haviam se afastado do itinerário previsto. Após confronto com manifestantes, policiais utilizaram bombas de gás lacrimogênio para dispersar a multidão.
Enfrentamentos entre as forças de segurança e manifestantes também foram registrados na madrugada deste domingo, no bairro popular de Mong Kog. Jovens bloquearam estradas e a polícia tentou impedir o ato, resultando em violência.
Nas redes sociais, um vídeo sem autoria determinada circula neste fim de semana mostrando um militante agredindo um homem que tentava retirar uma barricada em Monk Kog. A polícia confirmou o incidente em um comunicado, precisando que "ninguém foi preso até o momento e a vítima foi hospitalizada com um grave traumatismo craniano".
A preocupação dos organizadores sobre o caráter pacífico da mobilização é uma constante nas redes sociais, onde líderes do movimento pedem "moderação" dos participantes. Muitos jovens também reclamam da imagem de vandalismo que o governo de Hong Kong e a China tentam passar dos militantes pró-democracia. "A opinião pública pode se virar contra nós, caso a violência e os confrontos continuem", explica um jovem de 27 anos.
Enquanto isso, na China, os meios de comunicação do Estado ainda não divulgaram os resultados das eleições distritais de Hong Kong. O governo continua a apontar forças estrangeiras como responsáveis pelo movimento, especialmente os Estados Unidos.
Na última semana, o presidente americano, Donald Trump, aprovou uma lei de apoio aos protestos em Hong Kong. O texto determina que o Departamento de Estado se certifique anualmente de que o território conta com autonomia suficiente para que o comércio com os Estados Unidos ocorra.
Michelle Bachelet acusada de "ingerência inapropriada"
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também não escapou das críticas do governo chinês. No sábado (30), Pequim a acusou de "ingerência inapropriada" em seus assuntos internos.
Em um comunicado, a missão chinesa na ONU em Genebra afirmou que um artigo escrito por Bachelet e publicado no South China Morning Post sobre esse tema é "errôneo" e "viola os objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas". No texto, a chilena fez um apelo por uma investigação sobre o o uso excessivo de força por parte da polícia de Hong Kong durante os protestos.
Há seis meses o território é palco de manifestações contra uma crescente ingerência de Pequim nas liberdades da região semiautônoma. A comunidade internacional se chocou com o uso desproporcional de força contra os militantes e diversos líderes e organizações exigem o fim das violências. Enquanto isso, a China nega qualquer intenção de interferir nas liberdades de Hong Kong e faz vistas grossas à violência empregada.
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