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Catolicismo

Papa quer que uso e posse de armas nucleares sejam condenados pelo catecismo

O papa Francisco afirmou que deseja introduzir a condenação do uso e da posse de armas nucleares dentro dos ensinamentos da Igreja. A declaração foi feita nesta terça-feira (26) no voo de volta do Japão, onde o sumo pontífice visitou Hiroshima e Nagasaki, duas cidades vítimas da bomba atômica na Segunda Guerra Mundial.

O papa Francisco, nesta terça-feira (26), no voo de volta de sua visita ao Japão.
O papa Francisco, nesta terça-feira (26), no voo de volta de sua visita ao Japão. REUTERS/Remo Casilli
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"Isso deve entrar no catecismo da Igreja Católica, não só o uso, mas também a posse" de armas nucleares, declarou papa Francisco durante a coletiva de imprensa que tradicionalmente realiza em seus voos.

O catecismo da Igreja Católica é o livro de ensinamentos oficial da instituição que estabelece os princípios da fé. Em 2018, Francisco inscreveu pela primeira vez no documento um texto de oposição categórica à pena de morte. Também pediu que todos se engajassem para abolir a medida em todo o mundo.

"Crime" do uso da energia atômica

Em Hiroshima, o religioso argentino já havia classificado o uso da energia atômica com fins militares como "crime". Também denunciou a lógica da dissuasão nuclear durante sua visita às duas emblemáticas cidades japonesas. "A loucura de um governo pode destruir a humanidade", advertiu o papa, que se dirigiu em italiano aos cerca de 70 jornalistas que o acompanhavam.

O sumo pontífice disse que teme também um acidente nuclear porque, segundo ele, não existe até agora um sistema que garanta a total segurança da humanidade. "Minha opinião pessoal é que não se deve usar energia nuclear enquanto seu uso não for totalmente seguro", acrescentou.

Francisco lamentou também que organizações internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, não tenham chegado a decisões para reduzir a quantidade de armamentos e evitar guerras. "Se há um problema com as armas e todos estão de acordo para resolvê-lo de modo a evitar um incidente belicoso, todos votam a favor do 'sim', mas se apenas um [país] com poder de veto diz 'não', tudo para", explicou.

Durante a coletiva de imprensa, o papa ainda criticou claramente "a hipocrisia de quem produz armamentos". "Há países cristãos ou ao menos de cultura cristã, como os países europeus (...), que falam de paz e vivem das armas. Isso se chama hipocrisia", apontou. "Uma nação deve ter a coragem de dizer que não pode falar de paz porque sua economia está ganhando muito com a fabricação de armas", reiterou.

Quatro dias de viagem

O sumo pontífice martelou o discurso contra a energia atômica e as armas nucleares em seus quatro dias de viagem ao Japão. Essa foi a primeira vez em quase 40 anos em que um papa visitou o país.

Francisco ouviu os depoimentos de sobreviventes das bombas atômicas, que falaram sobre as terríveis sequelas físicas e psicológicas. O papa também consolou as vítimas da catástrofe de 11 de março de 2011 no nordeste do Japão, que chamou de "desastre triplo" (terremoto, tsunami, acidente nuclear). Na data, um terremoto submarino provocou uma onda gigante que matou mais de 18.500 pessoas e atingiu a central de Fukushima, o que gerou o pior acidente nuclear da história depois de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.

Na ocasião, Francisco citou a preocupação com o uso da energia atômica e pediu uma mobilização maior para ajudar as 50 mil pessoas desabrigadas pela contaminação nuclear nos arredores de Fukushima.

Na segunda-feira (25), o religioso participou de um encontro com jovens, celebrou uma missa para milhares de pessoas em Tóquio e se reuniu com o novo imperador do Japão, Naruhito, e com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe.

Na viagem pela Ásia, o líder da Igreja Católica também visitou a Tailândia, um país que, como o Japão, possui uma comunidade católica minoritária (menos de 0,6% da população nas duas nações).

(Com informações da AFP)

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