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Linha Direta

Fim de semana de 3 dias aumenta 40% da produtividade no Japão

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Célebre por suas longas jornadas de trabalho, o mercado japonês está sendo pressionado a implementar horários mais flexíveis, com alternativas como o “home office” e o período parcial. Após a reforma trabalhista, aprovada no ano passado e instaurada a partir de abril deste ano, foi estipulado o limite de 45 horas extras por mês. Antes, chegava-se a trabalhar mais de 80 horas extras por mês.

Desacelerar o ritmo de trabalho está no centro das discussões do Japão, que recentemente aprovou uma histórica reforma trabalhista e limitou o número de horas extras.
Desacelerar o ritmo de trabalho está no centro das discussões do Japão, que recentemente aprovou uma histórica reforma trabalhista e limitou o número de horas extras. REUTERS/Thomas Peter/File Photo GLOBAL BUSINESS WEEK AHEAD
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Juliana Sayuri, correspondente da RFI no Japão

Os escritórios da Microsoft passaram a fechar as portas nas sextas-feiras de agosto no Japão. O experimento, que rendeu um dia livre a mais na semana aos 2.300 funcionários da filial japonesa, indicou um aumento de 39,9% de produtividade no mês.

O fim de semana prolongado - de sexta a domingo - foi uma estratégia do “Work-Life Choice Challenge Summer 2019”, programa pensado para melhorar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos trabalhadores. Durante um mês, a empresa de tecnologia também limitou reuniões a 30 minutos e priorizou a comunicação via internet. No período, o consumo de energia elétrica caiu 23,3% e o de papel impresso 58,7%.

Segundo o estudo, a jornada reduzida estimulou a eficiência dos funcionários, que otimizaram o tempo na empresa – 92,1% deles aprovaram a experiência. “Os funcionários querem ter modos de trabalho variados”, destacou a nota da Microsoft, que pretende adotar um programa similar no inverno.

Reforma trabalhista

Em abril de 2018, o governo japonês aprovou uma série histórica de leis trabalhistas – a primeira proposta de reforma nos últimos 70 anos. Idealizada para aprimorar as condições de trabalho no país, a reforma estipulou o limite de 45 horas extras (“zangyo”, em japonês) por mês.

As companhias contratantes que ultrapassarem esse limite poderão ser punidas por multa de até 300 mil ienes por ocorrência (o equivalente a R$ 11 mil) ou prisão dos responsáveis por seis meses.

Em abril deste ano, a medida passou a valer para grandes empresas. Para pequenas e médias empresas, ela entrará em vigor a partir de abril de 2020.

Fenômeno "karoshi"

Excesso de trabalho é uma realidade no mercado asiático. Segundo dados do governo japonês de 2016, quase um quarto das empresas exigia mais de 80 horas extras por mês de seus funcionários.

As consequências das jornadas longas são preocupantes: desde a década de 1960, o país registra casos de mortes por excesso de trabalho (“karoshi”, em japonês), provocadas principalmente por doenças cardíacas e mentais associadas a horas exaustivas no emprego – 236 casos foram reconhecidos pelas autoridades japonesas em 2017.

Uma das histórias emblemáticas foi a morte da jornalista Miwa Sado, da emissora pública do país, a TV NHK. A repórter de 31 anos teve um ataque cardíaco em julho de 2013, após trabalhar 159 horas extras em um único mês. Em 30 dias, ela só tirou 2 de folga. A morte só foi publicamente reconhecida como “karoshi” em 2017.

Outro fenômeno é o alto número de suicídios relacionados ao ritmo de trabalho (“karojisatsu”, em japonês) – 208 ocorrências foram oficialmente reconhecidas no período. Desacelerar, portanto, está no centro das discussões no país.

Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional

Em agosto de 2018, o governo japonês passou a incentivar empresas a dar uma manhã de segunda-feira de folga por mês, a fim de reduzir o número de horas extras e também melhorar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos trabalhadores. A proposta surgiu após um experimento feito pelo Ministério da Economia, que passou a liberar 30% de sua equipe uma tarde de sexta-feira por mês. De acordo com a experiência do ministério, segunda é o melhor dia, pois sexta as empresas estão sob pressão para finalizar projetos.

As iniciativas, entretanto, ainda estão engatinhando no arquipélago asiático, onde a cultura corporativa é muito forte e o excesso de trabalho, embora perigoso à saúde, é valorizado. Segundo dados do site de viagens Expedia, que faz um levantamento anual entre trabalhadores de 30 países, os japoneses são os que menos aproveitam dias de férias remuneradas (apenas 50% dos dias a que têm direito). Também são os que mais se sentem culpados por tirar folga e não trabalhar (63%).

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