Dirigentes palestinos pedem suspensão do reconhecimento de Israel
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Em reunião em Ramallah, na Cisjordânia, o Conselho Central da Organização para Libertação da Palestina (OLP) – que controla o governo palestino por meio do partido Fatah – recomendou a suspensão do reconhecimento do Estado de Israel até que o país volte atrás na anexação do lado oriental de Jerusalém e o fim da coordenação de segurança com Israel.
Daniela Kresch, correspondente em Tel Aviv
O Conselho Central da OLP aprovou nesta segunda-feira (15) uma resolução pedindo o fim da coordenação de segurança entre palestinos e israelenses, uma medida essencial entre as forças de segurança dos dois lados para evitar a violência regional.
A decisão incluiu também o anúncio de que todos os compromissos relativos aos Acordos de Oslo, de 1994, "não existem mais" e a suspensão do reconhecimento do Estado de Israel até que o país volte atrás na anexação do lado oriental de Jerusalém, acabe com assentamentos judaicos na Cisjordânia e reconheça a criação de um Estado palestino com Jerusalém Oriental como capital.
A questão, agora, é se o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, vai colocar essas decisões em prática ou vai ignorá-las, como fez, por exemplo, em 2015, quando moções similares foram adotadas pela OLP.
As decisões, que pioram sensivelmente o relacionamento entre palestinos e israelenses, foram anunciadas um dia depois de Abbas fazer um discurso veemente e polêmico contra os governo de Israel e dos Estados Unidos. Em duas horas de fala, no domingo, Abbas afirmou que Israel “matou” os Acordos de Oslo, que estabeleceram a Autoridade Palestina e servem de base para negociações futuras sobre a criação de um Estado palestino independente. Ele disse que a Autoridade Palestina é, hoje, uma “entidade sem autoridade”.
Abbas atacou duramente o presidente americano, Donald Trump, por ter anunciado que reconhece Jerusalém como capital de Israel e disse que não vai cooperar com nenhuma iniciativa de paz sugerida por seu governo. Ele afirmou que “o negócio do século” – como Trump havia apelidado seu plano de paz definitivo para a região – se tornou “o tapa do século”.
Discurso sem papas na língua de Abbas causa impacto em Israel
O discurso do líder palestino foi manchete em todos os jornais de Israel pelo conteúdo e também pela forma. Usando gírias e expressões menos diplomáticas, Abbas afirmou que “Israel é um projeto colonialista que não tem nada a ver com o judaísmo”.
Ele também disse que os judeus nunca quiseram imigrar para a Palestina – como a região era chamada na época do Mandato Britânco, de 1920 a 1948. Deu a entender que os judeus europeus preferiram sofrer “assassinatos e mortes” no Holocausto a imigrar para a região, bem como os judeus de países como Iêmen e Iraque, os quais teriam sido “importados” contra sua vontade pelos líderes do movimento sionista.
Os israelenses tratam essa narrativa palestina como uma "teoria conspiratória" absurda diante do fato de que a moderna imigração judaica para a região que os judeus consideram seu lar ancestal começou no final do século 19, antes mesmo do Holocausto e da criação do sionismo – o movimento de autodeterminação do povo judeu. Na verdade, 600 mil judeus – um terço da população local – já viviam na região quando o Estado de Israel foi criado.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que está em visita à Índia, disse que Abbas revelou sua “sua face verdadeira”. Para Netanyahu, a raíz do conflito é o fato de que os palestinos “se recusam a reconhecer o Estado Judeu em quaisquer fronteiras” e que, a partir de agora, ficará mais fácil explicar à comunidade internacional por que não há perspectiva de paz com a atual liderança palestina.
Já o presidente de Israel, Reuven Rivlin, acusou Abbas de fortalecer teorias que já tinha defendido anteriormente, como dizer que Israel é uma conspiração do Ocidente para dominar terras árabes. No passado, Abbas foi taxado de negador do Holocausto e antissemita ao defender, em sua tese de doutorado, que a liderança sionista colaborou com o nazismo para aumentar a imigração judaica para a Palestina.
Abbas toma distância, mas não rompe todos os laços com Israel
Aos 82 anos de idade e 13 anos no poder como presidente palestino, Abbas parece ter definitivamente deixado a diplomacia para trás para falar o que pensa sem papas na língua. Ele estaria cansado diante do fracasso de seu governo em fechar um acordo com Israel, principalmente depois das claras demonstrações de Trump favoráveis a Israel.
Apesar disso, Abbas não anunciou o fim de seu apoio à ideia de “dois Estados para dois povos” – projeto previsto há 24 anos pelos Acordos de Oslo para a criação de um Estado Palestino vivendo em paz ao lado do Estado de Israel.
Nos últimos anos, diante do impasse nas negociações de paz, muita gente – dos dois lados – parou de acreditar nessa opção. No entanto, Abbas não afirmou com todas as letras que é contra a ideia de dois Estados. Ele também se disse comprometido com a resistência não violenta contra Israel e não sugeriu, por exemplo, que os palestinos partissem para uma nova intifada – uma revolta violenta. Para muitos analistas, são sinais de que Abbas ainda não decidiu cortar totalmente relações com Israel.
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