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Mulher síria conta drama em meio a conflitos no país

O jornal Libération publica na edição desta sexta-feira (11) um suplemento especial sobre o cotidiano dos sírios em meio a uma guerra civil que já dura cinco anos e que já deixou 270 mil mortos. O caderno foi inteiramente escrito por jornalistas, intelectuais e artistas da Síria. O primeiro texto, assinado pelo correspondente Mustapha Mohamad, conta a história de Suha Samaan, uma mulher de 39 anos, mãe de quatro filhos, que mora em Alepo, a maior cidade do país.

Mulheres sírias caminham entre ruínas
Mulheres sírias caminham entre ruínas REUTERS/Rodi Said
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Apesar da redução dos bombardeios após o cessar-fogo assinado por Estados Unidos e Rússia, ela conta, com uma voz cansada e cética, que os caças russos continuam sobrevoando a cidade e fazem um barulho insuportável. Ela diz que ainda sente medo quando vai fazer compras no mercado.

Ela mora em uma das raras casas ainda de pé no bairro em ruínas de Al-Qatarji, no leste de Alepo. Sua extrema pobreza e a falta de uma lugar para ficar fizeram com que ela voltasse da Turquia, onde o marido trabalha. Ela havia migrado ao país no ano passado, mas, depois de seis meses, a família não podia sobreviver com o salário modesto da família e o alto custo de vida turco.

Desde 2012, quando uma grande parte da cidade caiu no poder dos rebeldes e foi palco de combates contra o regime, ela tenta achar uma solução para a sua vida. No período crítico dos conflitos, ela se mudou para sua cidade natal, a 20 quilômetros de Alepo, durante um ano, até que a região começou a sofrer bombardeios. em 2014.

Escolas são alvo de ataques do regime

Para que seus filhos pudessem continuar a estudar, ela voltou no início de 2015 à parte ocidental de Alepo, controlada pelo regime. Seu filho Mahmoud, de 15 anos, foi admitido em uma escola. "Mas o aluguel no bairro era muito caro, e eu não conseguia pagar", disse.

Depois de três meses, ele retornou à casa antiga, onde mora atualmente. "Eu continuo incentivando Mahmoud para que ele continue os estudos em casa porque as provas finais serão em breve, e ele deve ir ao outro lado da cidade para realizá-las. Os diplomas concedidos pelas autoridades da oposição são reconhecidos apenas na Turquia."

O jornalista explica que a educação é um dos principais problemas na parte de Alepo controlada pela oposição. O conselho civil local fez da reabilitação das escolas uma prioridade e paga o salário de cerca de 5 mil professores.

Mas os estabelecimentos são frequentemente visados pelas forças do regime. O resultado é que muitas mães desenvolveram uma fobia das escolas, segundo Hana Kassab, responsável pela associação Mulheres da Síria. "A maioria hesita em mandar seus filhos à escola, preferindo ter um filho vivo e ignorante do que morto e educado."

Algumas organizações da sociedade civil, incentivadas pelas mulheres, começaram a abrir há dois anos salas de aula no subsolo.

A situação se deteriorou ainda mais nas últimas semanas pois, depois da escalada de ataques da aviação russa, o risco de um cerco pelas forças pró-regime levou à fuga de milhares de famílias. Permanecem na cidade 50 mil, que vivem em condições precárias, com a falta de serviços vitais e o aumento dos preços dos alimentos.

Compra de eletricidade de geradores instalados nas ruas

Todas as manhãs Suha vai ao poço com dois galões vazios. A empresa de água do governo cortou há três meses a água potável no bairro Al-Qatarji. No dia da entrevista, ela encontrou uma multidão inabitual de pessoas irritadas. "A bomba não está funcionando", disse um homem.

Suha decide ir à casa da vizinha, que tem a possibilidade de comprar os 500 litros de água mínimos vendidos e entregue pelos distribuidores ambulantes por 500 libras sírias (€ 1). "Temos tanta dificuldade de encontrar e transportar água que controlamos o consumo", diz Hana Kassab.

Os habitantes de Alepo podem ter acesso eletricidade comprando "amperes" de comerciantes que instalaram grandes geradores nas ruas da cidade. Um ampere custa o equivalente a € 3,50 e permete ter eletricidade durante uma semana, usando de 5 a 7 horas por dia. "Qualquer que seja o preço, eu sou obrigada a pagar para que meus filhos possam fazer a lição. Eu economizo no resto", diz Suha.

Ela diz que todas essas dificuldades não são nada comparadas ao terror das crianças quando elas escutam o som dos aviões. "A água, a comida, as escolas... tudo é administrável comparado às noites angustiadas devido ao som dos bombardeios e das sirenes das ambulâncias."

O jornal diz que, apesar do ceticismo de Suha, a maioria dos bairros de Alepo vivem uma certa paz nos últimos 10 dias. Assim, na terça-feira (8) passada, as pessoas puderam sair às ruas gritando o velho slogan: "O povo quer a queda do regime!".

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