Êxodo de sírios piora com avanço das tropas de Assad em Aleppo
Com a ajuda dos bombardeios russos, as tropas do regime sírio continuam ganhando terreno sobre os rebeldes na província de Aleppo, no norte, e protagonizando mais episódios violentos no país extremamente devastado pela guerra. Enquanto isso, milhares de sírios seguem fugindo em direção à Turquia.
Publicado em: Modificado em:
Com informações do correspondente da RFI em Beirute, Paul Khalifeh
Bombardeada pela Rússia, a rebelião contra o regime de Bashar al-Assad não tem outra escolha além de recuar. Abandonando ao menos três de suas posições nas últimas 24 horas, os rebeldes permitem o avanço das tropas de Damasco na província de Aleppo. A própria população vem pedindo que o Exército Sírio Livre deixe a região, praticamente reduzida a ruínas.
Por terra, as tropas de Assad são acompanhadas por diversas milícias, entre elas, o Hezbollah libanês e combatentes xiitas apoiados pelo Irã. A cidade de Aleppo, antigo centro econômico da Síria, está completamente cercada pelas forças de Damasco. Um avanço galgado depois de uma violenta ofensiva, que provoca não apenas detruição, como a fuga em massa do que resta da população.
Rebelião pena com a perda de soldados
Prejudicados pela importante perda de combatentes e desorganizados pela fulgurante progressão das tropas de Assad, os rebeldes não contam com nenhuma estratégia além da defesa neste momento. Segundo fontes da oposição, a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al Qaeda e importante integrante da rebelião, teria perdido cerca de 300 homens na batalha de Retian, no último fim de semana.
Além disso, os rebeldes devem encarar outro perigo, vindo do oeste: os combatentes curdos também avançam em direção a Aleppo. Para piorar a situação, os insurgentes precisam de armamentos e de mísseis antiaéreos para manter suas posições.
Milhares de sírios continuam fugindo de Aleppo
Pela primeira vez em quase três anos, o exército sírio se encontra a menos de 20 quilômetros da fronteira turca. A estratégia do regime é fechar completamente a fronteira com o país vizinho para impedir a chegada de apoio logístico aos opositores de Al-Assad.
Ancara teme que a continuação dos combates na região de Aleppo provoque uma nova onda de refugiados, indicou nesta segunda-feira o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus. "A pior situação que poderia acontecer a curto prazo nesta região seria uma nova onda de 600 mil refugiados na fronteira turca", declarou.
Cerca de 30 mil sírios continuam sendo submetidos a condições insalubres na fronteira da Síria com a Turquia. O governo turco mantém sua fronteira fechada, mas libera a passagem das equipes humanitárias que levam ajuda e material para os deslocados em campos de refugiados no próprio território sírio, que estão superlotados. A grande maioria, 80%, são mulheres e crianças.
Relatos das equipes e dos poucos sírios que conseguiram atravessar a fronteira revelam que muitos deslocados dormem ao relento, sem cobertores, e sofrem com o frio e a fome. A ONG Médicos Sem Fronteiras diz que não há mais espaço nos campos de refugiados e oito deles foram criados de maneira informal. A situação é extremamente preocupante, segundo a ONU.
Rússia é responsabilizada pelo êxodo de sírios à Turquia
Em visita à Turquia, a chanceler alemã Angela Merkel declarou na segunda-feira que os bombardeios da Rússia na região de Aleppo provocaram a fuga de milhares de civis do país e pioraram a crise dos refugiados. Ao lado do primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, Merkel se disse "assustada" e "chocada" pelo sofrimento imposto à população.
Nesta terça-feira (9), foi a vez do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk atacar Moscou. "Como consequência direta da campanha militar russa, o sanguinário regime Assad ganha terreno, a oposição síria moderada perde posições e milhares de novos refugiados partem para a Turquia e a Europa", disse.
Já o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, fez um novo apelo à Rússia por um "cessar fogo imediato" na Síria. "Não somos cegos e estamos vendo o que acontece neste momento. Estamos conscientes que esse momento é crucial", declarou Kerry ressaltando que os bombardeios russos matam especialmente mulheres e crianças.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro