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Linha Direta

Turquia paga por relação ambígua com grupo Estado Islâmico

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O centro histórico e turístico de Istambul recebe normalmente os turistas nesta quarta-feira (13), um dia depois do atentado que deixou 10 mortos e 15 feridos na praça Sultanahmet. O governo turco identificou o homem-bomba como sendo um sírio, integrante do grupo Estado Islâmico (EI). As autoridades turcas mantêm as investigações sob sigilo. O que se sabe, até o momento, é que a maioria das vítimas eram turistas alemães e, um deles, peruano.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. REUTERS/Umit Bektas
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

Logo após a explosão, o que mais se ouviu nas ruas de Istambul foi: “nós sabíamos que isso iria acontecer”. Era questão de tempo. Desde o atentado de Ancara, aumentou a pressão de opositores, dos Estados Unidos e da União Europeia para que o governo turco se posicionasse sobre a luta contra os terroristas islâmicos que, até aquele momento, tinham o papel de barrar o avanço curdo na fronteira com a Síria. Durante muito tempo, o governo islâmico conservador do presidente Recep Tayyip Erdogan considerou que os jihadistas eram muito eficazes no combate ao presidente sírio, Bashal al-Assad, cuja queda era uma prioridade para Ancara.

Agora, há um fato novo. A explosão de ontem no centro turístico de Istambul foi o primeiro atentado na Turquia cometido por um estrangeiro contra estrangeiros. Além disso, o local escolhido representa tudo o que o autoproclamado Estado Islâmico repudia: a convivência pacífica de diferentes representações religiosas e diversos povos num único lugar.

Para analistas em segurança internacional, isso mostra que não basta ao governo turco anunciar prisões de dezenas de suspeitos de terrorismo ou de integrantes do Estado Islâmico pelo país. Os especialistas defendem que a política turca frente aos seus vizinhos não se baseie mais em questões sectárias. Relações frágeis ou cortadas com Rússia, Irã, Iraque e Síria fizeram da Turquia um alvo de grupos terroristas. Ou seja, contra um grupo cujo campo de batalha ignora barreiras geográficas, é preciso que os governos realmente se unam contra essa ameaça comum. Isso ainda parece longe de acontecer.

Erdogan dá explicação suscinta

O presidente Erdogan fez um pronunciamento, ontem, para afirmar que o suicida que detonou o explosivo era sírio. Mas não deu mais detalhes sobre a identidade do autor. Até que a agência de notícias Dogan, que faz oposição ao governo, divulgou a identidade do homem-bomba e o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus, confirmou em coletiva. Trata-se, portanto, de um sírio nascido na Arábia Saudita em 1988. O nome dele era Nabil Fadli. O homem não estava na lista de suspeitos de terrorismo procurados pela polícia, havia entrado recentemente na Turquia vindo da Síria e, ao que tudo indica, era integrante do grupo Estado Islâmico (EI).

A explosão na área conhecida como Sultanahmet, a mais visitada de Istambul, ocorreu perto do obelisco de Teodósio que, por sua vez, fica próximo a um gazebo construído no fim do século 19 para marcar o segundo aniversário da visita do imperador alemão Guilherme II a Istambul. Coincidência ou não, pelo menos oito das 10 vítimas da explosão eram da Alemanha – o país que mais envia turistas à Turquia e também faz parte da coalizão de ataques aéreos à Síria.

De acordo com o jornal alemão Bild, entre os mortos havia um casal de aposentados de Falkensee (leste), além de dois homens e uma mulher da região Renânia-Palatinado (centro-sul). O jornal Berliner Zeitung afirma que uma das vítimas fatais residia na capital alemã.

O Consulado do Brasil em Istambul afirma que não há informações de brasileiros entre as vítimas.

Polícia turca prende três suspeitos do EI

A polícia turca deteve nesta quarta-feira (13) em Antalya (sul) três supostos integrantes do EI, mas não informou se eles têm ligação com a explosão de Istambul. Os três homens são de nacionalidade russa e, junto com eles, foram apreendidos vários documentos, segundo a agência Dogan.

Ontem, após o atentado, 65 pessoas suspeitas de fazer parte do grupo jihadista foram detidas nas cidades de Ancara, Izmir (oeste), Kilis, Adana e Mersin (sul), assim como em Sanliurfa (sudeste). As autoridades turcas não informaram se essas detenções têm ligação com o atentado na praça Sultanahmet.

Governo conservador impõe mordaça à imprensa

O governo turco tem aumentado o controle dos meios de comunicação e as prisões de jornalistas viraram rotina no país. Essa é uma postura que as autoridades turcas também já assumiram, por exemplo, no atentado de Ancara, em outubro, quando mais de 100 pessoas morreram durante uma passeata de partidos da oposição.

Porém, a censura aos meios de comunicação está tendo um resultado oposto. A população se sente desinformada e está cada vez mais preocupada com rumores. Com esse segundo atentado em um intervalo tão curto de tempo, os turistas estrangeiros temem cada vez mais visitar a Turquia.

 

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