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Turquia/Atentado

Governo turco destitui cúpula da polícia de Ancara após atentado

O governo turco destituiu nesta quarta-feira (14) todo o alto escalão da polícia de Ancara, quatro dias depois do atentado que causou 97 mortes e provocou um movimento de indignação contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, a poucas semanas das eleições legislativas antecipadas. Foram afastados do cargo o delegado geral da província, Kadri Kartal, e seus principais adjuntos, responsáveis pelos serviços de segurança e inteligência.

Manifestantes empunham cartazes com a frase "conhecemos o assassino", em referência ao presidente Recep Erdogan
Manifestantes empunham cartazes com a frase "conhecemos o assassino", em referência ao presidente Recep Erdogan REUTERS/Murad Sezer
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Na terça-feira, em sua primeira aparição pública depois do ataque, Erdogan anunciou a abertura de uma investigação a cargo do Conselho de Inspeção do Estado (DKK). "Sem dúvida, houve algum erro, alguma falha em algum momento", declarou, acrescentando que a investigação servirá para determinar "o tamanho desse erro". "Se houve o menor descuido, o primeiro-ministro e as autoridades competentes tomarão as medidas necessárias, ninguém deve duvidar disso", concluiu. Na quarta-feira, 38 pessoas seguiam internadas em estados grave e gravíssimo.

Autores do atentado

De acordo com o jornal turco Hürriyet, os autores do duplo atentado suicida já foram identificados. Eles seriam Omer Deniz Dundar, que combateu ao lado do grupo Estado Islâmico na Síria, e Yunus Emre Alagöz, irmão do autor do ataque de Suruç, que matou 34 ativistas pró-curdos que se preparavam para uma missão humanitária em Kobane em janeiro. Os dois chegaram a Ancara na manhã de sábado, poucas horas antes do atentado.

Logo depois do ataque, o governo culpou o grupo Estado Islâmico pela tragédia. Mas na manhã desta quarta-feira, as autoridades anunciaram a prisão de duas pessoas próximas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que teriam trocado informações sobre o ataque pelo Twitter, nove horas antes da ação dos homens-bomba.

O atentado de Ancara fez o PKK declarar uma trégua unilateral até as eleições antecipadas de 1° de novembro, visando evitar uma escalada que comprometesse a ordem constitucional. Mas Erdogan, fiel a sua política de confronto contra a organização curda, manteve sua ofensiva. Nesta quarta-feira, o exército turco anunciou ter matado dez membros do PKK - três deles em confrontos na província de Hakkari e o restante em bombardeios.

Complacência de Erdogan

A oposição responsabiliza o próprio Erdogan pela falta de segurança e o acusa, inclusive, de estimular os ataques contra os curdos. Desde sábado milhares de pessoas se manifestam diariamente gritando "Erdogan assassino" e exibindo cartazes com frases como "conhecemos o assassino" e "abaixo o reacionarismo".

O líder do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo), Selahattin Demirtas, acusou o presidente de ter descuidado deliberadamente da segurança do ato, que se opunha à política belicista de Erdogan. Nesta quarta-feira, o mandatário turco depositou flores diante da estação de trem de Ancara.

Desde que perdeu a maioria no Parlamento para o HDP, nas eleições parlamentares de junho, e viu afundar seu projeto de proclamar o presidencialismo no país, o chefe de Estado trava uma guerra política contra a esquerda, numa tentativa de reconstruir sua base parlamentar nas eleições antecipadas. O mais recente episódio neste sentido foi o fechamento de sete canais de televisão opositores, na véspera do atentado de Ancara.

Turquia convoca embaixadores russo e americano

No plano diplomático, o governo turco advertiu os embaixadores da Rússia e dos Estados Unidos contra o envio de armas às milícias curdas que combatem o grupo Estado Islâmico na Síria. De acordo com uma fonte do ministério turco das Relações Exteriores entrevistada pela AFP, as autoridades do país "informaram sua posição em relação ao Partido da União Democrática (PYD)", que enfrenta o grupo Estado Islâmico na Síria.

Ancara considera que o PYD é um partido irmão do PKK, classificado como terrorista por Ancara, pelos EUA e pela União Europeia. "A Turquia não pode tolerar nenhuma cooperação com organizações terroristas", afirmou o primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, à imprensa nesta quarta-feira. Mas foram a milícia curda YPG e a brigada feminina YPJ, ambas ligadas ao PYD, que conseguiram as maiores vitórias contra os jihadistas: a retomada de Kobani e, com o auxílio da força aérea norte-americana, a expulsão dos ultrarradicais de Tall Abyad, na fronteira com a Turquia.

Já o enviado especial do Kremlin para o Oriente Médio, Mikhail Bodganov, esteve na semana passada com o chefe do PYD Salih Muslim para discutir uma cooperação material na luta contra o grupo Estado Islâmico. "Assim como os Estados Unidos e seus aliados combatem os grupos afiliados à Al-Qaeda, a Turquia está determinada em combater o PKK e seus afiliados. Assim como os Estados Unidos e seus aliados não toleram o envio de armas à Al-Qaeda e seus afiliados, a Turquia não tolera as que são entregues ao PKK e seus afiliados", simplificou Davutoglu.

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