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Erdogan participa da primeira oração muçulmana na ex-Basílica Santa Sofia em 86 anos

O presidente turco Recep Tayyp Erdogan participou nesta sexta-feira (24) da primeira oração muçulmana na ex-Basílica Santa Sofia, em Istambul, que foi transformada em mesquita no dia 10 de julho. O evento reuniu milhares de pessoas apesar da epidemia de Covid-19. A  "reconversão" do monumento, entretanto, interessa pouco os turcos, dizem especialistas.

Recep Tayyip Erdogan reabre a Santa Sofia para culto em 24 de julho.
Recep Tayyip Erdogan reabre a Santa Sofia para culto em 24 de julho. AP
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Milhares de pessoas se aglomeraram no local para participar das orações, apesar do risco de contaminação. As autoridades pediram aos fiéis que usassem máscaras de proteção, trouxessem seu próprio tapete e fossem pacientes. Os participantes também tiveram a temperatura medida na entrada.

Dirigentes e responsáveis de vários países muçulmanos, como o Catar e o Azerbaijão, também foram convidados, segundo a imprensa turca. Um forte esquema de segurança, com mais de 20 mil policiais, foi montado para receber as autoridades.

A ex-Basílica de Santa Sofia é uma obra monumental do século 7 e é um dos monumentos mais visitados de Istambul. Santa Sofia foi construída para ser a catedral de Constantinopla, em 537 e, em 1453, se tornou mesquita. O local foi transformado em museu nos anos 30. O presidente Erdogan decidiu transformá-la em mesquita novamente após uma decisão judicial que retirou o status de museu do local.

A medida gerou polêmica e suscitou reações da Grécia, que acompanha de perto o futuro do patrimônio bizantino na Turquia. O papa Francisco também declarou estar "preocupado" com a decisão.

Questão é secundária para Erdogan

"Há cerca de vinte anos, diversos movimentos pediam que Santa Sofia voltasse a ser mesquita, mas esses movimentos, eram minoritários", diz o pesquisador Jean Marcou, da Universidade de Sciences Po em Grenoble, especialista em Oriente Médio, em entrevista à jornalista Anastasia Becchio, da RFI.

A questão, apesar de polêmica, não é essencial para a carreira de Erdogan, afirma Bayram Balci, diretor do Instituto francês de estudos anatolianos em Istambul. "Esse assunto sempre foi importante para parte da direita turca, tanto nacionalistas quanto islamitas, mas não para o presidente turco", explica.

Com a chegada de Recep Tayyp Erdogan ao poder em 2003, as atividades ligadas ao Islã se multiplicaram no interior da basílica, com orações coletivas no pátio do monumento por exemplo. "Pouco a pouco, ficou evidente que havia cada vez mais pressão", disse Jean Marcou, citando as leituras do Alcorão durante o Ramadã e a retomada das atividades dos minaretes, convocando os fiéis para as orações.

Ausência de debate

A transformação da Basílica de Santa-Sofia em mesquita não foi alvo de debates entre os grandes partidos laicos, nem entre a população, mais preocupada com a epidemia de Covid-19 e a crise econômica. "Para a população, isso não é de uma importância fundamental", explica Bayram Balci.

Segundo ele, várias mesquitas foram construídas nos últimos anos. Ele lembra que a oposição percebeu e evitou cair em uma armadilha de Erdogan. "Ele esperava que os partidos de oposição fossem contrários à mudança de status do museu. Ele teria tido, dessa maneira, a ocasião de tratar essa oposição de submissa aos estrangeiros, ao Ocidente."

O pesquisador considera, neste contexto, que a atitude do prefeito do Istambul foi admirável. "Ele afirmou que a transformação do museu de Santa Sofia em mesquista deveria resolver o problema do desemprego e da inflação, e por isso ele era favorável. Foi uma maneira de destacar que essa não era uma questão que interessava muito os turcos, colocando um fim ao debate", declarou. 

Para Jean Marcou, Erdogan foi tático."O símbolo é tão nacionalista que os kemalistas, inclusive o prefeito de Istambul, não puderam manifestar sua oposição a essa decisão que, mais do que religiosa, massageia o ego nacional. "Santa Sofia é o símbolo da história turca, um prédio que resistiu ao saque da cidade em 1453 pelo sultão Mehmet II "Fatih", que se tornou um símbolo da vitória do Império Otomano e da substituição do Império Bizantino pelo Otomano."

(Com informações de Anastasia Becchio, da RFI)

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