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Categorizar antifascistas como terroristas poderia aumentar atos de violência da extrema direita nos EUA

Enquanto milhares de manifestantes vão às ruas nos Estados Unidos para protestar contra a morte de George Floyd, um homem negro americano morto por um policial branco, o presidente Donald Trump indicou no domingo (31) que pretende classificar os movimentos Antifa (antifascistas) como organização terrorista. Para um militante do grupo, a declaração poderia aumentar atos de violência por parte da extrema direita americana.  

Manifestante com a bandeira antifascista em um protesto em Boston, Massachusetts (Estados Unidos), em 31 de maio de 2020.
Manifestante com a bandeira antifascista em um protesto em Boston, Massachusetts (Estados Unidos), em 31 de maio de 2020. REUTERS - BRIAN SNYDER
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O movimento Antifa estaria, segundo Trump, entre os grupos presentes nas manifestações e seria responsável pelos tumultos próximos à Casa Branca, em Washington, no último fim de semana e em outros estados americanos, após a morte de George Floyd.

“Os Estados Unidos vão classificar ANTIFA como organização terrorista”, publicou o presidente em sua conta no Twitter. Através da rede social, ele ainda pediu aos prefeitos e governadores democratas para serem “duros”. “Essas pessoas são anarquistas”, disse.

Mas, segundo um militante do movimento entrevistado pelo jornal Le Monde, que não quis revelar sua identidade, a decisão de qualificar os atos como terroristas é política, sem repercussões jurídicas.

Apesar da lei federal americana prever a possibilidade de terrorismo interior nos Estados Unidos, a legislação não especifica crimes ou indica grupos que poderiam ser sancionados. O financiamento e o apoio a organizações podem ser investigados somente em caso de terrorismo internacional. Uma investigação sobre um grupo terrorista local só pode acontecer se houver crimes, violências e mortes.

No entanto, o militante considera que o post de Trump foi calculado e tem o objetivo de buscar o apoio de sua base. Ele teme que a declaração seja considerada como um sinal de encorajamento à extrema direita para realizar seus próprios ataques contra os manifestantes em toda impunidade. Incidentes desse tipo já foram registrados no fim de semana. 

Quem são os Antifa

Descritos por especialistas como “anarquistas de extrema esquerda”, suas ações são normalmente violentas e visam a extrema direita e os grupos supremacistas brancos. Historicamente, a Ação Antifascista nasceu na Europa entre as duas guerras mundiais, principalmente na Itália, contra os camisas negras de Mussolini, e na Alemanha, em oposição ao aumento do partido nazista de Hitler.

Os historiadores marcam o retorno dos Antifa nos anos 1990, após a queda do muro de Berlim, contra a aparição de pequenos grupos neonazistas no leste da Europa.

Os Antifa de hoje não são facilmente identificáveis, não têm personalidades públicas conhecidas ou um porta-voz. O movimento se divide em pequenos grupos que agem localmente e realizam ações fortes. Normalmente vestidos de preto, usando máscaras e capacetes para não serem identificados, os membros seguem ideologias de extrema esquerda e combatem grupos de extrema direita e supremacistas brancos.

Eles não se definem como Antifa e não existe uma organização que os reúna. Por isso é difícil estabelecer o peso dos manifestantes próximos ao movimento nos protestos nos Estados Unidos. Apesar das tentativas das autoridades de responsabilizar indivíduos de outros estados pelos estragos nos conflitos de Minneapolis, os registros de detenções mostram um perfil de manifestante bem local, como observa Le Monde.

Imagens de outras cidades circularam nas redes sociais, mas elas não permitem determinar se as pessoas que causaram tumultos têm alguma afiliação política.

Nos Estados Unidos, os Antifa são conhecidos principalmente por uma volta às atividades em 2016, com o objetivo de protestar contra a eleição de Donald Trump.

Terrorismo

Esta não é a primeira vez que o termo terrorista é utilizado para classificar os Antifa nos Estados Unidos. O FBI os considerou como “terroristas domésticos” em documentos de 2017, publicados pelo site Politico, após os conflitos de Charlottesville, na Virgínia, contra grupos supremacistas.

A dificuldade de categorizar o movimento como organização faz com que a tarefa de detê-lo seja difícil, como reconhece o FBI em seus documentos. A imprensa americana precisa que, no caso dos protestos ligados à morte de George Floyd, o FBI não afirmou que todos os envolvidos nos confrontos sejam Antifa.

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