Acessar o conteúdo principal

Funcionários da National Gallery de Londres reproduzem obras de grandes mestres em casa

Entre arte e quarentena, a distância que separa os grandes mestres das centenas de milhões de pessoas sem acesso aos museus em plena pandemia já não é mais contada em quilômetros, mas em um punhado de megabytes. Um dos cinco museus mais visitados do mundo, a National Gallery de Londres aderiu a uma brincadeira que ganhou vulto nas mídias sociais. Funcionários da instituição, conhecedores das 2.300 obras em exposição permanente, usam a quarentena para reproduzir, em casa, com objetos simples do dia a dia, as obras que, como o público, permanecem trancafiadas à espera de dias melhores.

National Gallery
National Gallery © Divulgação
Publicidade

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

O resultado despertou a criatividade dos apreciadores de arte, que não medem esforços para se colocar, eles próprios, dentro das suas obras preferidas.

Andrew, fotógrafo do museu conseguiu recriar nada menos do que o “Retrato de Giovanni Arnolfini e sua mulher”, obra-prima do mestre holandês Jan Van Eyck, de 1434. Este talvez seja um dos quadros mais comentados da história da pintura. Uma obra misteriosa, cheia de detalhes, que virou tema de livros, entre eles um recado cifrado do próprio pintor. A curadora Emily também ousou e atacou com a família em “A ceia em Emaús”, de Michelangelo Merisi da Caravaggio. Do olho treinado da especialista não escapou sequer a técnica do claro-escuro do mestre italiano.

Lawrence Chiles, chefe dos serviços digitais do museu, recriou “Uma família camponesa na hora da refeição” (aprox. 1655), do também holandês Jan Steen. "Nós estamos sempre buscando maneiras de conectar a audiência com a coleção e a recriação das pinturas foi uma maneira imediata de fazê-lo. Nos inspiramos em indivíduos e organizações pelo mundo. E nos pareceu a coisa certa que o pessoal da National Gallery pudesse participar e se envolver. Foi divertido e simples”, afirma Chiles.

Segundo ele, essas obras são velhas conhecidas dos funcionários da instituição, que trabalham diretamente com elas, ou as veem, todos os dias como parte das suas atribuições. "Todos nós sentimos falta dessa conexão. Recriá-las dessa maneira permite que você entenda como foram construídas e isso certamente fez com que todos pudéssemos pensar de maneira criativa para encontrar a fórmula certa”, disse.

Funcionários reproduzem em casa obras da National Gallery de Londres.
Funcionários reproduzem em casa obras da National Gallery de Londres. © Divulgação

A National Gallery, que costuma atender a um público virtual de 10 milhões de pessoas anualmente, viu a procura à sua página na internet disparar nas últimas semanas. Criou tours virtuais conduzidos pelos curadores de dentro de suas casas. A programação criada para que os apreciadores do museu se mantivessem em quarentena aumentou em mais de 500% o movimento de internautas que buscam o museu na internet em comparação com as semanas anteriores ao confinamento. Em relação ao mesmo período do ano passado, foram 1.985% visitas a mais.

De portas fechadas ao público há mais de um mês, paradoxalmente, estas instituições que até alguns anos atrás pareciam imutáveis no tempo nunca estiveram tão próximas da sociedade. Mergulharam sem volta na era digital, e não se trata pura e simplesmente de permitir a consulta a suas inestimáveis coleções pelas redes, o que já vinham fazendo antes mesmo da chegada do novo coronavírus. É preciso bem mais do que isso para atrair internautas dispersos em meio a tanta informação e distração.

Funcionários reproduzem em casa obras da National Gallery de Londres.
Funcionários reproduzem em casa obras da National Gallery de Londres. © Divulgação

Enquanto não se descobre uma saída segura para a pandemia do novo coronavírus, o isolamento social continuará a ser o novo normal, e os museus, como outros segmentos da sociedade vão continuar explorando as possibilidades da internet. Mas tudo indica que, mesmo depois de reabrirem as portas, os museus já não serão mais os mesmos, e a receptividade do público indica que a relação talvez tenha mudado para sempre. Obviamente que a interação pela internet não substituirá de uma vez por todas a venda de ingresso na bilheteria. Mas pode tornar-se ela também uma fonte de recursos e audiência.

Funcionários reproduzem em casa obras da National Gallery de Londres.
Funcionários reproduzem em casa obras da National Gallery de Londres. © Divulgação

As reproduções das obras da National Gallery podem ser vistas na conta do museu no Twitter, ou sob a hashtag #betweenartandquarantine, a mesma a ser usada por aqueles que ousarem fazer as suas próprias versões dos quadros da coleção.

No Instagram, a conta Tussen Kunst & Quarantaine (@tussenkunstenquarantaine), na Holanda, foi uma das primeiras a propor a reprodução caseira de grandes obras de arte. As melhores são publicadas na página. “Como estamos trancados, em isolamento, a nossa imaginação ganha asas. Para alguns, isso significa pensar demais nas coisas e se preocupar com o iminente apocalipse, para outros significa procurar um novo hobby, como imitar algumas das obras de arte mais emblemáticas da histórica e publicá-las no Instagram”, diz o texto de apresentação da conta que fala divulgar a "comédia cultural de que não sabíamos que precisávamos tanto”.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.