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Nicarágua ignora coronavírus e mantém festejos de Páscoa, enquanto igrejas fecham suas portas

Enquanto um terço do mundo evita as ruas para controlar o contágio do coronavírus, a Nicarágua realiza festivais de música, gastronomia e festas de Páscoa com o estímulo do governo.

Mulher com o rosto coberto por uma máscara contra a Covid-19 passa por uma pintura mural onde se vê o presidente Daniel Ortega e sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, em Manágua.
Mulher com o rosto coberto por uma máscara contra a Covid-19 passa por uma pintura mural onde se vê o presidente Daniel Ortega e sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, em Manágua. REUTERS - Oswaldo Rivas
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O governo comandado pelo sandinista Daniel Ortega despreza o risco da epidemia do coronavírus, e o país é o único da América Central a não ter adotado medidas de controle em suas fronteiras ou de distanciamento social para evitar a doença que já matou mais de 100 mil pessoas no mundo.

Na sexta-feira (10), centenas de nicaraguenses se reuniram nas ruas da cidade de Masatepe, no sul do país, para arrastar o "Judas", uma tradição da Semana Santa promovida pelo governo.

O evento é apenas uma das centenas de atividades turísticas apoiadas pelo governo Ortega durante a semana de Páscoa. Na cidade de Granada, um dos principais destinos turísticos do país, dezenas de atores representaram uma Via-Crúcis Aquática. Em Pochomil, foi realizado um festival de música. Em Manágua, uma feira com a sobremesa tradicional da quaresma, o almíbar, reuniu nicaraguenses no porto Salvador Allende.

As fotos dos eventos, publicadas na mídia local, mostram filas e centenas de pessoas reunidas, a maior parte sem máscaras ou sem qualquer cuidado de distanciamento social.

Oficialmente, apenas oito pessoas teriam sido contaminadas pelo Covid-19 na Nicarágua, e apenas uma pessoa morreu. No entanto, médicos contradizem os números oficiais e afirmam que muitos casos de pneumonia têm sido registrados e que a doença circula no país.

OPAS alerta para risco

A OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) criticou esta semana a falta de ação do governo nicaraguense diante do risco do coronavírus. "Estamos preocupados com a falta de distanciamento social, a convocação de reuniões de massa. Estamos preocupados com exames, rastreabilidade de contatos e notificação de casos", alertou a diretora Carissa Etienne.

Em resposta, a vice-presidente e primeira-dama, Rosario Murillo, garantiu em seu habitual discurso diário que a Nicarágua "vive em tranquilidade" e celebra "o sacrifício de Jesus Cristo que lutou por justiça".

É Murillo quem tem tomado a frente do plano de estímulo ao turismo e incentivado a população a sair às ruas. O presidente Daniel Ortega está sumido nesse momento de crise. Há 30 dias ele não faz uma aparição pública, segundo o jornal local Confidencial.

Braço de ferro com a Igreja Católica

A omissão das autoridades no combate contra o vírus evidencia o conflito que Ortega mantém com a Igreja Católica desde o início dos protestos contra seu governo em 2018. Em março, após a confirmação do primeiro caso positivo no país, a Conferência Episcopal da Nicarágua limitou os eventos e optou por transmitir as missas pelas redes sociais.

Para a Páscoa, seguindo o que está sendo feito em outros países, os bispos pediram aos católicos que fiquem em casa, e tentam reunir outros líderes religiosos na mesma campanha.

Apesar da propaganda oficial e dos eventos realizados, os jornais do país mostram comércios com menos clientes do que o habitual nas cidades turísticas. As matérias sublinham que parte importante da população está com medo da epidemia e optou por ficar em casa.

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