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Olimpíadas terão gosto amargo para o Rio de Janeiro, diz Le Figaro

A oito meses da realização das Olimpíadas, o jornal francês Le Figaro desta segunda-feira (4) sugere que o legado do grande evento esportivo para o Rio de Janeiro não será tão benéfico como insistem os organizadores. O período de preparação tem sido um tormento para os moradores e algumas obras afetaram até o meio ambiente, afirma o jornal.

Destaque no jornal francês Le Figaro desta segunda-feira para os JO de 2016.
Destaque no jornal francês Le Figaro desta segunda-feira para os JO de 2016.
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A Cidade Maravilhosa saiu de um longo período de sonolência e se transformou em um imenso canteiro de obras a céu aberto, de acordo com a reportagem assinada pela correspondente Lamia Oualalou.

A visita ao Museu do Amanhã, inaugurado em dezembro, é o ponto de partida para analisar os efeitos já visíveis das mudanças que os Jogos trouxeram à cidade.

A obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que virou até motivo de piada, não deixa ninguém indiferente. O museu foi escolhido pela prefeitura para simbolizar a revitalização do centro do Rio desde que a cidade foi escolhida para sediar as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016.

Os cariocas redescobrem certas áreas, como a zona portuária do centro com a inauguração do Museu do Amanhã, mas o cotidiano se tornou um "inferno" por causa de muitas obras. E mais: "a metamorfose urbana do Rio não é unanimidade", comenta o jornal.

Comparação com Barcelona

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, diz que as Olimpíadas do Rio deixarão um imenso legado, comparável com as de 1992 para Barcelona. Le Figaro recorda que durante uma cerimônia oficial, há um ano dos Jogos, Bach comemorou que 63% dos habitantes do Rio de Janeiro terão acesso a transportes públicos, contra 13%, em 2009.

Mas nem todos pensam que a cidade vai melhorar depois da passagem da tocha olímpica, diz a reportagem. O grande problema urbano do Rio - o hiato entre as áreas residenciais e comerciais-, não será resolvido.

O texto traz índices para revelar a disparidade: o centro oferece 38% dos empregos, mas apenas 8% dos moradores vivem ali. Por outro lado, 31% das construções de novas moradias são na Barra da Tijuca, onde a oferta de emprego é de apenas 7%. Concretamente, os cariocas passa cerca de quatro horas em congestionamentos, informa o diário.

O Parque Olímpico tem 94% das obras concluídas.
O Parque Olímpico tem 94% das obras concluídas. Renato Sette Câmara/Prefeitura do Rio

Aumento das desigualdades

Entrevistado por Le Figaro, o urbanista Fabrizio de Oliveira, da UFRJ, estima que que a única herança do evento será o aumento das desigualdades. Com os Jogos, somados ao fluxo de capitais ligado à exploração petrolífera, os preços dos imóveis subiram até 260% em cinco anos, tornando as áreas centrais inacessíveis para as classes média e pobre.

O jornal lembra ainda que 20 mil famílias tiveram que ser desalojadas devidos às obras das Olimpíadas e foram obrigadas a se instalar a 40 km de distância, bem longe dos centros urbanos e dos empregos.

O biologista Marcelo Mello denuncia ainda que a construção de um campo de golfe, que será usado por quatro dias durante os Jogos dizimou cerca de 200 espécies de animais, muitas delas ameaçadas de extinção.

A prefeitura se vangloria de não ter gasto um tostão com a obra esportiva, mas o jornal lembra que, em troca, o proprietário do terreno ganhou o direito de construir diversos prédios com uma vista espetacular para a praia.

Sem a obrigação de promover uma mistura de classes sociais, o empreendimento virou um lucrativo negócio para os investidores em imóveis comerciais, observa o artigo.

Vitrine questionável

Le Figaro diz ainda que o Rio de Janeiro é o estado brasileiro mais afetado pela crise econômica do país e além de sofrer com a queda dos preços do petróleo, também sente a paralisia provocada pelo escândalo da Petrobras. O cenário inverteu a tendência, e provocou a queda dos preços dos imóveis e até do interesse em áreas comerciais.

A situação, indica o jornal, pode obrigar os imóveis destinados a escritórios a se transformarem em alojamentos sociais. As Olimpíadas não costumam ser a vitrine mundial como normalmente propalada, e no caso do Rio de Janeiro, servirão para mostrar que o futuro da cidade dependerá mais dos próprios cariocas, conclui o jornal.

 

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