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Linha Direta

Argentina: desafio do novo presidente Macri é conquistar desconfiados

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O que ninguém esperava há um mês aconteceu: Mauricio Macri é o novo presidente eleito. E com esse pedido de união e de apoio, Macri fez o seu discurso de vitória. O medo a uma continuidade do chamado kirchnerismo foi maior do que o medo a uma mudança. Depois de 12 anos do regime dos Kirchner, o período mais longo de governo da história democrática do país, a Argentina entra num novo ciclo político

Mauricio Macri comemora vitória nas eleições presidencias na Argentina. 22 de novembro 2015.
Mauricio Macri comemora vitória nas eleições presidencias na Argentina. 22 de novembro 2015. REUTERS/Enrique Marcarian
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Marcio Resende, correspondente da RFI Brasil em Buenos Aires

Mauricio Macri conseguiu derrotar o candidato da presidente Cristina Kirchner, Daniel Scioli. Mas a diferença foi muito menor do que as sondagens indicavam. Menos de três pontos de diferença, apenas 2,8 pontos. O curioso é que no primeiro turno, em 25 de outubro, Scioli superou Macri pela mesma diferença: apenas 2,9 pontos. Uma clara demonstração de como o jogo se inverteu na disputa mais acirrada da história em apenas um mês.

Essa escassa diferença revela que o país continua dividido quase ao meio entre prós e contra Kirchner.Por isso, no seu discurso de vitória, Macri ressaltou a necessidade de união de todos, mesmo daqueles que não votaram nele.

Expectativa

Ao longo dos últimos 12 anos, os Kirchner fizeram do confronto um estilo de governo e de demonstração de poder. Geraram inimigos reais ou irreais para desviar a atenção, para disciplinar o adversário ou para unir militantes.

O que vamos ver agora é um presidente com um estilo de negociação, de diálogo e de acordos. Na verdade, o desafio do Macri é sobretudo normalizar os ânimos, a política e a economia.

Os Kirchner nunca fizeram uma reunião de ministros. Governaram de forma pessoal. Vamos ver agora menos protagonismo do comandante e mais da equipe, mais poder delegado e mais reuniões de trabalho coletivo.

É preciso voltar sete anos para encontrar uma coletiva da presidente Cristina Kirchner com a imprensa. E antes disso, só quando o marido dela, Néstor Kirchner, foi candidato a presidente em 2003.

Desafios

Menos de três pontos de diferença terão implicâncias políticas. Macri deverá construir poder. Nesta primeira fase, deverá seduzir a outra metade dos argentinos que desconfiam dele. Desconfiam que ele vai governar para uma elite, que vai acabar com os planos assistencialistas, com os subsídios e que vai favorecer os mercados.

E Macri vai precisar operar com o cuidado de um cirurgião na hora de tomar medidas econômicas para não perder o apoio da outra metade que apostou nele.  Por isso, no discurso de vitória, ele pede não só união e o apoio dos que não votaram nele, mas também que não o abandonem.

No Parlamento, Macri vai precisar construir uma maioria que não tem. Vai precisar formar alianças.Terá de negociar consensos e acordos com a oposição. Essa oposição estará em disputa: Sergio Massa, o terceiro colocado, e Cristina Kirchner devem brigar por liderar a oposição.

Mas Macri tem uma boa vantagem. O partido dele vai governar o Distrito Federal, a província de Buenos Aires e o Estado. Macri terá os três principais governos, algo que nem o kirchnerismo conseguiu em 12 anos.

Economia

O desafio econômico é o mais complicado e urgente. O país tem graves problemas de financiamento. Acabaram-se os dólares. O Banco Central está quebrado. Será necessário negociar com os fundos especulativos para poder ter acesso ao crédito e gerar a confiança suficiente para atrair investimentos.

Macri prometeu acabar com as fortes barreiras cambiais no dia seguinte à sua posse em 10 de dezembro. Até lá, aliás, a presidente Cristina Kirchner poderá continuar a tomar medidas que compliquem ainda mais o próximo governo.

Macri já insinuou que vai procurar um pacto de governabilidade com empresários, sindicatos, banqueiros e legisladores.

Brasil

Para o presidente eleito, a relação com o Brasil será a mais importante. Depois que assumir a Presidência, Macri vai fazer a sua primeira viagem internacional ao Brasil para se reunir com a presidente Dilma Rousseff. Macri vai propor a Dilma um jogo franco de fortalecimento da relação da Argentina com o Brasil como ponto de partida para encarar a negociação do Mercosul com a União Europeia por um acordo de livre comércio e também uma convergência do Mercosul com a chamada Aliança do Pacífico, bloco formado por Peru, Colômbia, Chile e México.

Macri também promete acabar com as barreiras que hoje emperram o comércio bilateral com o Brasil.Marcio Resende, correspondente da RFI Brasil em Buenos Aires

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