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Metade dos professores franceses contrata seguro contra agressões

O aumento do número de professores que recorrem a apólices de seguro para se protegerem de agressões de pais e alunos ganhou a manchete do jornal Aujourd'hui en France desta segunda-feira (12). O fenômeno revela ao mesmo tempo a tensão no meio escolar e o sentimento de desamparo dos profissionais de ensino em relação à direção das escolas e ao governo.

Escola primária na França.
Escola primária na França. (Photo : AFP)
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Segundo o jornal Aujourd'hui en France, um em cada dois professores franceses já recorreu a um contrato de seguro para responder na justiça ou na delegacia de polícia acusações de pais e alunos. É uma forma de se protegerem das muitas formas de agressões das quais se sentem vítimas.

No total, 461 mil professores no país já optaram por uma proteção jurídica. O número de contratos aumentou em média 2,7% entre 2011 e 2014, segundo o diário. Além de ser obrigatório, os professores argumentam que se sentem mais protegidos porque não contam com o apoio do Estado, que já enfrenta uma "burocracia muito pesada".

Contratos antiagressões

Muitas vezes os professores são ameaçados, insultados por alunos, perseguidos por pais, e não sabem como reagir. Mas duas corretoras de seguros propõem um contrato de assistência jurídica que se tornou um verdadeiro sucesso. As apólices já ficaram conhecidas como "seguro anti-insulto" ou "antiameaça" e os preços variam de € 34,90 (R$ 149) a € 39 (R$ 167) por ano. Os valores garantem custos com honorários de advogados, apoio psicológico e eventuais garantias por danos físicos.

Segundo Aujourd'hui en France, as seguradoras tratam cerca de 9 mil casos por ano, sendo que 36% dizem respeito a ameaças e insultos de pais e alunos, e 32% de denúncias por difamação.

Um dos responsáveis por uma corretora de seguro explica que o aumento se deve também a uma mudança da sociedade francesa, que recorre cada vez mais à justiça pra resolver conflitos. "Antes, os incidentes se resolviam de maneira amigável, agora menos", comentou o profissional.

Falsa acusação contra professora

Além de se defender de acusações, os contratos permitem aos professores também entrar com ações contra pais e alunos, quando se sentirem hostilizados. O jornal constatou que o ministério francês da Educação abre poucos inquéritos para defender seus funcionários e, na maioria das vezes, os conflitos são sempre favoráveis às crianças.

Aujourd'hui en France traz o exemplo de uma professora de uma escola infantil nos arredores de Paris, que preferiu usar o nome falso de Laurence para contar como foi vítima de uma falsa acusação. Primeiro, a mãe de uma criança que apareceu com a marca de um tapa no rosto tentou responsabilizar diversos colegas do filho. Dois deles nem estavam na escola no dia da suposta agressão. Até que a mãe decidiu acusar a própria professora de ter agredido a criança.

Laurence diz ter entrado em pânico e recorreu ao seguro para lidar com a situação, depois de ter se sentido "abandonada" pela direção da escola. Ela chegou a prestar depoimento na delegacia de polícia. Meses depois, a investigação concluiu que a criança tinha sido agredida por um tio.

Aumento não surpreende

Em entrevista ao Aujourd'hui en France, Georges Fotinos, especialista sobre violência nas escolas francesas, disse não se surpreender com o número crescente de professores que procuram apólices de seguros.

Mais do que a campanha de marketing eficaz das corretoras de seguros, Fotinos constatou um aumento de agressões dos pais de alunos. Em 2014, diz, um em cada quatro diretores de escolas recebeu ameaça pelo menos uma vez no ano. De acordo com o especialista, as agressões físicas são raras, mas o assédio moral se tornou recorrente por parte de pais e alunos contra os profissionais de ensino.

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