Jornais trazem trechos de livro com imagens e relato de tortura do regime sírio
Os jornais desta quinta-feira (1) analisam os primeiros bombardeios da aviação russa na Síria, executados ontem, e a abertura de um inquérito, na França, visando o presidente Bashar al-Assad, acusado de crimes contra a humanidade. A pedido do Ministério das Relações Exteriores francês, o Ministério Público de Paris investiga há dez dias o ditador de Damasco, com base em 45 mil imagens feitas por um ex-fotógrafo militar sírio de 10 mil dissidentes torturados nas prisões do regime entre 2011 e 2013.
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A imprensa francesa publica hoje trechos do livro "Operação César", da jornalista Garance Le Caisne. O livro conta a história de um ex-fotógrafo militar sírio, que recebeu o codinome César, refugiado no solo francês sob forte proteção policial. O fotógrafo fazia parte de uma equipe de legistas da Polícia Militar de Damasco e conseguiu extrair da Síria um imenso arquivo fotográfico de 45 mil imagens de 10 mil dissidentes torturados nas prisões do regime entre 2011 e 2013. Seu testemunho e as imagens serão publicados no livro "Operação César" (Editora Stock), com lançamento previsto no dia 7 de outubro.
Em entrevista à revista L'Obs, o ex-fotógrafo afirma que seu objetivo é enviar uma mensagem de alerta àqueles que pensam em se aproximar de Bashar al-Assad. "Um ditador sanguinário", segundo César. Os cadáveres que ele fotografou sistematicamente, em vários ângulos, a pedido de sua hierarquia militar, revelam os porões do regime e toda a sua crueldade.
O ex-fotógrafo contou à jornalista francesa que ele trabalhava em uma equipe de legistas e não tinha direito a abrir a boca. Sua missão era fotografar os cadáveres de prisioneiros em várias posições. César diz que nunca viu tamanha monstruosidade. Os corpos das pessoas torturadas apresentavam marcas de cortes profundos, olhos e dentes arrancados, vestígios de espancamento e queimaduras por cabos elétricos.
César vive hoje na França, com sua família, sob forte proteção policial. As imagens foram analisadas por especialistas da ONU e ex-procuradores internacionais que atestam sua legitimidade.
Bombardeios russos na Síria
Os jornais franceses também analisam hoje a primeira operação aérea da Rússia na Síria. Le Figaro destaca que esta é a primeira vez que a Rússia entra oficialmente em guerra longe de suas fronteiras desde a invasão do Afeganistão, há 36 anos.
Toda a imprensa concorda com as declarações de dirigentes europeus e americanos de que o presidente russo, Vladimir Putin, não bombardeia prioritariamente alvos da organização terrorista Estado Islâmico, e sim opositores ao regime de Assad. Segundo Le Figaro, na forma, Putin age de acordo com a coalizão que combate os jihadistas, mas na prática seu principal objetivo é manter Assad no poder.
O jornal Les Echos relata que a coalizão nacional síria de oposição afirma que os bombardeios russos mataram 36 pessoas, todos civis da região de Homs e Hama. O Ministério da Defesa russo diz o contrário, que os 20 ataques aéreos executados ontem atingiram oito posições do grupo Estado Islâmico e destruíram um posto de comando da organização radical.
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