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“O Iraque e a Síria acabaram”, diz pesquisador

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Há um ano, a França se juntou à coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e começou a atacar o grupo Estado Islâmico no Iraque. No início do mês, os franceses anunciaram que também vão participar dos bombardeios na Síria. Especialistas afirmam que os ataques conseguiram impedir os terroristas de controlar uma área muito maior do Oriente Médio, mas são ineficientes para terminar com o caos na região.

Combatente curdo observa rua de Cizre, na fronteira entre a Síria e a Turquia.
Combatente curdo observa rua de Cizre, na fronteira entre a Síria e a Turquia. REUTERS/Stringer
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O pesquisador Karim Pakzad, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), de Paris, considera que a primeira limitação das operações ocidentais é militar: sem tropas no solo, não será possível destruir as organizações extremistas.

“Os ataques não vão conseguir acabar com o Estado Islâmico, mas puderam colocar um fim ao avanço dos jihadistas no Iraque e impediram que o grupo espalhasse a sua influência além dessa zona, como na Jordânia, no Líbano ou outros países”, indica.

Os confrontos entre os diferentes grupos religiosos e étnicos da região acabaram se intensificando com a Primavera Árabe. O pesquisador Fabrice Balanche, do Washington Institute for Near Est Policy, avalia que, com ou sem operações ocidentais, a situação sairia do controle dos governos que comandavam a Líbia, o Egito ou a Síria. E quando as potências internacionais entraram em cena, amplificaram as divisões.

“O conflito se eterniza na Síria porque há um confronto entre dois blocos: o russo-iraniano, que apoia Bashar al-Assad, e o formado por Estados Unidos, União Europeia e países árabes do Golfo, que apoia a rebelião síria. Todos nós prolongamos, portanto, o conflito”, explica. “É por isso que a situação é muito mais caótica na Síria do que foi na Tunísia, no Egito. Na Síria, a metade da população perdeu a sua casa e pode, potencialmente, vir para a Europa.”

Pakzad considera um erro pensar que a intervenção militar ocidental estimulou a expansão dos extremistas, como afirma o ditador sírio, Bashar al-Assad.

“No Iraque não é a mesma coisa que na Síria. No Iraque, o caos e a instabilidade são resultado da intervenção ocidental, da invasão pelos Estados Unidos. Na Síria, houve manifestações democráticas que tiveram uma forte repressão pelo regime, e essa oposição logo se tornou uma luta armada”, destaca o consultor internacional. “Mas já no início, foram os países vizinhos, a Turquia e a Arábia Saudita, que começaram a apoiar a oposição síria.”

Fim do Iraque e da Síria

Nesse contexto, ao fazer ataques aéreos ao grupo Estado Islâmico, os ocidentais apenas gerenciam a crise, mas não resolvem o problema de fundo. Agora, com a participação mais ativa da Rússia nos combates, a tendência é que todos os atores sejam obrigados a sentar à mesa para encontrar uma saída política para as guerras em curso.

“O que todo mundo sabe, mas ninguém quer dizer publicamente, é que a solução vai ser redefinir o Oriente Médio. O Iraque e a Síria acabaram”, constata Balanche. “As diferentes comunidades – sunitas, xiitas, curdos – não conseguem mais viver juntas, por isso vai ser necessário recortar os territórios. Ninguém ousa dizer isso porque, quando se mexe nas fronteiras e se cria novos Estados, tudo pode degringolar muito rápido, como ocorreu no Sudão. Mas no fim, é isso que vai acabar acontecendo.”

Crise migratória

Em meio a tanta instabilidade, milhões de refugiados deixam as suas casas para tentar a vida na Europa. O fenômeno não é novo - mas agora que as fronteiras no norte da África estão sem controle, ficou mais fácil para os migrantes arriscarem a travessia.

“Quando se desestabiliza um país, mudando o governo, como aconteceu na Líbia, é muito difícil para o novo governo manter o controle do território. Todos esses grupos ‘islamomafiosos’ tentam aproveitar esse vazio, entre eles vários que só usam o nome islamita, mas no fundo são traficantes, contrabandistas de armas, de migrantes”, diz Balanche, que também é diretor de pesquisas na Universidade de Lyon 2.

A invasão americana no Iraque, partir de 2003, havia gerado a maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial. Agora, os refugiados sírios tomaram essa triste posição: 4 milhões de sírios fogem da guerra que arrasa o país há mais de quatro anos.
 

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