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Para analistas, impeachment de Dilma demonstraria fragilidade da democracia

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O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deve começar a analisar em breve os pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, embora já tenha adiantado que deve negar boa parte das ações. A oposição ao governo poderá, então, questionar a recusa, abrindo espaço para votação direta na Câmara. Se aprovado pela maioria, o processo poderá ser formalmente aberto. Ainda que considerado improvável por uma boa parte dos analistas políticos, eles alertam que, hoje, as consequências econômicas e políticas de um impeachment seriam graves, além de demonstrar a fragilidade da democracia brasileira.

Muitos analistas acreditam que impeachment da presidente Dilma Rousseff é improvável.
Muitos analistas acreditam que impeachment da presidente Dilma Rousseff é improvável. Lula Marques/ Agência PT
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Cunha diz que não tem pressa para examinar os pedidos de impeachment contra a presidente, adiando os planos da oposição de fazer evoluir o processo rapidamente. Por outro lado, Dilma também estaria montando uma força-tarefa, com ministros de confiança, para barrar o movimento pró-impeachment. Como o processo leva tempo e pode evoluir de diferentes maneiras, os analistas ouvidos pela RFI acreditam que ainda é cedo para prever as consequências que ele provocaria. A unanimidade, no entanto, é sobre a quantidade e a gravidade delas.

Para Luiz Domingos, pesquisador do Observatório de Elites Políticas e Sociais do Brasil, da Universidade Federal do Paraná, a saída de Dilma nesse momento só ressaltaria a instabilidade política do país, a fraqueza da democracia brasileira e afastaria os investidores internacionais. "A análise dos grandes atores e investidores econômicos leva em conta a instabilidade política e um impeachment sinaliza uma crise importante. Uma perspectiva que também pode indicar que, se um governo foi tirado do poder, o que impede que outro governo seja retirado também?", questiona.

Para ele, a instabilidade institucional é um sintoma de uma democracia fraca. "Um governo não pode ser substituído por quaisquer razões políticas. Se um discurso que duvida dos resultados das eleições é considerado legítimo, ele mostra que temos muito ainda a construir do ponto de vista da solidez democrática brasileira", considera.

Meia-volta

Ciente das desvantagens que um impeachment poderia acarretar para o Brasil, atores políticos, investidores e a própria mídia, até então apoiando a saída de Dilma, voltaram atrás nas últimas semanas. Para o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor emérito da Universidade Paris 4 Sorbonne e da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, há duas principais razões para esse recuo: Cunha na presidência e complexidade do processo.

De fato, durante o período de transição, o presidente da Câmara, "a pessoa menos confiável dos Três Poderes", segundo Alencastro, assumiria o cargo por 120 dias. "Cunha foi acusado e está sob investigação no Ministério Público, é um político aventureiro, envolvido com os setores evangélicos mais integristas... Esses quatro meses de presidência dele seriam uma incógnita e muitos temem o desencadeamento do impeachment por isso", avalia.

Alencastro ressalta que a segunda principal razão é que o processo de impeachment é longo e complicado, especialmente no caso de Dilma, eleita democraticamente e contra quem, até o momento, denúncias de corrupção não foram comprovadas. "Não é simples tirar da presidência um candidato eleito pelo sufrágio livre universal", sublinha.

Analistas descartam saída de Dilma

Apesar das especulações, muitos analistas seguem descartando a concretização da saída da presidente, como o cientista político Frédéric Louault, da Universidade Livre de Bruxelas. "O que existe hoje é um movimento pró-impeachment no governo e uma parte da sociedade civil e da imprensa que apoiam essa mobilização. Mas isso é apenas uma estratégia de pressão política porque não há provas contra Dilma. Para finalizar esse processo, tem que haver mais do que um sentimento de desconfiança: tem que haver provas", ressalta.

Domingos pensa que nem mais a própria oposição acredita no impeachment, mas segue apoiando a ideia para enfraquecer ainda mais o PT e continuar incendiando o descontentamento de uma parcela da opinião pública. "A população prefere essa medida extraordinária porque não sabe as consequências do impeachment para a percepção do Brasil no exterior, para mercados e atores políticos internacionais."

Para ele, a estratégia adotada pela oposição é inconsequente. "Nós seremos em algum momento comparados a países como a Venezuela ou que sofreram golpes brancos, como o Paraguai. Isso se deve à própria classe política que atua de modo irresponsável perante a opinião pública. Faz essa encenação sobre o impeachment e acaba sabotando seu próprio meio de existência, que é a democracia."

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