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Fato em Foco

Entenda como a instabilidade nas bolsas chinesas afeta o Brasil

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Depois de registrarem um aumento acumulado de 150% em um ano, as bolsas chinesas agora amargam perdas de 30% em um mês. Esse movimento de correção dos preços das ações deve se prolongar a médio prazo, segundo analistas de mercado. Enquanto isso, países que têm um alto volume de negócios com a China devem ser afetados por esse período de instabilidade. É o caso do Brasil.

Investidor consulta informações da bolsa de Xangai.
Investidor consulta informações da bolsa de Xangai. REUTERS/Aly Song
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A queda das bolsas começou com a divulgação de uma série de indicadores negativos sobre a economia chinesa, mostrando que o país passa por uma desaceleração da atividade. Do outro lado do globo, o Brasil enfrenta uma crise econômica que não o ajuda a amortecer o impacto da queda nos mercados asiáticos. A exposição é maior porque os chineses são os maiores parceiros comerciais do Brasil.

“A China cresceu muito, mas de forma desordenada, com um governo totalitário que não é o melhor alocador de recursos na economia. Eu acho que a China vai pagar um preço e, quando pagar, isso vai afetar todo mundo em volta”, afirma Wilber Colmerauër, presidente da Emerging Markets Funding, uma consultoria de investimentos nos países emergentes baseada em Londres. “E nós estamos naquele barquinho que já estava com vários furos, tínhamos água dentro do barco antes de vir a onda. Isso tudo vai botar ainda mais pressão em cima de tudo, e nós não temos as ferramentas para resolver.”

Queda nas exportações

O desaquecimento da economia chinesa deve resultar na queda das importações pelo país. No caso do Brasil, esse cenário significa menos exportação de commodities.

“Se a China realmente deteriorar, vai haver uma diminuição de procura pelos produtos brasileiros e isso vai nos afetar, principalmente numa época em que a economia brasileira já está fraca”, analisa.

Dólar em alta

José Roberto Securato Júnior, diretor da Saint-Paul Advisors, em São Paulo, avalia que a correção nas bolsas chinesas é “normal”. Ele destaca que, por enquanto, não existe um movimento de pânico no mercado, e observa que, de qualquer maneira, o Brasil já não era mais um país tão atrativo para investimentos.

“A demanda por Brasil está muito baixa. Esse momento de volatilidade não nos ajuda, mas não acredito que piore muito porque a situação não era muito favorável antes”, sublinha. “Há um impacto no câmbio, porque os investidores internacionais acabam fechando posições nos emergentes em geral e estão retirando dólares do Brasil, o que atinge o câmbio. Mas acho que esse ‘efeito China’ será provisório.”

Nesta semana, em meio às turbulências nos mercados, o dólar registrou o valor mais alto em 12 anos, em relação ao real. Mas para o economista Gilmar Masiero, especialista nos países asiáticos e professor da USP, essa cotação tem pouca relação com a tensão nas bolsas chinesas.

“Não tem nada a ver com os chineses: tem a ver com a administração interna do país. Todos vinham falando que o câmbio não estava no lugar”, ressalta. “A maioria dos analistas considera que a cotação de R$ 3,2 seria uma posição de equilíbrio para a nossa moeda.”

Reação do governo

Em meio ao clima de incertezas, o governo chinês tem se esforçado para conter a queda das ações, e chegou a proibir a venda de papéis por grandes investidores. Securato Júnior julga as intervenções apropriadas.

“Se você não frear, você tem um movimento de manada que não é racional. É necessário acontecer esse freio para as pessoas pararem, pensarem, se adaptarem e voltarem a negociar, nas novas condições”, explica.

Masiero acha que é precipitado classificar esse momento de instabilidade como sendo o estouro de uma “bolha chinesa”, ao contrário do que alguns analistas têm evocado. “Eu não vejo dessa forma, até porque se retrocedermos a 10 anos atrás, na época da bolha ‘dot com’, o pessoal falava a mesma coisa sobre a China – mas o problema maior estava acontecendo nos Estados Unidos”, destaca. “Da mesma forma, durante a crise asiática, houve muita especulação sobre a China, mas ela navegou em mares pouco amistosos e conseguiu manter a sua trajetória de crescimento econômico e, ainda hoje, é o país que mais cresce no mundo.”

O professor da USP aponta que essa pode ser uma oportunidade para desenvolver o comércio com outras economias asiáticas promissoras, como a indiana - que deve ocupar o lugar da China no posto de país que mais cresce no planeta.

 

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