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Vitória do "não" na Grécia abala estrutura da União Europeia

A vitória do "não" no referendo sobre a proposta de acordo dos credores à Grécia domina as manchetes nesta segunda-feira (6). Os jornais trazem chamadas de capa fortes e, às vezes, de sentido figurado sobre o assunto. A imprensa francesa teme o pior: a eventual saída da Grécia da zona do euro, o que representaria o fracasso de um projeto político e econômico que levou décadas para ser construído.

A vitória do "não" no referendo sobre a proposta de acordo dos credores à Grécia domina as manchetes nesta segunda-feira (6).
A vitória do "não" no referendo sobre a proposta de acordo dos credores à Grécia domina as manchetes nesta segunda-feira (6).
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"O pontapé grego a um novo plano de austeridade", diz a manchete do diário popular Aujourd'hui en France. Para esse jornal, o 'não' que saiu das urnas, "no país que é o berço da democracia", não significa uma rejeição à Europa. "Os gregos recusaram o remédio amargo que foi apresentado a eles pelos credores", avalia o Aujourd'hui en France. "A Grécia vive mais uma crise humanitária do que econômica", afirma o editorial.

"Não é uma questão de perdoar ou esquecer os erros dos governos precedentes, que, por causa da corrupção, contribuíram para a situação dramática atual, mas o povo grego, e principalmente a classe média, disseram 'chega de austeridade'." O caminho escolhido pelos gregos é incerto, mas eles preferiram, mesmo assim, arriscar no desconhecido do que continuar presos em uma conjuntura sem saída, conclui o jornal.

Projeto de várias gerações ameaçado

"Esse 'não' grego sacode a Europa", constata preocupado o jornal Les Echos. Em seu editorial, o diário econômico afirma que a zona do euro vive, hoje, a crise mais profunda de sua curta história. "O bloco poderá sair reforçado dessa crise − mas isso exige uma liderança política forte, que nenhum dirigente europeu demonstrou até agora −, ou poderá sair enfraquecido."

Les Echos teme que os livros de história do futuro mostrem que os europeus não estavam suficientemente maduros para a experiência da união monetária. "O projeto de uma geração inteira será aniquilado, uma situação lamentável, no momento em que outras regiões do mundo reforçam e ampliam sua influência." Segundo Les Echos, o premiê grego, Alexis Tsipras, continua apostando que os europeus têm mais a perder com uma saída da Grécia da zona do euro do que com sua permanência no bloco da moeda única.

Para o diário conservador Le Figaro, "a Grécia deu um grande passo para sair da zona do euro". O jornal nota que as ameaças feitas aos gregos não surtiram resultado. "Os gregos decidiram seguir seu primeiro-ministro em sua aventura maluca." Em vez de aceitarem um acordo com os credores, eles optaram pelo enfrentamento até o fim, o que representa o prelúdio de um salto no desconhecido. O resultado do referendo tem o mérito de ser claro: os gregos fizeram uma escolha democrática que deve ser respeitada, mas haverá a contrapartida do sufoco financeiro, adverte o Figaro.

Trovão na Europa

Segundo o jornal comunista L'Humanité, os gregos enviaram um trovão à Europa da austeridade. O diário considera a escolha dos gregos "lúcida, corajosa e poderosa".

Outro jornal de esquerda, o Libération, que na semana passada chamou Alexis Tsipras de irresponsável por ter convocado o referendo, diz hoje que a Grécia "se lançou em uma odisseia solitária digna das provas enfrentadas por Ulisses". O diário, que defende um acordo para a Grécia ficar na zona do euro, compara o primeiro-ministro grego a Zeus, o deus da mitologia grega que é "pai dos deuses e dos homens", estimando que a vitória do "não" provoca um terremoto na Europa.

Libération questiona: "os europeus poderão rejeitar um povo que legitima sua rebelião pelo sofrimento?". "Será que o sonho da Europa unida, um projeto defendido por várias gerações depois das duas grandes guerras, baseado em valores humanistas, vai desaparecer?".

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