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Linha Direta

Erdogan pode perder maioria no Parlamento em eleições neste domingo

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As eleições legislativas deste domingo (5) representam um sério teste para o presidente Recep Tayyip Erdogan. Ele, que foi primeiro-ministro entre 2003 e 2014, chegou à presidência no ano passado e, desde então, vem tentando ampliar os poderes de seu novo cargo. Pelas regras do parlamentarismo turco, as grandes decisões executivas são de responsabilidade do primeiro-ministro enquanto o presidente exerce um poder simbólico.

Imerso em escândalos, o AKP do presidente Erdogan luta para manter maioria na Câmara
Imerso em escândalos, o AKP do presidente Erdogan luta para manter maioria na Câmara REUTERS/Murad Sezer
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Para convocar um referendo constituinte e outorgar maiores poderes a si mesmo, Erdogan precisa do apoio de pelo menos 330 dos 550 deputados. Dois terços do Parlamento são necessários para passar uma reforma constitucional sem consulta popular. Com cerca de 40% das intenções de votos, o conservador AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento, do presidente e do primeiro-ministro, Ahmet Davotglu) vê sua hegemonia seriamente ameaçada pela primeira vez em 13 anos.

Por isso, Erdogan, que nunca demonstrou profunda preocupação com limites democráticos, tem feito campanha agressiva, como explica o correspondente da RFI em Istambul, Sandro Fernandes: "Ele presidiu, por exemplo, reuniões do Conselho de Ministros, o que não é função do presidente. Erdogan ignorou a neutralidade exigida ao presidente durante a campanha eleitoral e tem participado ativamente dos comícios do partido governista AKP".

Fernandes afirma que ele tenta igualmente "capitalizar em votos a crescente polarização entre religiosos e seculares". Indício disso é o fato de que o livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, tem se tornado cada vez mais presente em suas aparições públicas.

Não é a toa: a sigla do presidente está no centro de uma série de escândalos. Além das acusações de corrupção em larga escala, "a sociedade turca nota um crescente autoritarismo por parte do governo, que acaba de promulgar leis que dão mais poder para a polícia agir sem um mandado. E os turcos também vivem o aumento do controle sobre a Internet. A insatisfação contra tudo isso a gente viu em forma de protestos anti-governo na praça Taksim há exatos dois anos e a gente pode ver nas urnas no próximo domingo", explica o correspondente.

Oposição

Três partidos podem cruzar a barreira dos 10% necessários para eleger deputados segundo a lei eleitoral turca. O mais representativo deles é o tradicional opositor socialdemocrata a Erdogan, o Partido Republicano do Povo (CHP), que terminou num distante segundo lugar em todas as eleições desde 2002, mas tem o apoio de quase 30% da população. Em seguida, vem o Partido do Movimento Nacionalista (MHP), de extrema-direita, com 15 a 17% das intenções de voto. O Partido Democrático dos Povos (HDP), que é tido como a versão turca do Syriza grego ou do Podemos espanhol, pode obter até 12%.

O HDP "é a grande incógnita destas eleições", explica Sandro Fernandes. "O partido se apresenta pela primeira vez não como representante da minoria curda, mas também como uma opção à esquerda para todos os turcos. Se o HDP superar o limite de 10% dos votos em todo o país, entra no Parlamento com 50 deputados, o que tornaria difícil para o AKP conseguir a maioria, embora provavelmente ainda consiga governar sozinho".

Violência nas ruas

Esquerda e direita não se enfrentam só nas urnas, mas nas ruas também. "Ontem (quinta-feira, 4), a polícia foi chamada para conter violentos confrontos entre jovens nacionalistas e pessoas que apoiam o Partido Democrático do Povo. Os embates aconteceram em Erzurum, no leste da Turquia. Cerca de mil militantes nacionalistas tentaram invadir uma reunião pública organizada pelo chefe do Partido Democrático do Povo, Selahattin Demirtas".

A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água e ao menos 38 pessoas ficaram feridas. "Os manifestantes também colocaram fogo em um micro-ônibus com as cores do partido curdo. O motorista ficou gravemente ferido. Na quarta-feira, na cidade de Bingol, também no leste do país, o motorista de um ônibus de campanha também do partido curdo foi morto a tiros", conta o correspondentes.

O principal alvo das violências tem sido justamente o HDP, que pode definir as eleições. "No mês passado", explica Sandro Fernandes, "duas explosões contra as sedes do partido nas cidades de Adana e Mersin, no sul, deixaram vários feridos".

Para ouvir a íntegra do Linha Direta desta sexta-feira (5), clique no link acima.

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