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Destruição de relíquias pelo grupo Estado Islâmico é irreversível, dizem especialistas

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Depois das destruições de sítios arqueológicos e de tesouros milenares nas cidades de Mossul, Nimroud e Hatra no Iraque, e de Mari, na Síria, é Palmira que está ameaçada pelo grupo Estado Islâmico. Historiadores e arqueólogos estão desesperados com a possível devastação do local que guarda resquícios únicos do império greco-romano no Oriente Médio. Eles avaliam que a maioria dos estragos promovidos pelos jihadistas nos últimos meses são irreversíveis.

Grande Mesquita de Samarra, com seu famoso minarete espiral, Patrimônio Mundial da UNESCO no Iraque é um dos tesouros ameaçados pelo Grupo EI.
Grande Mesquita de Samarra, com seu famoso minarete espiral, Patrimônio Mundial da UNESCO no Iraque é um dos tesouros ameaçados pelo Grupo EI. AFP PHOTO/STR
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"Há monumentos que foram completamente destruídos e outros locais que podemos tentar reconstituir, se tivermos todos os documentos necessários para isso. Ainda assim, vamos perder em termos de autenticidade. Algumas obras danificadas não poderão jamais ser recuperadas", lamenta o professor de Arqueologia Oriental da Paris-1-Panthéon-Sorbonne. Ele trabalhou durante 20 anos no sítio arqueológico de Mari, na Síria, onde dirige uma missão arqueológica francesa desde 2005.

Butterlin conta que arqueólogos e historiadores estão desesperados com a destruição empreendida pelo grupo Estado Islâmico no Oriente Médio. "Todo o ataque contra o patrimônio mundial é uma agressão contra toda uma visão de mundo que se desenvolveu graças, particularmente à Unesco, dessa ideia que os tesouros que precisam ser conservados a qualquer preço", declara, criticando a demora das autoridades em se mobilizar contra a continuidade das destruições e do tráfico de objetos valiosos.

Ideologia jihadista

As ações dos jihadistas são justificadas pela necessidade de destruir ícones e símbolos que possam ser adorados, o que fere a ideologia do grupo Estado Islâmico. Mas o vandalismo também serve para financiar os radicais. O tráfico de tesouros milenares orientais, que são vendidos ilegalmente a colecionadores é, aliás, a segunda atividade mais lucrativa dos radicais, só perdendo para a exportação de petróleo.

A Unesco classifica as destruições como "crimes contra a humanidade". Alarmada com a possível devastação de um dos sítios arqueológicos mais antigos e importantes do Oriente Médio, a organização promove uma imensa campanha para salvar Palmira dos jihadistas. "Não podemos permitir que esse patrimônio seja destruído. Ele é magnífico, extraordinário, e Palmira precisa ser preservada. Para protegê-la, estamos mobilizando toda a opinião pública internacional", diz a diretora-geral da Unesco, como Irina Bokova.

Joia única da arquitetura

Palmira se situa 240 quilômetros ao norte da capital síria Damasco. Os primeiros registros da cidade datam do século II A.C, sob o controle dos romanos. Ela guarda resquícios do império greco-romano e conta com um estilo que a torna uma joia única da arquitetura e do urbanismo.

"Palmira é uma cidade magnífica, conservada no deserto, um lugar espetacular. Ela foi encontrada por viajantes no século XVII, que ficaram hipnotizados por sua beleza. Fica realmente no meio do deserto e, quando chegamos, nos deparamos com essa cidade romana maravilhosa, com suas colunas, prédios, teatros e templos", descreve a diretora do laboratório Oriente e Mediterrâneo do Centro Francês de Pesquisa Científica (CNRS), Françoise Briquel-Chatonnet.

Estratégia de comunicação

Os jihadistas criaram uma forte estratégia de comunicação em torno da destruição dos patrimônios culturais. A devastação de museus e lugares religiosos, feita à base de marretas e explosivos, é cuidadosamente filmada e divulgada em sites extremistas. O apelo traz resultados. Milhares de objetos milenares são roubados e facilmente revendidos no mercado negro pelo grupo.

Recentemente dez países árabes aprovaram medidas para lutar contra a destruição do patrimônio arqueológico e o tráfico de antiguidades. Uma resolução já existente do Conselho de Segurança da ONU estimula os países a combater esses crimes, mas ela nem sempre é aplicada. Uma prova é que a exportação aos Estados Unidos de objetos milenares, originários da Síria, aumentou em 133% de 2012 a 2013 e do Iraque, em 1.302% no mesmo período.

Para o geógrafo e professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) Jorge Mortean, que é especialista em Estudos Regionais do Oriente Médio, os governos ocidentais também têm responsabilidade sobre a questão. "A Europa e os Estados Unidos armaram o grupo Estado Islâmico sabendo de suas intenções. Mas eles preferiram atender aos interesses da indústria bélica ocidental. É preciso que uma coalizão eficiente seja montada. Se ela não barrar o avanço do grupo Estado Islâmico, ele vai cotinuar destruindo os patrimônios culturais do Oriente Médio", avalia.

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