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Fato em Foco

Primeiras santas palestinas são canonizadas pelo papa Francisco

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Neste domingo, duas religiosas palestinas serão canonizadas pelo papa Francisco, se transformando nas primeiras santas palestinas da história contemporânea. O ato acontece no momento em que a Santa Sé passa a reconhecer o Estado palestino, a exemplo de 136 países.

Papa Francisco e presidente palestino, Mahmoud Abbas, se encontraram em Belém em maio de 2014.
Papa Francisco e presidente palestino, Mahmoud Abbas, se encontraram em Belém em maio de 2014. REUTERS/Thaer Ghanaim
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Mariam Bawardi era uma irmã carmelita dedicada à abertura de novos conventos e conhecida pelos dons místicos. Ela morreu em 1878. Já Maria Alfonsina Ghattas, falecida em 1927, ajudava idosos, pobres e crianças. As duas religiosas nasceram na Palestina durante a ocupação otomana, e se tornarão Santa Maria de Jesus Crucificado e Santa Maria Alfonsina.

As canonizações vão coroar um momento de especial aproximação entre a Igreja Católica e os palestinos. O presidente Mahmoud Abbas visita o Vaticano neste domingo, quando deve ocorrer a assinatura de um acordo sobre os direitos dos católicos nos territórios palestinos. O reconhecimento do Estado da Palestina pela Santa Sé também será formalizado, uma postura que o papa Francisco já adotava na prática, como ressalta o teólogo Paulo Fernando Andrade, da PUC-SP.

“O acordo é muito importante na definição desses pontos, inclusive pelo reconhecimento do estatuto jurídico da Igreja Católica por parte do Estado da Palestina”, afirma. “Em geral, as pessoas associam os palestinos ao islã, mas a realidade não é essa. Há muitos cristãos, muitos católicos na Palestina. É uma presença tão antiga quanto o início do cristianismo, até porque Belém fica na Palestina.”

Colonização em questão

A convivência entre os palestinos e os cristãos costuma ser pacífica na região. O colaborador científico da Universidade Livre de Bruxelas Sébastien Boussois, autor de várias obras sobre o conflito no Oriente Médio, lembra que a mulher de um ícone dos palestinos, Yasser Arafat, era cristã.

“Esse ato é muito simbólico, da parte do Vaticano, e terá repercussões. Destaco o forte e grande símbolo que é Belém, onde eu vou com frequência. O fato de o Vaticano reconhecer o Estado palestino é, de certa forma, um questionamento de anos e anos de ocupação de cidades extremamente importantes, como Belém”, destaca. “Há zonas de soberania cristã na Palestina, mas que não estão jamais ao abrigo de incursões por parte de Israel.”

O governo de Israel já demonstrou descontentamento com a decisão da Santa Sé. Boussois ressalta que a relação entre o Vaticano e Tel Aviv sempre foi “complicada”. Os católicos se opõem à ocupação dos territórios palestinos por Israel.

“Eu acho que a igreja é extremamente crítica em relação ao conflito, a começar pela maneira como Israel ocupou alguns espaços, como Jerusalém e o Santo Sepulcro. Israel está encarregado de proteger o túmulo de Jesus, segundo o sistema de repartição da região que nós conhecemos. Os israelenses navegam entre ocupação, vigilância e proteção, mas sabemos o quanto é importante para o papa que a proteção dos lugares santos para o cristianismo histórico seja pacífica”, explica Boussois, que também é presidente do Centro de Pesquisadores sobre o Oriente Médio (CCMO).

Processo de paz

Os dois especialistas avaliam que, sem a proclamação do Estado palestino, o processo de paz na região não vai avançar. O reconhecimento desse status por um número cada vez maior de países e instituições aumenta a pressão sobre Tel Aviv.

“Não é uma decisão contra o Estado de Israel. Em certo sentido, é a favor de Israel, na medida em que é o que vai permitir avanços na direção da paz na região”, observa Andrade. “O Estado de Israel é muito mais complexo do que o governo atual de Israel. O universo judaico é muito amplo e o papa já vinha de uma relação muito intensa com o mundo judaico, enquanto cardeal, inclusive porque muitos setores do mundo judaico reconhecem a necessidade de se estabelecer o Estado palestino para avançar no processo de paz.”

 

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