"Luz no fim do túnel" nas negociações sobre o acordo nuclear iraniano
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As grandes potências (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia e China, mais a Alemanha) e o Irã continuam reunidos nesta quinta-feira (2) em Lausanne, na Suíça, para concluir um acordo sobre o programa nuclear iraniano. Após oito dias de debates, uma luz apareceu no fim do túnel com a declaração otimista do negociador iraniano Ali Akbhar Salehi, que falou em "progressos significativos".
Deborah Berlinck, correspondente da RFI em Genebra
Na noite de quarta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, falou por telefone com o presidente Barack Obama e obteve a seguinte orientação: ignorem o prazo para o fim das negociações. Esse prazo estava marcado para 31 de março, a última terça-feira. Há uma enorme expectativa em Washington, nas capitais europeias e também no Irã de que, desta vez, um acordo saia.
A disputa entre as grandes potências e o Irã, em torno do controverso programa nuclear iraniano, já dura 12 anos. Americanos e europeus suspeitam que o governo de Teerã quer fabricar uma bomba nuclear. O Irã nega, diz que seu programa é pacífico e exige o direito de continuar com a pesquisa nuclear. Mas a desconfiança ocidental tem motivo: os iranianos esconderam um programa de enriquecimento de urânio durante 18 anos. Enriquecimento de urânio, quando acontece em grau elevado, é um passo importante para a fabricação da bomba atômica.
Questões em aberto
Algumas questões importantes continuam impedindo o fechamento do acordo. Uma delas é que o Irã quer que as sanções do Ocidente contra o país acabem de uma vez só. Já as grandes potências desejam que as sanções sejam suspensas progressivamente. Outro ponto delicado é o tipo de pesquisa nuclear que o Ocidente vai permitir que o Irã faça.
É interessante notar que se não houvesse a menor chance de acordo, as reuniões já teriam terminado. Foi o que aconteceu outras vezes no passado. Portanto, quanto mais é adiado o fim desta negociação, maior a expectativa de que este acordo faça história.
Rivalidades históricas
Desde a Segunda Guerra Mundial, nenhum conflito deste porte e importância foi resolvido em uma mesa de negociações. Se o acordo sair, Irã, Estados Unidos e seus aliados vão continuar se detestando.
O Irã tem ambições de potência na região. O governo da República Islâmica não aceita a existência de Israel – o que é um problema, sobretudo para os Estados Unidos. Além disso, o Irã é um país xiita que financia ativamente o xiismo numa região marcada por disputas e conflitos entre xiitas e sunitas, as duas correntes mais importantes do Islã. Os países do Golfo, que são sunitas, não suportam o Irã. As rivalidades históricas não acabarão com a conclusão de uma negociação pontual internacional.
O acordo que está sendo negociado na Suíça seria uma espécie de acordo-quadro, um primeiro passo político. Todos os detalhes técnicos serão negociados depois e fechados num acordo mais amplo, no final de junho. Existe ainda a questão dos prazos. Por quantos anos as atividades nucleares do Irã vão ser limitadas pelo Ocidente? Fala-se em 10 anos. E se o Irã não cumprir, o que acontece? Ou seja, apesar do otimismo geral, não há nenhuma garantia de que tudo isso dê certo.
O chanceler francês, Laurent Fabius, que retornou à Genebra ontem às 23h30, no horário local, comentou: "faltam poucos metros para se chegar ao acordo final, mas esses metros são os mais difíceis".
O Irã insiste que as grandes potências têm que fazer mais concessões. Já, para a Casa Branca, essa é a hora de o Irã agir e mostrar que realmente está comprometido com o uso pacífico da energia nuclear.
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