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Extrema-direita deve obter vitória em eleições departamentais na França

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Os franceses vão às urnas neste domingo (22) para votar no primeiro turno das eleições departamentais. Seguindo uma tendência já observada nas eleições municipais e europeias, no ano passado, o partido de extrema-direita Frente Nacional (FN) deve consolidar um novo avanço. As últimas pesquisas de intenção de voto apontam que a legenda será a grande vencedora das eleições departamentais.

A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen.
A presidente da Frente Nacional, Marine Le Pen. AFP PHOTO / FRANCK PENNANT
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A Frente Nacional (FN), da líder Marine Le Pen, deve obter em torno de 30% dos votos, contra 28% do partido de direita União para Um Movimento Popular (UMP), do ex-presidente Nicolas Sarkozy, e apenas 20% do Partido Socialista (PS), de François Hollande.

A França conta com 101 departamentos. Essa instância administrativa cuida da construção e manutenção dos colégios, realiza obras viárias e aplica recursos públicos nas áreas de habitação, transportes e cultura.

As pesquisas apontam que a Frente Nacional deve obter maioria em dois ou três departamentos. O Partido Socialista, que administra 61 departamentos, corre o risco de perder ao menos 20 deles para a UMP. Mas, embora o FN deva eleger o maior número de candidatos no primeiro turno, a legenda de direita, presidida pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy, é quem deve ficar com a maioria dos departamentos franceses no segundo turno.  

Eleitores decepcionados

Para o sociólogo francês Michel Wieviorka, autor do livro "Frente Nacional: entre o Extremismo, o Populismo e a Democracia", o avanço da legenda de extrema-direita mostra que os partidos políticos da esquerda e da direita clássicas não correspondem mais às expectativas dos franceses. "Eles deram à população esse sentimento de que o sistema político da direita e da esquerda falhou. A verdade é que esses partidos decepcionaram seu próprio eleitorado", avalia.

Além da decepção do eleitorado tradicional, os jovens eleitores também se inclinam, cada vez mais, à extrema-direita. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop) mostrou que os eleitores de menos de 35 anos que votarão na Frente Nacional acreditam que este é o partido que mais se preocupa com a França. "François Hollande disse que a juventude francesa seria sua prioridade. E hoje é difícil dizer que medidas importantes foram tomadas em favor desse eleitorado. Então, percebemos que muitos jovens não se identificam e não concordam com essa atuação clássica dos partidos", explica Wieviorka.

Para o sociólogo, é urgente que os partidos políticos tradicionais se renovem. "O sistema clássico dos partidos está ultrapassado e é percebido pela juventude francesa como antiquado. As legendas estão atrasadas em sua maneira de fazer política e até mesmo na forma em que se comunicam com seu eleitorado", reitera.

Alta abstenção

Uma alta abstenção também é prevista no primeiro turno das eleições departamentais neste domingo. Uma pesquisa realizada pelo Ifop, divulgada nesta sexta-feira (20), prevê que 53% dos eleitores franceses não votarão.

Segundo o cientista político Jean-Yves Camus, do Instituto Francês de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), as várias mudanças feitas este ano no processo das eleições departamentais podem contribuir com a abstenção. "O eleitorado está desmotivado porque já não entende como funciona esta eleição: o nome mudou de cantonal para departamental e a maneira de apresentar os candidatos também mudou, aumentando ainda mais o desinteresse dos eleitores", afirma Camus.

O problema, no entanto, parece não atingir os eleitores da Frente Nacional, que prometem ir em massa às urnas. "Essa é uma característica nova no eleitorado do partido extremista: eles estão mais mobilizados do que os outros e, consequentemente, não é o eleitorado da Frente Nacional que vai registrar os índices mais altos de abstenção", prevê o cientista político.

De olho nas eleições presidenciais

A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, não esconde que sua verdadeira ambição são as eleições presidenciais de 2017. Um bom resultado da Frente Nacional nas eleições departamentais poderia pavimentar o terreno para as eleições presidenciais, em 2017 - o principal objetivo de Le Pen.

O cientista político Pierre Sadran, da universidade Sciences Po de Bordeaux, acredita que se o FN obtiver o maior número de votos em toda a França, ele vai conseguir reforçar ainda mais sua imagem de partido mais importante do país, novamente. "A Frente Nacional já obteve uma vitória importante nas eleições europeias, em 2014, e tudo indica que ele vai repetir o desempenho nas eleições departamentais", observa Sadran.

Por essa razão, aliás, o partido apresentou um grande número de candidatos, muitos de perfil descomprometido com os valores republicanos e vários acusados de xenofobia e racismo durante a campanha eleitoral. "O objetivo é de se mostrar, do jeito que for possível, como o grande vencedor das eleições. E já de olho nas eleições presidenciais, é isso que interessa Marine Le Pen", finaliza Sadran.

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