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Influência francesa marca 450 anos do Rio

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O Rio de Janeiro comemora neste ano seu aniversário de 450 anos, que acontece no próximo domingo (1). Parte da sua história está vinculada à França, que exerceu uma grande influência cultural na cidade. A própria fundação do Rio por Estácio de Sá, em 1565, é resultado da expulsão dos franceses, que estavam na região há dez anos.

Fachada da Casa Cavé, no centro histórico do RJ, fundada por Auguste Charles Felix Cavé, um imigrante francês, em 5 de março de 1890.
Fachada da Casa Cavé, no centro histórico do RJ, fundada por Auguste Charles Felix Cavé, um imigrante francês, em 5 de março de 1890. wikipédia
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O episódio mais marcante da presença francesa no Brasil, conhecido como a França Antártica, foi uma tentativa de colônia no século 16, iniciada por Nicolas Durant de Villegagnon. Mas mesmo sendo expulsos em 1560 da Baía da Guanabara pelos portugueses, os franceses continuaram exercendo uma grande influência na região, em épocas diferentes da história do Brasil. Foi depois da derrota da França que os portugueses decidiram criar a cidade, para proteger a região.

"A criação do Rio ocorreu para que a cidade resistisse a novos ataques", explica Anaïs Fléchet, professora de História da Universidade de Versalhes, pesquisadora do Centro da História Cultural das sociedades contemporâneas e membro do Instituto Universitário da França.

Essa relação entre a França e o Brasil, lembra a pesquisadora, reforçada ao longo do tempo, foi particularmente importante nos séculos 19 e metade do século 20. Um fato histórico decisivo é a chegada da família portuguesa no Rio em 1808, que desejou "importar" hábitos e costumes da França para "melhorar" a imagem da cidade, seguindo o exemplo das capitais europeias. Para isso, o rei português Dom João VI teve a ideia de trazer uma missão artística francesa em 1816, chefiada por Joachim Lebreton, e da qual faziam parte pintores como Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, além de músicos e arquitetos.

"Esse episódio é importante porque modificou a fisionomia da cidade, principalmente por conta dos arquitetos. Um exemplo é Grandjean de Montigny, que foi o criador da Escola de Belas Artes. A ideia inicial era criar uma academia brasileira de Belas Artes no mesmo modelo da academia francesa e essa presença foi importante para introduzir o estilo neoclássico no Brasil no lugar do barroco, estilo que terá seus dias de glória no século 19", diz a professora francesa.

A proclamação da República no Brasil inaugura uma nova fase da presença cultural francesa no Rio, com influência no teatro e na ópera, e mesmo na moda. "Uma parte das elites brasileiras, que se concentram na capital nessa época, têm um verdadeiro fascínio pelo modo de vida parisiense e um desejo, de uma certa maneira, de se "civilizar", adotando um modelo cultural francês".

A arquitetura haussmanniana também é um aspecto marcante no Rio e está na origem da segunda grande reforma urbana da cidade, no início do século 20, realizada pelo prefeito Francisco Pereira Passos. "A ideia dessa reforma é abrir grandes avenidas, como a Avenida Central, que hoje é a Rio Branco, e foi criada de acordo com o modelo parisiense. E nesta avenida encontramos prédios e edifícios inspirados na Paris da época. Entre esses prédios estão a Biblioteca Nacional, o museu de Belas Artes e, sobretudo, o Teatro Municipal", explica.

Influência francesa perde força depois da Segunda Guerra Mundial

Depois da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a cultura americana passa a ser dominante no país e a França aos poucos deixa de ser referência. Para Armelle Enders, professora da Sorbonne e autora de "A História do Rio de Janeiro", a perda da influência internacional da França não se restringe ao Brasil. "A França se diluiu um pouco no conjunto europeu, mas ainda continua influenciando em algumas áreas. Primeiro, o turismo para Paris, por exemplo, que continua sendo um elemento importante. Podemos citar a democratização das viagens para o exterior no Brasil e toda a classe média que começa a viajar. Paris continua sendo no mapa um lugar importante, que mantém, mundialmente, um certo interesse pela cultura francesa", diz. "No caso do Brasil, a história continua sendo um elo muito forte entre os dois países", conclui.

Segundo ela, a cultura francesa permanece no país como uma "marca elitista". Ela cita, por exemplo, a gastronomia. "Acho que o que está acontecendo agora é uma globalização do comportamento das classes médias e altas, mas a imagem do francês que vemos no Brasil hoje é, de certo modo, uma construção das novelas, e nem sempre muito positiva. Nas novelas, francês é chique, mas, por outro lado, muitas vezes é o vilão da história que sonha em ir para a França ou a patroa cri-cri que fala algumas palavras em francês. Mas devo dizer que, na França, a contrapartida é que todos os bandidos querem também fugir para o Brasil!", afirma.

França deixou rastros no Rio

Para a professora da Sorbonne, atualmente os traços deixados pelos franceses no Rio são discretos. "Tem uma tendência a se pensar que há uma relação especial entre o Rio e Paris, quando na verdade essa influência é reflexo de uma época onde Paris representava para o mundo inteiro a modernidade e a civilização. Isso se deu em várias capitais do mundo, esse fascínio por Paris", explica. De acordo com ela, no caso do Brasil do século 19, isso se deve a um processo que consistia em "culpar" o colonizador pelo atraso do país. "Tudo era culpa do português, então era necessário se voltar para os países do futuro que eram na época a Grã-Bretanha e a França. Era uma maneira de se modernizar saindo da dependência do tempo colonial", finaliza.
 

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