Direita diz que cenário da Grécia não se repetirá na Espanha
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A vitória da coalizão de esquerda Syriza na Grécia provocou na União Europeia o medo que o sentimento antiausteridade se espalhe para outros países do bloco. Bruxelas tentará evitar que isso aconteça, mas a Espanha já pode estar neste caminho. Um partido similar ao Syriza, o Podemos, é apontado como favorito nas próximas eleições. Por isso, o resultado das urnas na Grécia teve grande impacto no país, mas a direita e os socialistas espanhóis garantem que o cenário grego não se repetirá na Espanha.
Luisa Belchior, correspondente da RFI em Madri
A imprensa espanhola relatou um certo entusiasmo da população com a possibilidade de um fim das medidas de austeridade, que aqui já duram quase cinco anos no país. No âmbito político, houve muita preocupação tanto por parte do Partido Popular, a sigla conservadora que governa o país, quanto por parte do PSOE, o partido socialista que é a principal sigla da oposição. Líderes de ambos os partidos passaram a segunda-feira (26) afirmando que o cenário da Grécia não se repetirá na Espanha, embora por motivos diferentes.
Para os socialistas, o Syriza só venceu na Grécia por conta das duras políticas impostas ao país pela troica, nome dado ao grupo encarregado de aprovar e monitorar os resgates financeiros na Europa. A troica é formada pelo Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia. Já os conservadores do PP defendem a tese de que a Espanha já entrou em uma curva de recuperação e, por isso, seus cidadãos não expressam a mesma insatisfação dos gregos.
Essa preocupação se explica porque o Podemos, um pequeno partido espanhol frequentemente comparado ao Syriza, já é uma ameaça real aos dois partidos. Com pouco mais de um ano de existência, o Podemos é hoje o primeiro partido nas intenções de voto para as próximas eleições, segundo uma pesquisa do jornal "El País", realizada neste mês.
Esquerda radical espanhola ganha fôlego
O Podemos ganha ainda mais fôlego com a vitória da esquerda radical grega, mesmo que isso seja apenas simbólico. O líder do partido, Pablo Iglesias, aproveitou a vitória do Syriza para fazer na segunda-feira um longo discurso sobre o resultado na Grécia, ganhando assim visibilidade na Espanha e em toda a Europa.
Durante todo o dia, TVs e sites europeus reproduziram as declarações de Iglesias, que adotou um tom provocativo. Ele disse que a vitória do Syriza mostra que os países europeus não precisam mais ter líderes que sejam meros "secretários de Angela Merkel". Iglesias afirmou ainda que também pretende eliminar políticas de austeridade e que o tempo de Mariano Rajoy no governo está contado.
Semelhanças no cenário político entre Grécia e Espanha
É claro que o caso da Grécia é mais extremo do que o da Espanha. O país passou por um programa de resgate econômico, o que não aconteceu na Espanha, e teve medidas de austeridade mais duras.
Mas no cenário político a situação é bem similar, sobretudo porque há pequenos partidos de esquerda radical - o Podemos na Espanha e o Syriza na Grécia - que se apresentam como alternativas reais ao bipartidarismo. Aqui na Espanha, por exemplo, o PP e o PSOE se revezam no poder desde a reabertura democrática do país. Pela primeira vez na história, um terceiro partido aparece à frente dos dois nas pesquisas de opinião.
Relação entre Madri e Atenas
Certamente a relação entre os dois países ela vai esfriar, pelo menos enquanto durar a gestão de Mariano Rajoy na Espanha. Isso porque o atual governo espanhol, do conservador Partido Popular, é alinhado ao Nova Democracia, partido também conservador que deixa agora o governo grego. Em janeiro, o premiê espanhol, Mariano Rajoy, viajou de surpresa à Grécia para mostrar apoio ao líder do Nova Democracia, Antonio Samaras.
O PP já cobrou de Alexis Tsipras o valor que Espanha emprestou à Grécia durante o resgate econômico, algo em torno de € 26 bilhões. Uma das possíveis medidas do novo governo grego será congelar parte do pagamento da dívida externa grega.
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