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Linha Direta

Campanha para eleições legislativas na Grécia opõe medo à esperança

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Os partidos gregos fazem os últimos comícios antes das eleições legislativas de domingo (25), na Grécia. A provável vitória do partido de extrema-esquerda Syriza poderá representar uma guinada na Europa. Outros movimentos antiliberais e antiausteridade estão crescendo em vários países, como Espanha, Portugal, Reino Unido e Alemanha, por causa do fraco crescimento e do esgotamento dos programas de rigor que aumentaram o desemprego, sem sanear a maioria dos déficits orçamentários dos governos. O caso da Grécia é emblemático. O peso da dívida passou de 110 a 175% do PIB entre 2010 e 2014. A exceção na paisagem europeia é a Alemanha.  

Partidários do Syriza, partido da extrema-esquerda, durante campanha eleitoral em Atenas em 22 de janeiro de 2015.
Partidários do Syriza, partido da extrema-esquerda, durante campanha eleitoral em Atenas em 22 de janeiro de 2015. REUTERS/Yannis Behrakis
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Adriana Moysés, enviada especial da RFI Brasil a Atenas

O líder do Syriza, Alexis Tsipras, faz uma campanha baseada no fim dos sacrifícios dos gregos mais pobres e da classe média. Ele encontrou as palavras justas para expressar a depressão que atinge o país. Os economistas estão na maioria de acordo com a ideia de que o pagamento da dívida grega é incompatível com uma política de crescimento. Os gregos estão há anos fazendo sacrifícios sem ver a luz no fim do túnel. O fim do programa de austeridade e a renegociação da dívida que chegou a € 320 bilhões (mais de R$920 bilhões), as principais promessas da esquerda radical parecem ter despertado os gregos de um pesadelo.

Alexis Tsipras afirmou na noite de quinta-feira (22), no comício de encerramento da campanha em Atenas, que seu primeiro objetivo como chefe de governo será que “nenhum grego tenha fome, frio ou precise subornar um médico para ser atendido no sistema público de saúde”.

Entre as medidas polêmicas adotadas pelo governo conservador do primeiro-ministro Antonis Samaras, para diminuir o deficit público, as que tiveram maior impacto na população foram a suspensão da cobertura médica e do seguro desemprego a partir do 13° mês sem trabalho. O desemprego na Grécia recuou para 25,5% no final de 2014, mas ainda afeta 3 milhões de pessoas.

Programa de extrema-esquerda

Alexis Tsipras reafirmou que, se eleito, vai suspender as medidas de austeridade impostas pelos credores internacionais, a chamada tróica, formada pelo FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, e renegociar o pagamento da dívida grega.

O partido defende um programa ambicioso, com destaque para o restabelecimento do salário mínimo para € 751 (R$2.174,00) -que tinha sido cortado para € 586 euros (R$1.664,00) - e do 13º mês para os pensionistas com rendimentos abaixo de € 700 (cerca de R$2.000,00); a supressão das medidas legislativas que facilitaram as demissões abusivas no serviço público e a recontratação das vítimas dessas medidas; acesso aos serviços de saúde para as pessoas sem cobertura social; garantia de habitação; acesso gratuito aos meios de transporte público para desempregados e pessoas de baixa renda; um plano de criação de 300 mil empregos nos setores público e privado; além de reformas no sistema institucional para dar mais transparência à administração pública.

O deputado do Syriza Alexandros Kalidis, que concorre à reeleição pela grande circunscrição de Atenas, reconhece que a esquerda radical deverá combater “muitos interesses estabelecidos”, mas diz que esta é a única alternativa “para superar a crise humanitária” que vive a Grécia.

O carisma de Alexis Tsipras e seu discurso contra as elites representam hoje a única esperança de mudança na Grécia , como expressa a maioria dos eleitores do Syriza. Muitas pessoas não acreditam que o líder de esquerda conseguirá aplicar o que promete, mas, como um paciente desenganado, os gregos afirmam que ele é a única esperança de um futuro melhor.

Conservadores fazem campanha do medo

O partido conservador no governo, Nova Democracia, do premiê Antonis Samaras, faz hoje à noite seu último comício em Atenas. Os conservadores propõem uma política de continuidade e fazem uma campanha baseada no medo dizendo que, caso a Grécia suspenda o programa de austeridade, não vai mais conseguir financiamento internacional. A campanha das legislativas opõe de um lado o medo e do outro a esperança.

Pesquisa

O Syriza quer obter a maioria absoluta das 300 cadeiras do Parlamento grego para governar sem precisar de alianças. Mas a conta, a dois dias da eleição, ainda não fecha.

Uma pesquisa publicada nesta quinta-feira pelo Instituto GPO para o canal de TV Mega aponta o Syriza com 35% dos votos, seguido por Nova Democracia (conservador) com 30%; To Potami (centro-esquerda), 7%; o KKE (comunista),6%; Aurora Dourada (neonazista), 6,5%; Pasok (socialista), 5,5%; Gregos Independentes (nacionalista de direita), 3,5%; e o novo partido do ex-premiê Georges Papandreou com 2,5%. A Esquerda Democrática (Dimar) e demais partidos não atingem o mínimo necessário de 3% para eleger deputados no Parlamento. Os indecisos somam 10% dos eleitores.

De acordo com essa pesquisa, o Syriza poderia eleger cerca de 144 deputados, quando a maioria absoluta representa 151 parlamentares.

 

 

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