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Linha Direta

Reaproximação com Cuba fortalece presença dos EUA na América Latina

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Os Estados Unidos e Cuba estão vivendo um momento histórico esta semana, com encontros oficiais entre representantes das duas nações realizados em Havana, depois de mais de 50 anos de relações cortadas. A agenda dos encontros tem como prioridade a imigração, a normalização das relações bilaterais e o estabelecimento de embaixadas em Havana e Washington.

Bandeiras dos EUA e de Cuba hasteadas durante a visita dos parlamentares norte-americanos em Havane dos dias 17 a 19 de janeiro.
Bandeiras dos EUA e de Cuba hasteadas durante a visita dos parlamentares norte-americanos em Havane dos dias 17 a 19 de janeiro. Reuters
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Ligia Hougland, correspondente da RFI em Washington

Esse é o primeiro encontro depois do anúncio bastante surpreendente feito por Barack Obama e Raúl Castro, em 17 de dezembro, de que os Estados Unidos e Cuba estavam dando início a uma nova era de relações diplomáticas. A visita da secretária de Estado assistente, Roberta Jacobson, à Havana está sendo acompanhada passo a passo em Washington, tanto por quem apoia a reaproximação entre as duas nações quanto por quem se opõe. A secretária-assistente é a primeira representante do primeiro escalão do governo norte-americano a pisar na ilha desde 1980.

Expectativas e incertezas

As expectativas quanto a esse primeiro diálogo oficial são tão grandes quanto as incertezas. Já há muito tempo que representantes de ambos os governos se encontravam em sigilo. Muitos políticos e lobistas na capital americana já tinham ideia disso, mas não conheciam o exato teor das conversas. Agora que as interações entre os EUA e Cuba estão sob o olhar do público, não vão faltar cobranças e críticas a essa nova política.

Grande parte dos republicanos, que agora compõem a maioria do Congresso, são contra a reaproximação com Cuba, pois acreditam que os Estados Unidos se renderam à ilha dos irmãos Castro sem receber nada em troca. O senador republicano pela Flórida e descendente de cubanos, Marco Rúbio, lidera essa ala contra a decisão de Obama de reatar laços com Cuba.

E até o senador democrata por New Jersey, um dos três latinos no Senado e também descendente de cubanos, Robert Menendez, também é veementemente contra a nova política favorável à Cuba sem que haja garantias de que o governo Castro acabe com a ditadura na ilha.

“Depois de cinco décadas de autoritarismo e somente um partido, temos de reconhecer que os irmãos Castro nunca vão relaxar seu controle impiedoso sobre Cuba, a menos que sejam forçados a fazer isso”, diz Menendez.

Mas há quem diga que essa oposição se dá apenas por interesses políticos, ou seja, somente serve como um contraponto às ações de Obama. O lobby contra a reaproximação com Cuba está cada vez mais desanimado. De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center, 63% dos americanos apoiam um reatamento das relações com Cuba.

Benefícios da reaproximação

Cuba certamente tem muito a ganhar, pois a nova política vai resultar em maiores remessas de dinheiro de americanos-cubanos para parentes em Cuba, além de uma muito necessária entrada de capital na ilha e investimento em infraestrutura.

Os Estados Unidos estão sendo abertos quanto ao que pretendem oferecer à Cuba, especialmente no que diz respeito a capacidades de telecomunicação. Mas, por mais que sejam questionados pela imprensa, os representantes do governo americano não conseguem explicar de modo direto o que exatamente foi prometido aos Estados Unidos.

Os críticos dessa nova política suspeitam que a ditadura cubana não pretende ceder em nada, seja concedendo maior liberdade aos seus cidadãos ou entregando aos Estados Unidos as dezenas de fugitivos americanos que são abrigados na ilha.

Muitos acreditam que o timing de Obama foi mal calculado, pois não há como a ilha se sustentar por muito mais tempo. A renda média dos cubanos é de US$ 20 por mês, de acordo com um relatório oficial divulgado em meados de 2014, e faltam produtos básicos nas prateleiras dos mercados.

Mas para os Estados Unidos seria bastante vantajoso conseguir uma maior presença na ilha, pois isso teria um efeito monumental em termos de relações públicas na região, colocaria pressão sobre a Venezuela e os grupos tradicionalmente antipáticos em relação a Washington, enfraquecendo o bolivarianismo na América Latina. E, ao proporcionar boas capacidades de telecomunicação aos cubanos, os Estados Unidos abrem caminho para os jovens da ilha se mobilizarem para exigir o fim da ditadura.

Problema da Imigração

Por enquanto, os representantes dos dois países dizem que estão tendo um diálogo bastante produtivo em Havana, apesar de haver atrito quanto à política de imigração dos Estados Unidos, que dá residência aos cubanos que conseguem pisar em solo americano.

A cada ano, cerca de 20 mil cubanos recebem visto americano. Além disso, em 2014, aproximadamente 25 mil cidadãos da ilha chegaram aos Estados Unidos vindos de outros países e sem visto, mas se beneficiaram da Lei de Ajuste Cubano e puderam ficar no país. No mesmo ano, 3.722 cubanos foram interceptados no mar antes de chegarem ao solo americano, sendo retornados à ilha, conforme dita a lei.

A encarregada cubana pelas relações com os Estados Unidos, Josefina Vidal, diz que essa política incentiva as pessoas a arriscarem a vida para sair da ilha e serve para tentar convencer médicos cubanos a abandonarem seus postos em outros países.

Futura parceria

Uma futura parceria entre as duas nações vizinhas, não somente não é impossível como é bastante provável. Na realidade, os dois velhos inimigos já vêm trabalhando pelo mesmo lado em diversas ocasiões, como na luta contra as FARC na Colômbia, atividades humanitárias no Haiti e o combate ao ebola na África. Além disso, os Estados Unidos e Cuba têm interesses paralelos na rápida deterioração da economia da Venezuela.

O secretário de Estado americano, John Kerry, diz que os dois países ainda têm muito a negociar. “Quando for oportuno e adequado, estarei ansioso por ir à Cuba para abrir uma embaixada e começar a progredirmos.” Muitos analistas apostam que as duas nações vão andar de braços dados em menos de uma década.

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