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Linha Direta

Para Putin, ocidentais têm culpa por queda histórica do rublo

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A moeda russa enfrenta esta semana a maior desvalorização da sua história. A queda do preço do barril do petróleo e as sanções econômicas impostas pelo Ocidente são apontadas como as causadoras da crise russa.

O rublo despencava fortemente pelo segundo dia seguindo consecutivo.
O rublo despencava fortemente pelo segundo dia seguindo consecutivo. REUTERS/Sergei Karpukhin
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Sandro Fernandes, correspondente da RFI Brasil em Moscou

As notícias aqui da Rússia não são nem um pouco positivas. A Bolsa de Valores de Moscou abriu hoje às 10h locais e em apenas 10 minutos, o rublo já tinha desvalorizado 5% frente ao euro. É quase impossível prever qual vai ser a queda da moeda russa nesta quarta-feira, mas a queda é quase certa e esta já é uma semana histórica para a moeda russa. No sentido negativo, claro.

Queda do rublo

Na segunda-feira (15), o rublo registrou uma queda de aproximadamente 10%. Para tentar conter esta desvalorização da moeda, o Banco Central russo anunciou à 1h da madrugada de terça-feira (16) um aumento da taxa básica de juros da Rússia. A taxa subiu de 10,5% pra 17%. Foi o sexto aumento em apenas um ano. A medida deu certo apenas nos primeiros minutos após a abertura dos mercados da Bolsa de Valores na terça-feira. O rublo conseguiu uma leve recuperação, mas logo em seguida começou a cair e chegou a uma desvalorização de 26% frente ao euro.

Só para vocês entenderem a rápida desvalorização do rublo, na segunda-feira, €1 valia 71 rublos. Ontem, €1 chegou à marca psicológica dos 100 rublos.

É a pior queda registrada da moeda russa desde a crise financeira de 1998. A elevação dos juros não conseguiu recuperar a confiança dos investidores e o cenário que já era negativo virou terreno fértil para especuladores. Em algumas casas de câmbio, o euro chegou a ser vendido por 110 rublos.

Ontem (16), durante todo o dia, os principais bancos do país registraram um aumento no volume de pessoas retirando dinheiro dos bancos e comprando dólares e euros, apesar dos altos preços. O medo é de que a situação somente piore. O Banco Raiffeisen disse que o site registrou um acesso quatro vezes maior do que o normal.

O Kremlin não quis comentar a decisão do Banco Central russo de aumentar a taxa de juros porque, segundo porta-voz do governo russo, o Banco Central é independente.

Apesar da crise da moeda, os russos ainda não veem o cenário como catastrófico. Quase todas as pessoas com quem eu conversei aqui em Moscou citam a década de 90 como a década perdida e dizem que o que estamos vivendo hoje está muito longe do que eles viveram na década passada, logo após o fim do regime soviético.

Putin e a crise

O presidente Vladimir Putin culpou os especuladores e o Ocidente pela queda no preço do barril do petróleo, que é a principal razão apontada por especialistas para essa desvalorização do rublo russo. As sanções impostas pelo Ocidente por causa do alegado envolvimento da Rússia na guerra civil do leste da Ucrânia também desestabilizaram a economia russa.

O aumento da taxa de juros do país deve gerar um aumento do preço dos produtos ao consumidor, levando ao aumento da inflação. A expectativa é de que a inflação anual chegue em janeiro aos dois dígitos, atingindo 10%.

Resta saber se Putin continuará desfrutando da enorme popularidade que tem ainda hoje. Em pesquisa divulgada no início do mês, o presidente russo aparecia com 82% de popularidade. E ontem ele foi escolhido pelos russos como o Homem do Ano pelo 15° ano consecutivo.

O Banco Central da Rússia já gastou cerca de US$80 bilhões este ano na tentativa de salvar o rublo. A Rússia tem ainda cerca de US$ 416 bilhões em reservas internacionais.

Na crise de 1998, a taxa de juros chegou a 100% ao ano e a desvalorização do rublo levou a Rússia a declarar uma moratória da sua dívida. A situação das finanças públicas e das reservas internacionais agora são muito melhores que a de 98, mas há um temor no mercado de que o país não consiga cumprir suas dívidas.

 Otimismo aparente

 As autoridades russas são sempre muito otimistas com relação ao presente, ao futuro, ao passado. Eu só não sei se este otimismo é realista. A presidente do Banco Central russo, Elvira Nabiulina, disse ontem que o enfraquecimento do rublo é um sinal de que a Rússia tem que aprender a viver em novas condições e substituir as importações. Ela disse ainda que os acontecimentos internos devem ser menos dependentes das condições externas.

Ainda em tom otimista, Nabiullina afirmou que o aumento da taxa de juros deve deixar os depósitos em rublos mais atraentes, fazendo com que as especulações sejam mais arriscadas. Lembrando que o Banco Central permitiu a livre flutuação do rublo em novembro.

Apesar do otimismo, as notícias do Ocidente não são nada animadoras. Há uma previsão de que Obama assine um projeto de lei com novas sanções à Rússia antes da próxima sexta-feira, dia 19, quando ele vai para o Havaí com a família para o recesso de Natal. O porta-voz da Casa Branca disse na terça-feira que Obama tem intenção de assinar estas medidas que permitiriam mais sanções à Russia e aprovariam também o fornecimento de armas à Ucrânia. Pelo visto, a Rússia deve enfrentar uma semana bastante dura.

 

 

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