Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Manutenção de José Sócrates na prisão surpreende Portugal

Publicado em:

A Justiça portuguesa surpreendeu ao decidir na noite segunda-feira (24) a manutenção em prisão preventiva do ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates. Analistas políticos denunciam um “reality show” para aliciar a opinião pública e que José Sócrates é o “bode expiatório” da crise portuguesa. Após três dias de detenção passados numa cela de uma delegacia de polícia e de dois dias de longos interrogatórios para responder ao processo de acusação de fraude fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro, o juiz Carlos Alexandre, decidiu que ex-primeiro ministro permanecerá em prisão preventiva. O anúncio só foi feito às 22h30 de Lisboa, quatro horas após o esperado deixando o país em suspense. Segundo o advogado de Sócrates, Jorge Araújo, a decisão é “profundamente injusta” e ele já anunciou que entrará com um recurso.

O ex-primeiro-ministro português José Sócrates, detido na sexta-feira (21) acusado de fraude fiscal e corrupção.
O ex-primeiro-ministro português José Sócrates, detido na sexta-feira (21) acusado de fraude fiscal e corrupção. REUTERS/Hugo Correia/Files
Publicidade

Adriana Niemeyer, correspondente da RFI em Lisboa

Não era esperado que o juiz Carlos Alexandre optasse pela medida mais drástica em relação a este processo, já que em nenhum momento se falou em risco de fuga do ex-primeiro-ministro, que estava entrando (e não saindo) do país no momento da sua detenção. As outras opções eram o pagamento de uma fiança, a utilização de uma pulseira eletrônica para seguir os passos do acusado, ou mesmo a retirada do passaporte e a obrigatoriedade de comparecer a cada duas semanas perante as autoridades judiciais. Esta última medida foi aplicada a outro envolvido neste mesmo processo, o advogado Gonçalo Ferreira, o único que não continuou detido.

O empresário do setor da construção, Carlos Santos Silva, também ficou em prisão preventiva, assim como o motorista do ex-premiê, João Perna. Carlos Santos Silva é considerado o “laranja” de Sócrates na operação de lavagem de dinheiro, em torno de € 20 milhões, entre a Suíça e Portugal. João Perna é acusado de ter levado malas de dinheiro, de carro de Lisboa até Paris, onde Sócrates residiu nos últimos dois anos, para não chamar a atenção das autoridades. O motorista também foi acusado de porte ilegal de armas.

Reação dos portugueses

Os políticos portugueses ainda não reagiram à notícia que foi divulgada bem mais tarde do que se esperava e os acusados só saíram do tribunal quase a 01h da madrugada desta terça-feira (25). Já os analistas políticos de plantão, logicamente, não ficaram indiferentes à decisão do Tribunal, já que essa é a primeira vez na história de Portugal que é aplicada prisão preventiva a um ex-primeiro-ministro.

A jornalista Clara Ferreira Alves comentou que não se lembra de nenhum caso semelhante na Europa ocidental. Para ela, estamos assistindo a um reality show que será seguido por todos e do qual se sabe muito pouco. “Até agora, só tomamos conhecimento dos fatos por informações vazadas pela imprensa, e que podem ser informações manipuladas pelos meios de comunicação, já que não são oficiais. A jornalista também comentou que a presença de duas televisões no momento da detenção de Sócrates demonstra que estava sendo preparado uma grande encenação para aliciar a opinião pública para esse processo.

Outro analista e escritor, Miguel Sousa Tavares, apontou que Sócrates é o bode expiatório da crise que Portugal vive nos últimos anos. Sempre existiu uma relação de amor e ódio entre ele e os portugueses, afirmou Sousa Tavares. Apesar de ter sido o primeiro-ministro mais votado e ter sido o único socialista a conseguir maioria no parlamento, várias decisões que tomou, como a legalização do aborto e do casamento homossexual, foram muito polémicas. Segundo ele, os fundamentos desse processo deviam ter sido esclarecidos antes da prisão preventiva. Desta maneira nós vamos continuar sem ouvir a vítima, e assim ele já está condenado por todos.

Consequências para o Partido Socialista

As consequências para o Partido Socialista português vão depender da maneira como os socialistas irão conseguir se distanciar do processo. Todos falam da coincidência da data da prisão de Sócrates ter acontecido no mesmo dia em que o prefeito de Lisboa, António Costa, amigo e ex-ministro do seu governo, ter sido oficialmente eleito para secretário-geral dos socialista e candidato a primeiro-ministro no próximo ano.

As pesquisas até o momento davam uma ampla vitória a Costa, depois de alguns escândalos que abalaram o governo do social-democrata Passos Coelho. Casos de corrupção na atribuição de vistos dourados para residentes estrangeiros levaram à queda do ministro da Administração Interna e o escândalo econômico do banco Espírito Santo abalou ainda mais a frágil economia portuguesa.

Futuro de Sócrates

Ainda não se sabe onde o ex-primeiro-ministro está detido, se em Lisboa ou em Évora, a 200 km da capital portuguesa. O que se sabe até agora é que uma eventual revogação da prisão preventiva pode ser feita dentro de três meses e que a justiça portuguesa pode mantê-lo nesse regime no prazo máximo de um ano para começar o julgamento. Mas o recurso apresentado pelo advogado de Sócrates pode mudar o cenário.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.