A relação entre Brasil e Venezuela vem passando por um momento considerado atípico em comparação com o que costuvama acontecer na época dos presidentes Lula e Chávez. Nesta terça-feira, por exemplo, uma empresa de capital binacional parou de funcionar. Por sua vez uma linha aérea reduziu o número de voos semanais para o país vizinho, além da prisão de brasileiras acusadas de contrabandear produtos oriundos da Venezuela.
Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas
A sede da Suramericana de Soplados, localizada no estado Carabobo (região Oeste da Venezuela), amanheceu na terça-feira (30) com os portões fechados. Foi por um cartaz que os acionistas da empresa que produzia tanques para combustíveis anunciaram aos funcionários o fechamento. A diretoria alegou que é inviável ficar nove meses sem produzir uma quantidade adequada para cumprir com as obrigações trabalhistas, financeiras, tributárias e que o fechamento é definitivo. A falta de informações precisas fez com que algumas das 23 pessoas que ainda trabalhavam na empresa invadissem o local para aguardar explicações sobre o fechamento. A última empresa brasileira que deixou a Venezuela foi a Natura, três anos atrás.
Empresas brasileiras na Venezuela
As dificuldades encontradas - não só pelas empresas brasileiras - têm a ver com a questão do câmbio de moeda estrangeira e/ ou pela falta de material para manter a produção. De acordo com a Embaixada do Brasil na Venezuela, cerca de 38 empresas brasileiras estão registradas, mas há muitas outras de pequeno e médio porte que operam por aqui.
Recentemente a Gol Linhas Aéreas decidiu passar de 24 para apenas 12 voos semanais para o aeroporto Internacional Simón Bolívar, segundo informações da Associação de Linhas Aéreas da Venezuela. Sendo que sete deles farão a rota São Paulo-Caracas e cinco, Caracas-República Dominicana. De acordo com informações não oficiais, a dívida do Estado com as empresas aéreas chega a US$4 bilhões. Há algumas semanas, Ricardo Schaefer, secretário executivo do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, veio conversar com autoridades venezuelanas sobre o pagamento da dívida a empresas brasileiras, entre elas, as construtoras que têm investimentos milionários por aqui.
Contrabando
O plano para acabar com o contrabando de alimentos e combustíveis na fronteira com a Colômbia também se estendeu à fronteira com o Brasil.
Duas brasileiras que tentaram sair da Venezuela com produtos, dias depois de o presidente Nicolás Maduro ter lançado o plano contra o contrabando, estão presas há mais de um mês. Luciana Pereira e Lousineidi Sousa, que foram presas em Santa Helena de Uiarén, poderão ficar presas por, no máximo, 90 dias enquanto esperam o julgamento que determinará se elas serão expulsas do território venezuelano ou levadas a uma prisão, onde podem pagar uma pena de até 14 anos. O caso das brasileiras levou ambas as chancelerias a definirem que quem ultrapassar a quantia de R$2 mil no total de mercadorias será preso, independentemente da nacionalidade, com base no decreto que proíbe a venda de produtos da cesta básica. De acordo com o general de Divisão Marcelino Pérez, na fronteira com o Brasil foram apreendidos mais de 127 mil litros de combustível, além de 94 toneladas produtos. O baixo valor da moeda venezuelana em relação às moedas dos países fronteiriços é a causa do alto índice de produtos contrabandeados da Venezuela.
Eleições no Brasil
Na última eleição presidencial aí na Venezuela o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva fez campanha a favor do atual presidente Nicolás Maduro. Em poucos dias haverá eleições no Brasil. Vocês devem estar se perguntando como o vizinho do norte tem se comportado diante da possibilidade do fim da Era PT no comando do Brasil.
Bem, a Venezuela tem apoiado a candidatura da presidente Dilma Rousseff, tanto que recentemente o canal estatal TeleSur apresenta a rival como “a candidata presidencial da direita, Marina Silva e sua agenda que se aproxima cada vez mais ao neoliberal”. Para Pedro Silva Barros, o responsável pela missão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na Venezuela, é importante que a presidente Dilma Rousseff consiga se reeleger para que as pesquisas do órgão ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República possam ter continuidade aqui na Venezuela.
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