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Linha Direta

Vítima faz protesto original contra estupros em universidades dos EUA

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Os casos de estupro em universidades americanas e até escolas secundárias têm aumentado dos últimos anos. Neste mês, a história de Emma Sulkowicz, estudante da Universidade de Columbia, uma das mais prestigiadas do país, escandalizou os americanos. Ela acusa um colega de tê-la violentado sexualmente no dormitório da universidade, localizada no norte da ilha de Manhattan, no primeiro dia de aula.

Captura vídeo da estudante Emma Sulkowicz, que foi violentada sexualmente e em protesto contra a universidade que não expulsou o estuprador, carrega um colchão por onde anda.
Captura vídeo da estudante Emma Sulkowicz, que foi violentada sexualmente e em protesto contra a universidade que não expulsou o estuprador, carrega um colchão por onde anda. Columbia Daily Spectator
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Eduardo Graça, correspondente da RFI em Nova York

Desde o início do mês, como protesto pelo fato de a direção da escola não ter determinado a imediata suspensão do acusado, ela carrega um colchão pelo campus por onde quer que ande, e seu caso recebeu atenção inédita da mídia. A revista "Time" usou o exemplo de Sulkowicz – uma das 23 estudantes que decidiram denunciar publicamente as agressões sexuais à direção da Columbia – para uma investigação minuciosa sobre casos similares em todo o país em reportagem intitulada “A Crise de Violência Sexual nos Campi das Universidades Americanas”.

De acordo com as alunas, o processo é lento, os dois lados são ouvidos e cabe ao reitor, de forma solitária, uma eventual punição. Como a entrada nas universidades de elite dos EUA, que fazem parte da chamada Ivy League, como a Columbia, é dificílima e as mensalidades exorbitantes, há uma acusação subliminar de proteção aos filhos da elite, que estariam, dentro dos campi, acima do bem e do mal. Estudante de Artes Visuais, ela conta, por exemplo, que teve uma crise de pânico ao saber que teria de dividir, o laboratório de fotografia com o acusado.

O que impressionou mais na tenacidade da Emma Sulkowicz foi a decisão de transformar o episódio dramático em um projeto-denúncia. Desde a volta às aulas neste período letivo ela iniciou uma performance, andando com um colchão pelo campi o tempo todo, enfatizando o que considera ser a falta de segurança reinante na Columbia, que tem uma data para terminar: o dia em que o agressor for expulso.

Universidade se nega a sar declarações

Durante a investigação da denúncia da estudante, a universidade se recusou a falar com a imprensa. Com a moção de 23 alunas, alegou-se que não se pode haver pronunciamento público de casos tão delicados. Mas houve o anúncio de modificações no processo de apuração de casos semelhantes, mas sem possibilidade de reabertura de casos fechados anteriormente, como a da aluna em questão. A Emma diz não ter qualquer esperança de que sua história tenha um final feliz na Columbia e diz que irá levar seu colchão para a cerimônia de graduação, mas ao transformar seu drama em uma peça artística de denúncia ela acabou ilustrando de forma mais escancarada uma enorme discussão pública sobre o tema.

Cidade vira “capital do estupro”

A cidade de Missoulla, no estado de Montana, ganhou até mesmo o triste nome de “capital do estupro.” Mas, de acordo com a “Time” o título é injusto, já que as 80 acusações de estupro em três anos acontecem em todo o país. Até mesmo o vice-presidente Joe Biden reagiu de forma dura ao rever dados de uma pesquisa conduzida pelo Instituto Nacional de Justiça entre 2005 e 2007, revisada em 2009, mostrando que, já naquela época, pelo menos uma de cada cinco estudantes nos EUA relatava ter sido vítima de violência sexual dentro das universidades americanas. Nas palavras de Biden: “Se você soubesse que seu filho teria 20% de possibilidade de ser atacado por uma pessoa armada na universidade você pensaria duas vezes antes de instalá-lo no dormitório. Mas e ao saber que sua filha, na mesma proporção, pode ser molestada ou estuprada?”.

Governo diz que vai investigar casos

E o oposto também acontece, claro. Em Missoulla, por exemplo, um dos acusados é um estudante oriundo da Arábia Saudita, que teria deixado o país antes que a polícia pudesse questioná-lo depois de duas acusações de alunas. De concreto, em maio, o governo anunciou publicamente uma lista de 55 universidades que passariam pelo pente fino federal em relação às suas políticas de investigação de casos de estupro.

Entre elas, duas jóias da coroa estudantil americana, as universidades de Harvard e Princeton. A administração Obama também anunciou o uso de leis anti-racismo para combater a epidemia de estupros nas universidades, a partir da discriminação de gênero e o corte de fundos públicos de escolas consideradas lenientes nas investigações. Para as universidades, o maior receio é o da má publicidade, como no caso da Columbia, mas o governo não tem como ir adiante.

Lei que protege militares mulheres poderá ser aplicada

Esta é a esperança das estudantes que acusam o ambiente universitário americano, em geral, de ser nada seguro para as alunas. Há um início de movimento para que a legislação voltada para a proteção de militares do gênero feminino nas Forças Armadas americanas sejam estendidas para as universidades, uma discussão liderada no Senado por duas legisladoras democratas, uma, não por acaso, aqui de Nova York. Mas no momento a reação mais forte e de resultado mais direto parece mesmo ser o protesto da Emma, que, com lucidez, diz não estar querendo apenas jogar luz sobre o seu caso, mas busca servir de holofote para as novas calouras, que este mês entraram na selva da vida universitária local.
 

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