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Fato em Foco

Para analistas, tática do medo é amostra de "pancadaria" entre Dilma e Marina no 2º turno

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A consolidação da candidatura de Marina Silva (PSB) na eleição presidencial no Brasil levou o PT a adotar a tática do medo em relação à ex-ministra do Meio Ambiente. Segundo analistas, a estratégia é uma amostra de um segundo turno agressivo entre as duas candidatas, quando elas terão o mesmo tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

Pesquisas indicam que Marina Silva vai enfrentar Dilma Rousseff no segundo turno.
Pesquisas indicam que Marina Silva vai enfrentar Dilma Rousseff no segundo turno. REUTERS/Bruno Santos (L) and Ueslei Marcelino (R) (BRAZIL - Tags
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Apesar de ter sofrido com o discurso do medo em relação a uma vitória de Lula, em 2002, o PT agora tenta provocar preocupação nos eleitores sobre o futuro do país, caso a candidata do PSB vença o pleito. A presidente Dilma Rousseff tem associado a oponente aos banqueiros, martelado que as alianças de um eventual governo de Marina são uma incógnita e diz temer pela continuidade dos programas sociais que ajudaram a diminuir a pobreza durante os três mandatos petistas. Também chegou a comparar a pessebista ao ex-presidente Jânio Quadros, que renunciou, e ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, que enfrentou impeachment.

O cientista político Paulo Calmon, da Universidade de Brasília (UNB), observa que as contradições exprimidas por Marina desde que assumiu a candidatura alimentam as críticas do PT. “O PT está se aproveitando que ela é uma candidata nova, que já teve passagens por vários partidos. Os petistas estão criando a dúvida e a incerteza na cabeça do eleitor sobre a competência da Marina e sobre que mistura de políticas ela vai efetivamente implementar, caso seja eleita”, explica. “O caso do PT era um pouco diferente, porque o Lula sempre foi do mesmo partido.”

Emocional

As pesquisas de intenções de voto indicam um embate acirrado entre as duas candidatas no segundo turno. O professor da UNB ressalta que o PT tenta conquistar o eleitor pelo lado emocional, já que os debates sobre a economia do país são inacessíveis à maioria dos brasileiros. Mas ele observa que essa estratégia pode ser perigosa – o eleitor brasileiro costuma rejeitar o candidato agressor e se solidarizar com o atacado.

“Esse debate mais teórico, filosófico, não atinge o grande eleitor. Por isso o PT adotou o tradicional caminho de usar o medo para mover o eleitor, como aconteceu no passado”, comenta. “Mas é importante dizer que essa estratégia está sendo usada também pelo PSDB. É uma estratégia eleitoral neste momento. Quando havia a possibilidade de a Marina aderir à Dilma em um segundo turno, as pessoas foram muito relutantes em buscar um enfrentamento direto com ela”, lembra.

Descontentes

Não é apenas Marina quem se incomoda com a virada na campanha petista. A nova tática desagrada a caciques do PT, como o senador Eduardo Suplicy, que declarou preferir uma campanha baseada nas propostas, e não nos ataques. O vice-presidente da sigla, José Guimarães, também admitiu haver “exageros” na propaganda de Dilma.

Para o cientista político Carlos Alberto de Melo, do Insper, uma campanha só pode ser propositiva quando há excelentes resultados a serem mostrados – do contrário, a estratégia mais comum é tentar desconstruir o adversário.

“É paradoxal. Para quem acalenta um outro tipo de política, voltada para outros tipos de valores, como o senador Eduardo Suplicy, isso causa um certo mal-estar, assim como também causa à base antiga e histórica do PT, que sentiu isso na pele anos atrás e agora fica constrangida de ver o partido fazer a mesma coisa”, afirma. “Mas infelizmente, a política é assim. O PT sofreu isso lá atrás e se vitimizou, e agora usa do mesmo expediente, enquanto a Marina se coloca na posição de vítima.”

Confronto direto

Melo garante que Marina até agora não partiu para o ataque porque tem apenas dois minutos de propaganda eleitoral nos veículos de comunicação. Segundo o pesquisador, o cenário deve mudar no segundo turno, quando a candidata terá tempo para se defender e atacar.

“Veremos ataques bastante duros contra o governo. Não vai ser uma campanha de altíssimo nível, com uma discussão sobre as saídas para o Brasil. Vai ser uma campanha de críticas muito fortes à gestão da presidente Dilma – mais a ela do que aos governos do PT”, aposta. “Essa história de que mulher não sabe brigar é bobagem. Vai ter muita pancadaria.”

 

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