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França

Associação francesa cria ducha móvel para sem-tetos

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Cerca de 3,6 milhões de pessoas na França vivem na rua, segundo a Fundação Abbé Pierre. um número que praticamente dobrou no país nos últimos três anos. Para muitos deles, manter-se limpo é um verdadeiro desafio no cotidiano, mas não só os sem-tetos enfrentam essa dificuldade. Paris tem os imóveis mais caros do mundo e muitos assalariados são obrigados a alugar um apartamento sem banheiro. Alguns deles chegam até mesmo a morar dentro de seus carros.

Ranzika Faïd, criadora da associação Mobil Douche
Ranzika Faïd, criadora da associação Mobil Douche (Foto: Taíssa Stivanin/RFI Brasil)
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Indignada com essa situação, a funcionária pública Ranzika Faid decidiu, em 2006, criar a associação Mobil Douche, uma ideia que se concretizou em 2012. Rankiza e sua equipe instalaram, dentro de uma van, uma ducha, um banheiro, uma mesa e uma pia. O veículo percorre as ruas de Paris propondo aos sem-teto um banho gratuito e roupas limpas, além de sabonete, café, e o mais importante- um bom bate-papo. Neste curto espaço de tempo, que dura cerca de meia hora, eles deixam de ser moradores de rua, invisíveis ao resto do mundo, para se transformarem em Sarah, Jimmy, Brigitte ou Christophe.

Ranzika não cansa de contar histórias de seus encontros com os “clientes” da Mobil Douche que passaram pela sua vida. “Mobil Douche é um banho de humanidade. Existem muitas histórias. O encontro que mais me tocou foi com um menino de 6 anos. Ele falava inglês. Esse menino, quando terminou de tomar banho, me contou a história de sua vida. Na verdade, ele veio do Togo e foi naturalizado italiano. Ele era brilhante, estava contente da vida em tomar um banho, e aliás, cantava embaixo do chuveiro. Esse momento durou uma meia hora e foi mágico”, diz.

O melhor, conta Rankiza, é receber notícias de ex-moradores de rua que conseguiram mudar de vida, e mandam um SMS para ela para deixá-la a par das novidades. “Eles me escrevem assim: é isso aí Ranzika, eu encontrei um emprego, um lugar para morar e, sobretudo, uma ducha!”

Quatro dias por semana nas ruas de Paris

Hoje o trabalho em campo é realizado por Jean Pierre, e outros dois voluntários, quatro dias por semana. No dia desta reportagem, ele estava acompanhado de Sophie e Olivier. O trabalho dentro da van é grande: depois da cada ducha, o banheiro deve ser desinfectado, o café refeito e a louça lavada. Do lado de fora, os três tentam convencer sem-tetos que ainda não conhecem a associação a tomar banho, e também administram todo tipo de incidente: moradores de rua doentes ou com problemas mentais que precisam de cuidados médicos, além de vizinhos que não suportam a presença dos sem-teto e ameaçam os voluntários.

Jean Pierre, que coordena a equipe desde junho, já está acostumado com este tipo de contratempo, que ele gerencia naturalmente como parte de um cotidiano difícil e luta pelos sem-teto. “É importante porque damos para as pessoas tempo para elas descansarem um pouco. E as três principais prioridades para as pessoas que estão na rua é um teto, comida, e o acesso à higiene.”

Sem tomar banho durante duas semanas

Logo que a van da Mobil Douche estaciona na rua do 14°distrito de Paris, um grupo de três sem-teto se aproxima imediatamente da equipe. Um deles é Christophe: jovem, meio anarquista, penteado punk, ele revela que sua sensação ao ver Jean Pierre é de alívio. “Eles vêm até aqui para a gente especialmente. Faz bem tomar banho. Você sabe há quanto tempo não tomo banho? Duas semanas.” Sarah, sua companheira, prefere não dar entrevista, alegando uma dor de dente. Mas fala durante meia hora da sua paixão pelos cães –o casal vive com quatro na rua além de “Papi”, vovô em francês. Papi conta que há dois meses entrou em contato com a associação. Sem a Mobil Douche, ele provavelmente não tomaria banho.

Histórias como as de Sarah, Christophe e Papi, um senhor de mais de 70 anos, são comuns. Numa outra parada, Brigite, 40 anos, aguarda com ansiedade a van, que passa no local cerca de uma vez por semana. Em dez minutos, ela ganha uma ducha, roupa limpa e um café e sai sorridente, satisfeita de se sentir como um cidadão comum, mesmo que seja por meia hora. A van segue seu rumo. Até o anoitecer, pelo menos 8 e 13 moradores de rua terão tomado um banho.
 

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