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Fato em Foco

Governo liberal de Hollande aumenta risco de dissolução do Parlamento

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O presidente francês, François Hollande, assumiu, de uma vez por todas, a tendência social-democrata do seu mandato, mas as escolhas do novo governo podem custar caro para o Partido Socialista (PS), na opinião de analistas. As divisões internas na sigla podem resultar na perda da maioria dos deputados na Assembleia e levar Hollande a convocar novas eleições legislativas, com um risco elevado de vitória da direita.

O novo governo da França foi definido pelo presidente, François Hollande, e o primeiro-ministro, Manuel Valls.
O novo governo da França foi definido pelo presidente, François Hollande, e o primeiro-ministro, Manuel Valls. REUTERS/Philippe Wojazer
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Se isso acontecer, o presidente teria de terminar o mandato com um primeiro-ministro conservador. A coabitação entre campos políticos opostos aconteceu pela última vez de 1997 a 2002, quando o socialista Lionel Jospin era primeiro-ministro do ex-presidente Jacques Chirac, de direita.

Na opinião do economista Thomas Coutrot, a virada liberal do governo Hollande vai piorar ainda mais a impopularidade do presidente, que desfruta dos piores índices já registrados por um chefe de Estado desde o final da Segunda Guerra Mundial.

“Agora, a base de sustentação dele ficou realmente muito pequena e provavelmente ele não vai conseguir manter a governabilidade até o fim do mandato. Será muito difícil. Sobram três anos e ninguém enxerga como ele poderia sustentar a maioria parlamentar durante tanto tempo”, observa. “O mais provável é que ele dissolva a Assembleia Nacional daqui a alguns meses e convoque novas eleições legislativas, das quais a direita deve sair vencedora. Ele continuaria no cargo como presidente, mas tendo que designar um primeiro-ministro de direita”, afirma, lembrando que a situação já se repetiu por diversas ocasiões na historia da 5ª República francesa.

Laurent Bouvet, professor de Ciência Política na Universidade de Versalhes-Saint Quentin, avalia que, no Parlamento, deputados e senadores da esquerda devem continuar a dar apoio à presidência nos temas mais importantes, em respeito à aliança formada no início do mandato. Os textos de menor destaque, no entanto, devem sofrer rejeição.

“Podem ocorrer votações bloqueadas e a ameaça da dissolução não está descartada, embora os deputados, tanto da esquerda quanto da direita, tenham medo de que isso aconteça. A dissolução preocupa a todos, menos a Marine Le Pen, que está pedindo por isso”, disse, em referência à líder da extrema-direita francesa.

Decepção do eleitorado

Coutrot destaca que o mal-estar da ala mais à esquerda do governo refletia uma insatisfação dessa fatia do eleitorado socialista, após mais de dois anos de tentativas de conciliação entre as duas correntes. Estes militantes tinham como símbolo os ex-ministros da Economia, Arnaurd Montebourg, e da Educação, Benoît Hamon, que pediram demissão na segunda-feira (25), no auge da crise política interna. O economista observa que a chamada esquerda do PS, mais apegada à política tradicional do socialismo, não suportava mais a orientação liberal do governo.

“Hollande decepcionou profundamente o eleitorado de esquerda, sem conquistar a confiança do eleitorado de direita. Agora, ele se encontra sem o apoio da população e com cada vez menos sustentação dentro do próprio Partido Socialista”, destaca.

Clareza sobre os rumos

Entre os novos ministros anunciados nesta terça-feira (26), a nomeação do ex-banqueiro Emmanuel Macron para a pasta da Economia pegou os franceses de surpresa, mas confirma essa tomada clara de posição que o presidente e o primeiro-ministro, Manuel Valls, pretendem dar ao governo. Além disso, a postura começa a dar as cartas para a sucessão presidencial.

“A clareza sobre os rumos do governo que o premiê e o presidente da República quiseram adotar coloca na mesa o fato de que há duas orientações. Até agora, se sabia que essas duas orientações existiam e François Hollande atuava no meio de campo, inclusive fazia uso político dessa sua maleabilidade entre os dois campos”, afirma Bouvet. “Agora, acontece realmente uma marca da política econômica escolhida por eles e é preciso que todos se alinhem a essa opção, pelo menos no governo. Essas duas linhas diferentes, e bem claras, devem se afrontar cada vez mais até 2017, nas próximas eleições.”

Quanto ao futuro do governo, Coutrot avalia que, a partir de agora, os franceses podem esperar por ainda mais cortes no orçamento das políticas sociais no país, para que o governo consiga atingir o sonhado objetivo de diminuir o déficit público. “A trajetória que está sendo tomada de maneira obstinada pelo presidente Hollande vai levá-lo a radicalizar ainda mais a política de corte dos gastos públicos e redução social. À medida que essa política vem fracassando, como temos visto nos últimos dois anos, a atitude dele tem sido não de relativizar essa política, mas sim de dizer que ainda não foi longe o bastante”, analisa, recordando que, na semana passada, o presidente reiterou que vai acelerar ainda mais o ritmo das reformas que já iniciou.
 

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