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Linha Direta

Filhos chineses têm dificuldade em cuidar dos pais idosos

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Nos próximos 35 anos, um terço da China será formada por idosos. Depois de mais de três décadas da política do filho único, a geração de jovens trabalhadores chineses sobrecarregados e o governo buscam juntos saídas para cuidar da crescente população com mais de 60 anos, parcela que deve chegar a mais de 220 milhões de pessoas no próximo ano, segundo dados da Universidade de Pequim. Mais de um quinto deles vive abaixo da linha da pobreza.

Com a política do filho único e a migração dos jovens em busca de trabalho, a situação dos idosos na China é considerada alarmante. Em um relatório da ONU, o índice de dependência passará de 11 em 2010 para 42 em 2050.
Com a política do filho único e a migração dos jovens em busca de trabalho, a situação dos idosos na China é considerada alarmante. Em um relatório da ONU, o índice de dependência passará de 11 em 2010 para 42 em 2050. REUTERS/Alex Lee
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Luiza Duarte, correspondente da RFI Brasil na Ásia

Mesmo se a situação tem melhorado para essa parcela da população, com pensões e acesso mais fácil a seguros de saúde, a remuneração que os idosos recebem ainda é modesta e faz com que eles dependam do apoio dos filhos, principalmente nas zonas rurais. Segundo uma declaração feita esse ano pelo ministério chinês do Trabalho, diante do envelhecimento da população, a China vai “inevitavelmente” aumentar sua idade mínima para a aposentadoria, que hoje está fixada em 60 anos para homens e 50 para mulheres. A medida foi anunciada como uma saída para melhorar as condições de vida dos idosos, já que os chineses vivem em média até os 75 anos.

Filhos responsáveis

Em Cingapura, um dos países com mais alta expectativa de vida do mundo, há quase 20 anos a legislação estipula que o bem-estar e o apoio financeiro dos idosos seja garantido por seus descendentes. Em 2013, a China seguiu o mesmo caminho e implementou uma lei que obriga filhos a visitarem "frequentemente" seus pais com mais de 60 anos e se assegurarem de suas necessidades materiais. No entanto, a frequência dessas visitas não é definida no texto. Os filhos podem ser processados e, caso se recusem a cuidar dos pais, devem pagar uma pensão mensal. Abrir mão da herança não dispensa ninguém dessa obrigação.

A necessidade da criação de um dispositivo jurídico para evitar o abandono dos idosos vem sendo debatida em Hong Kong. Na região administrativa chinesa, onde as pessoas vivem em média 83 anos, segundo os números do Banco Mundial, um em cada três idosos está abaixo da linha da pobreza. O alto custo de vida por aqui faz com que Hong Kong tenha a mais alta taxa da Ásia de idosos vivendo em abrigos.

Dificuldades em cuidar dos pais

O respeito pelas pessoas mais velhas é algo bastante enraizado na cultura chinesa, faz parte dos valores tradicionais do confucionismo, sistema filosófico milenar criado pelo pensador chinês Confúcio. Mas as famílias chinesas estão mudando e é cada vez mais difícil trazer para dentro de casa os pais, quando eles precisam de cuidados.

Desde 1979, com a criação da política do filho único, o país produziu uma geração de filhos que não tem com quem dividir a responsabilidade de cuidar de seus pais. Isso faz com que casais de filhos únicos tenham, por exemplo, que arcar sozinhos com os pais de ambos.

Mas a vida dos trabalhadores chineses nas grandes cidades é corrida. Eles precisam sacrificar o tempo livre para dar duro no trabalho, diante de poucas garantias trabalhistas e muita pressão pelo sucesso profissional desses filhos únicos, alvo de muita atenção e investimentos em educação. Além disso, muitos já têm seus próprios filhos para cuidar. Sobrecarregados, em geral, eles moram longe do lugar onde nasceram. A China se urbaniza a cada ano e vive um importante processo de migração interna.

No país, em 2009, 145 milhões de pessoas fizeram as malas para as grandes cidades, a grande maioria jovens. Com os pais morando em outra cidade, distante dos grandes centros urbanos, os chineses sofrem com a falta de dias livres para fazer o trajeto. No gigante asiático, segunda maior economia do mundo, os trabalhadores têm 21 folgas por ano somando feriados e dias úteis de férias remuneradas. Em Hong Kong, esse número sobe para 26, enquanto os brasileiros possuem 33 dias, de acordo com os dados da empresa de consultoria americana Mercer.
 

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