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Epidemia de ebola levanta questão do uso de medicamentos experimentais

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A decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de aprovar a utilização de tratamentos experimentais contra o vírus do ebola no oeste do continente africano trouxe novamente à tona a questão polêmica do uso de medicamentos experimentais em seres humanos. Se alguns acusam as autoridades de usarem as vítimas da doença como “cobaias”, outros defendem que, diante do avanço da epidemia, não era possível esperar fases de testes que podem levar até dez anos.

Especialistas criticam os que chamam os voluntários para os testes de medicamentos de "cobaias humanas".
Especialistas criticam os que chamam os voluntários para os testes de medicamentos de "cobaias humanas". isaminatel.wordpress.com
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Cada vez que os especialistas falam de “testes clínicos de medicamentos não-homologados”, a recordação de um triste episódio, datando de 2006, vem à mente de alguns cientistas. Na época, o hospital Northwick Park, na Inglaterra, administrou medicamentos experimentais em seis voluntários sadios. Os pacientes apresentaram sérios efeitos colaterais, que chegaram a provocar a amputação de membros. Desde então, a vigilância foi reforçada para que esse tipo de procedimento seja realizado apenas como último recurso.

No caso do ebola, que já matou mais de mil pessoas no continente africano, o procedimento utilizado é a aplicação do soro experimental ZMapp, um produto desenvolvido pela empresa farmacêutica norte-americana Mapp Biopharmaceutical. O medicamento é o mesmo que foi usado no médico Kent Brantly e na enfermeira Nancy Writebol, ambos americanos, contaminados pelo vírus na Libéria.

“Se esse medicamento tivesse sido usado primeiro na África, e não nos Estados Unidos, alguns grupos poderiam ter acusado as autoridades de terem usado os africanos como cobaias. Então eu acho positivo o fato de que o ZMapp tenha sido administrado primeiro em doentes nos Estados Unidos. Os dois pacientes tinham toda a competência e o conhecimento para aceitar o uso desse medicamento, pois faziam parte das equipes médicas”, comenta Christophe Longuet, membro do comitê ético do Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm).

Para ele, a iniciativa da OMS foi legítima. “Do ponto de vista ético, a Organização Mundial da Saúde teve razão ao se posicionar sobre o assunto. A questão agora é saber como essa recomendação vai ser implementada, já que estamos falando de recursos raros e ainda não sabemos quantas doses serão disponíveis, nem como elas serão distribuídas. A igualdade no acesso aos medicamentos vai ser um dos primeiros desafios na implementação”, analisa.

Situação brasileira

No Brasil, "qualquer projeto experimental tem que ser aprovado por um comitê de ética e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avalia o protocolo e aprova a pesquisa clínica com o novo produto”, explica João Massud, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica (SBMF). Mas no caso do ebola, esse processo pode ser acelerado. “Numa situação dessas, nós somos favoráveis a que o Ministério da Saúde aprove esse uso, porque se trata de uma situação de vida ou morte e não há produtos substitutos”, completa, lembrando que o governo já está estudando o uso do ZMapp caso vítimas da febre hemorrágica sejam registradas no país. 

Massud ressalta que as pesquisas clínicas são alvo de controles rigorosos, visando obedecer padrões internacionais, e critica os que acusam os laboratórios de usarem “cobaias humanas” ao lançarem testes de medicamentos. “Essa é uma expressão extremamente infeliz, porque os pacientes que se submetem a um tratamento experimental têm consciência do que estão se fazendo. Além disso, muitas vezes essa é a última chance que eles têm”, destaca.

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