Passada Copa, torcidas gays querem sair do armário no Brasil
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Nesta semana, a ONG norte-americana GLAAD endereçou à FIFA uma carta assinada por mais de 25 grupos LGBT e organizações de Direitos Humanos exigindo ações concretas contra a homofobia no esporte. "Em um momento em que o futebol tem maius fãs do que nunca em sua história, seu maior torneio, a Copa do Mundo, começa a ser conhecido como um evento antigay e essa narrativa só vai crescer nos jogos da Rússia e do Catar, dois países com recordes desastrosos no que diz respeito à comunidade LGBT", declarou a presidente da organização, Sarah Kate Ellis, citada em comunicado.
A carta-alerta parte se direciona mais às próximas Copas do que a essa. Mas o que ela deixou no Brasil, no que tange o combate à homofobia? Qualquer convívio intercultural como o que proporciona um evento de amplitude mundial como esse abre a mente das pessoas. Ainda mais quando as estrelas maiores do evento - os campeões - são progressistas. Desde 2011, o goleiro alemão Manuel Neuer diz que gostaria de ver os jogadores homossexuais "saírem do armário". Consagrados com o título, Schweinsteiger e Podolski ameaçaram um "selinho" na comemoração.
Talvez se a Copa tivesse acontecido um ano antes, pudesse ter sido evitada a patética polêmica em torno da foto do então corintiano Emerson Sheik beijando um amigo em um bar. Será que ela passaria corriqueiramente como passou a insinuação dos campeões do mundo? Talvez. Mas agora, com a volta do Campeonato Brasileiro, veremos se nossas torcidas estão mais dispostas a aceitar a diversidade dentro dos estádios.
Profusão de torcidas gay-friendly
Nas redes sociais, gostem ou não os mais homofóbicos entre os torcedores, as torcidas gays têm cada vez mais adeptos. Queerlorado do Inter, Bambi Tricolor do São Paulo, Galo Queer, do Atlético Mineiro e corintiana Gaivotas da Fiel são apenas algumas das torcidas que saíram do armário na internet e podem aparecer em breve em um estádio próximo de você. Talvez não tão em breve, infelizmente, mas é uma questão de tempo, espera Ana Trindade, uma das moderadoras da página da Palmeiras Livre no Facebook.
"Nós pretendemos um dia ir a um estádio com uma torcida organizada, que trabalhe contra a homofobia, sexismo e racismo no futebol", sonha a estudante. "Mas não vai ser uma coisa para agora". Isso porque uma parte das torcidas tradicionais não hesita em destilar seu ódio nas páginas de Facebook, com comentários que vão do mero recalque a ameaças de morte.
Resistência coral
Mas nem todos são tão reacionários. Alguns torcedores conscientes do pequeno - mas tradicional - Ferroviário de Fortaleza resolveram dar pontapé inicial. A torcida Ultras Resistência Coral resolveu assumir uma posição política à esquerda e eliminou dos cantos ofensas machistas ou homofóbicas. Algo que, na opinião de Coiote Flores, um dos ativistas por trás da Queerlorado, pode pavimentar o caminho para a invasão cor-de-rosa.
"Achei maravilhoso eles falando: 'nem todo mundo aqui é anarquista, nem todo mundo é de esquerda', mas eles tem uma causa comum que é essa da luta contra o racismo no futebol. E outras formas de preconceito também". De fato, os "Ultras" já estão nos estádios do nordeste e eliminaram todo preconceito de seu vocabulário ludopédico.
Quem sabe este tipo de iniciativa não faça os torcedores tradicionais entenderem que o alvo de seus mais pesados insultos são duas minorias - os homossexuais e as mulheres? Talvez, perceber o quão homofóbicos e misóginos são alguns dos gritos entoados pelas torcidades seja o primeiro passo para que tenhamos, no futuro, um estádio mais tolerante.
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