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Fato em Foco

Médico brasileiro fala de dificuldades para conter surto de ebola na África

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O risco de propagação da epidemia de ebola nos países vizinhos a Guiné, Libéria e Serra Leoa leva a Organização Mundial da Saúde (OMS) a realizar, hoje (2) e amanhã (3), uma reunião de urgência sobre o tema, com a participação de 11 ministros da Saúde de países africanos. Organizações humanitárias que atuam para impedir o avanço do vírus também foram convidadas. Cerca de 400 pessoas já morreram da doença – 70% dos contaminados acabam não resistindo.

Voluntários da Médicos Sem Fronteiras levam o corpo de uma vítima do ebola na Guiné.
Voluntários da Médicos Sem Fronteiras levam o corpo de uma vítima do ebola na Guiné. AFP PHOTO / SEYLLOU
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As principais vítimas são as crianças e as pessoas que já possuíam outras doenças graves, como a malária. O contágio de ebola é por via direta, através do contato com secreções do doente.

O médico brasileiro Paulo Reis embarcou nesta terça-feira para Serra Leoa para colaborar com a força-tarefa da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras. Essa é a segunda vez que ele viaja à região: na primeira, passou dois meses na Guiné, quando o surto tinha diminuído.

Apesar da experiência de quase 10 anos em missões de emergência sanitária - incluindo a epidemia da doença em Uganda -, Reis reconhece que o trabalho não é fácil. “Você vê muitos pacientes morrerem, o que é não é uma coisa que a gente espera quando trabalha num serviço de saúde, embora a gente saiba que o ebola é assim. Não interessa o que você faça, você sabe que a maioria dos pacientes vai acabar falecendo”, relata. “Também é muito difícil por causa do equipamento que a gente precisa usar para ter contato com o paciente. Não temos um contato direto: é tudo através de uma roupa completamente vedada. É muito desgastante e cansativo.”

O médico avalia que o risco de propagação do ebola foi subestimado pelas autoridades – ele lembra que os esforços para conter o vírus se reduziram quando o número de casos começou a diminuir, em maio. A Organização Mundial da Saúde considera essa é “a epidemia mais grave” desde o primeiro surto, em 1976, no antigo Zaire, atual República Democrática do Congo. Agora, há pelo menos 60 focos da doença nos três países atingidos.

Riscos para outros continentes

As chances de contágio para outros continentes, no entanto, são bastante reduzidas. Reis afirma que, mesmo se isso ocorresse, o impacto seria controlado rapidamente.

“Na região, com certeza o risco é muito grande porque as pessoas viajam muito e não existe uma forma de controle efetivo. Não tem a consciência de evitar uma viagem se você está doente: pelo contrário, a tendência é fingir que não estão doentes para poderem viajar”, conta o voluntário. “Mas para fora da região, o risco é bem menor porque existem controles nos aeroportos e em geral as pessoas que pegam avião não estão em contato direto com as localidades onde foram detectados casos.”

Reis destaca que a maior dificuldade para conter o vírus é a falta de informação e educação das populações atingidas. “Como foi a primeira vez que teve ebola nessa região, a gente encontra muita dificuldade para passar informações. Há lugares onde eles recusam a nossa entrada, há pacientes escondidos, outros que fogem para o mato”, afirma. “O pessoal que faz ritos religiosos e promove a educação está se esforçando, afinal nessas áreas mais isoladas não há um meio de comunicação que atinja toda a vila.”

Divulgação de informações

Países vizinhos, como Guiné Bissau, já se mobilizam para divulgar informações sobre a doença e métodos de prevenção, como lavar constantemente as mãos e evitar qualquer contato com pessoas com febre. O representante da OMS no país, Sidu Biai, diz que conta com as rádios comunitárias para alertar a população.

“Todas as regiões do país têm rádios comunitárias, que têm uma audiência muito vasta. Ou seja, a arma mais poderosa neste momento é a comunicação social”, observa. “Se as pessoas estão informadas sobre os perigos da doença e as medidas de prevenção, elas fazem o que é necessário para evitar o contato com o vírus.”

A última epidemia de ebola ocorreu em Uganda, em 2000, e matou 224 pessoas. A primeira morte do surto atual foi registrada em dezembro de 2013.
 

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