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"Snowden colocou a espionagem sob os holofotes", diz analista

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Há um ano, Edward Snowden, antigo membro da Agência Nacional de Segurança Americana (NSA), causava um terremoto diplomático mundial ao revelar ao jornal britânico The Guardian a existência de milhares de documentos secretos que provavam que os Estados Unidos espionavam cidadãos, governos e até os telefones de chefes de Estado de diversos países, entre eles, os da presidente Dilma Rousseff. Neste programa,  analisamos a situação pessoal de Snowden, há dez meses na Rússia e em busca de asilo, e o que mudou na espionagem internacional depois de suas denúncias.

Edward Snowden durante entrevista ao jornalista Brian Williams do programa  "NBC Nightly News", em foto de 28 de maio de 2014.
Edward Snowden durante entrevista ao jornalista Brian Williams do programa "NBC Nightly News", em foto de 28 de maio de 2014. REUTERS/NBC News/Handout via Reuters
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Considerado um traidor da pátria pelos Estados Unidos, Edward Snowden tentou fugir para o Equador, na América do Sul; sem passaporte, acabou bloqueado em Moscou, onde se encontra há dez meses. Ele continua buscando asilo em outro país.

Snowden e o Brasil

O ex-agente da NSA declarou em sua primeira entrevista à mídia brasileira, em 1° de junho, que "adoraria viver no Brasil" e garante que até fez um pedido formal, o que o Itamaraty nega. Mas para Rubens Antonio Barbosa, que foi embaixador do Brasil em Londres e em Washington, a possibilidade de Snowden conseguir asilo político no Brasil é remota.

"Eu acho que dificilmente o Brasil aceitará conceder o asilo. Esta é a posição: o Snowden falou que pediu e o ministro do Exterior falou que o pedido não foi feito porque se tivesse sido, seria examinado. Eu, pessoalmente, acho que dificilmente o Brasil aceitará. Você me pergunta por quê? Porque fazendo uma análise pragmática, muito prática, objetiva...O que o Brasil teria a ganhar dando asilo a ele? O que teria a ganhar?", indaga o embaixador, para quem a espionagem sempre existiu e vai continuar a existir.

"O Snowden não mudou nada, a espionagem existe desde o Cavalo de Troia...Há dois mil anos que existe espionagem. E não vai mudar. Muda a ênfase, a forma, agora é a cibernética, mas a espionagem industrial e política não mudou nada e não vai mudar no futuro, vai apenas ficar cada vez mais sofisticada", conclui Rubens Barbosa.

Antes e depois de Snowden

O escritor português e especialista em espionagem internacional, José Manuel Diogo, autor do livro "As Grandes Agências Secretas", da editora Clube do Autor, tem uma visão oposta ao papel do ex-agente no mundo da espionagem. Para ele, Snowden foi um divisor de águas na questão da transparência do funcionamento dos serviços de Inteligência.

"O que mudou para sempre com as revelações de Edward Snowden foi a forma como os serviços secretos são vistos pelas pessoas. E isto marca uma época: antes e depois de Snowden. Antes dele, muita pouca gente sabia o que faziam os serviços secretos; depois dele, a sociedade de muitos países tomou consciência. As pessoas, os governos, as empresas, não davam importância a isso", diz o especialista, observando que Snowden inaugurou uma era de transparência em que os segredos deixaram de ter o mesmo conceito que tinham antes. "Os segredos, depois de Snowden, não serão mais vistos da mesma maneira", diz José Manuel Diogo.

Analisando que Snowden colocou as agências secretas sob a luz dos holofotes, José Manuel Diogo acha que esses serviços têm,a partir de agora, novos desafios para continuar seu trabalho estando, ao mesmo tempo, na mira das mídias.

"Espionagem é espionagem, é o negócio de roubar segredos. (...) O que vai acontecer daqui para a frente é que as agências secretas terão que ter cuidado com duas coisas: com a tecnologia que utilizam para encontrar seus segredos; e com a forma com que lidam com suas próprias imagens, hoje em todas as mídias, algo novo que surgiu com Snowden", diz o especialista.

Dilma e Estados Unidos: do gelo...

Depois das revelações de que seu telefone e os de diversos assessores do seu governo estavam "grampeados" pelos serviços secretos americanos, a presidente Dilma Rousseff cancelou sua viagem de Estado ao país, marcada para 23 de outubro do ano passado. O fato foi um balde de água gelada nas relações bilaterais.

Revoltada, no dia 24 de setembro, um mês antes da visita anulada, ela fez um discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU em que criticou o governo norte-americano com bastante firmeza e severidade, e cobrou um papel mais relevente da ONU na  regulamentação da internet.

...ao reaquecimento 

Nessa terça-feira (3), a presidente deu o primeiro sinal de abertura aos Estados Unidos desde o ano passado. Foi durante um jantar para correspondentes de mídias estrangeiras em Brasília e o escolhido para a exclusiva foi justamente o jornalista do New York Times. Dilma admitiu durante a entrevista "estar certa de poder retomar as relações com os Estados Unidos de onde elas pararam" e afirmou que a visita de Estado adiada em 2013 pode ser remarcada.

O vice-presidente norte-americano Joe Biden, interlocutor central de Dilma antes do caso NSA, deve rever a presidente durante o Mundial. Ele vai assistir ao jogo da seleção americana contra a de Gana, em Natal. Este pode ser um primeiro drible para o Brasil e Estados Unidos encontrarem, com toda diplomacia, um bom meio de campo.

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